Bipolar
Um bom diagnóstico para os mercados nesta quarta-feira? Distúrbio bipolar.
Todo mundo esperava a pesquisa Census para ver potenciais reflexos da Copa sobre a corrida eleitoral e inevitáveis desdobramentos sobre o rali das ações de estatais; mas ela foi adiada. O que nos resta?
Procurar um meio-termo entre:
(a) a boa referência dos dados de PIB e produção industrial chinesa,
(b) as afirmações da presidente do Banco Central americano de que a subida da taxa de juros por lá pode vir antes do que o pessoal está esperando.
O que o pessoal está esperando?
Pesquisa recente do Federal Reserve de Nova York com agentes de mercado indica que a maioria das instituições prevê o início do ciclo de alta dos juros americanos no terceiro trimestre de 2015 e o seu fim no segundo semestre de 2017, quando a taxa deverá estar no nível de 3,50%.
Portanto, ao assumir que os juros podem subir já a partir do segundo trimestre do ano que vem, e reconhecer que os programa de estímulos serão encerrados agora em outubro, Janet Yellen jogou água no chope dos farristas da liquidez...
... aqueles que estão adorando a mamata de dinheiro farto (programas de estímulo) e barato (juros zero).
Paradoxo pouco é bobagem, essa é outra para intensificar o distúrbio: com o fim do carnaval batendo à porta, mais do que nunca as notícias ruins da economia americana serão comemoradas pelo mercado.
7,5 a 2 para a China
Outro lado da moeda, os mercados comemoram os indicadores da China, que colocam ações da Vale entre os principais destaques de alta do dia.
O gigante asiático cresceu 7,5% no segundo trimestre, ligeiramente acima das projeções do mercado, que estavam na casa de 7,4% de crescimento. Interessante que o dado veio rigorosamente no teto do intervalo que presidente Xi queria: entre 7,0% e 7,5%.
Neste ponto, nem preciso mais falar - já falando - sobre a baixa credibilidade dos dados chineses.
De toda forma, seja pouco mais ou pouco menos, não menos interessante é ver o pessoal (do alto do 1% de crescimento e quase 7% de inflação da economia brasileira), levar a ação da Vale (VALE5) a uma queda de 22% em 2014 por conta da exposição da companhia à China.
Quem diria, ela bombou!
Melhor do que a Vale, hoje, só a ação da Oi (OIBR4).
Lembra da tragédia de governança corporativa, que abordamos em diversos capítulos nos M5M da semana passada?
Pois a novela terminou mesmo no calote do Banco Espírito Santo, que não conseguiu honrar a obrigação de 897 milhões de euros que tinha com a Portugal Telecom (que recém se fundiu à brasileira Oi).
Isso é obviamente um fator de risco e tanto para a Oi e para a fusão...
Por outro lado, a brasileira conseguiu novos termos para o acordo com os portugueses: a participação da Portugal Telecom na Oi será reduzida de 38% para 21%, por um prazo de até seis anos (até ela bancar os 897 milhões de euros).
Com isso, as ações da Oi disparam: 15% em um dia, está bom para você?
Que tal 216% em 2 dias?
Não recomendo as ações da Oi há um bom tempo, e sigo não recomendando que você a compre, mesmo com os novos termos da fusão.
Como eu me sinto, vendo que elas disparam 15% hoje?
Muito confortável, vendo que, ainda assim, elas caem mais de 50% em 2014 e vinham da mínima histórica.
Além dos seguidos episódios de desrespeito às boas práticas de governança corporativa, a empresa precisa desalavancar o seu balanço em um cenário extremamente adverso, com pressão do regulador por melhora dos serviços (mais investimento em malha) e inserida em um “dying business”, com a telefonia fixa morrendo e a telefonia móvel perdendo espaço para dados.
Mais legal que dá para ganhar bastante dinheiro mesmo assim. Embora não gostemos dos fundamentos da Oi, parecia um tanto óbvio que suas ações enfrentariam forte volatilidade esta semana. Como nos expomos a isso? Incluindo opções de Oi em nossa Carteira Semanal de Opções. De segunda-feira para cá, elas sobem 216%.
O Banco dos BRICs
Poxa, já estamos no final do M5M e até então ignorei a criação do Banco dos Brics, e potencial marco da ascensão das economias emergentes??
Menos, menos... A instituição, com capital inicial de US$ 50 bilhões, é um fundo de reserva que pode beneficiar não só os integrantes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Não trata-se de um órgão para equilíbrio das condições de investimento e política econômica, até porque há enormes discrepâncias na realidade e política econômica entre os integrantes.
Além disso, se desconfiamos da credibilidade de dados da China, que dizer de confiar as reservas aos chineses, que hospedarão o banco, e a presidência da entidade aos indianos?
Bom, se isso despertou qualquer rusga xenófoba em você, fique tranquilo: pense que poderiam ter dado aos russos...
PS.: Encerro com um pedido de desculpas. Não consegui responder à enxurrada de emails com questionamentos sobre a tese do Fim do Brasil. O volume ficou muito grande e exigiria esforço sobrehumano. Recomendo a leitura integral da argumentação aqui. Ela é completa e esclareçadora.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.