O Banco Central deu ontem mais uma indicação de que pode acelerar o ritmo de queda da taxa básica de juros em maio, para 1,25 ponto percentual, ao sinalizar a rolagem integral do estoque de contratos de swap cambial em junho, o que tende a ampliar a pressão de baixa no dólar, que ontem já fechou cotado a R$ 3,10. Essa notícia abre espaço para a percepção crescente de que a autoridade monetária deseja levar a Selic a 10% no fim deste mês, o que tende a caminhar cada vez mais rumo a um consenso.
Os recentes indicadores domésticos de inflação e atividade reforçam essas chances - diante de um processo desinflacionário em curso e de dados não tão favoráveis à consolidação do crescimento econômico - amparadas ainda no otimismo quanto ao apoio do Congresso em relação às reformas estruturais propostas pelo governo. Aliás, nada parece ser capaz de tirar o radar dos mercados da cena política.
Os investidores estão à espera de novidades em relação à votação das reformas na Câmara e no Senado e a expectativa é de que o PMDB feche questão a favor da Previdência. Se o partido do presidente Michel Temer puxar a fila do apoio formal às novas regras para aposentadoria, outros da base aliada, como o PSDB e o DEM, tendem a fazer o mesmo. Aí, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, consegue definir o cronograma de votação no plenário da Casa.
Por enquanto, não faz sentido o governo marcar as datas, já que o total de votos favoráveis entre os deputados ainda é inferior aos 308 necessários. O Palácio do Planalto estima que, com 320 votos, é possível colocar a reforma em pauta, mas ainda é preciso negociar mais para garantir maior margem de segurança e uma base mais sólida. No placar da imprensa, os votos contrários somam 225 e apenas 82 são a favor.
O que já pode ser marcado é o julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O relator da ação, Herman Benjamin, liberou o andamento do processo, que deve ter continuidade pelo presidente da Corte, ministro Gilmar Mendes. No parecer final, o Ministério Público pediu a cassação do mandato de Temer e inegibilidade da ex-presidente Dilma Rousseff por oito anos.
Enquanto isso, no Senado, o governo quer acelerar a tramitação das mudanças nas leis de trabalho, cuja proposta está repleta de tópicos estranhos, que fazem alusão até ao trabalho escravo. Um discurso mais apaziguado entre os caciques do PMDB começa a surgir, o que abre espaço para agilizar a votação da reforma trabalhista antes ainda da previdenciária. Hoje, acontece a votação do projeto de recuperação fiscal dos Estados.
Entre os indicadores econômicos, sai o primeiro Índice Geral de Preços (IGP) de maio, o IGP-10 (8h), que deve intensificar a queda para 1%, de -0,76% em abril, reforçando o ambiente favorável da inflação. No mesmo horário, sai uma nova prévia deste mês do índice de preços ao consumidor.
Depois, às 11h, é a vez de indicadores antecedentes e coincidentes da economia no mês passado.
No exterior, saem dados de atividade e inflação na Europa, com destaque para o índice ZEW de sentimento econômico na Alemanha e também para a segunda leitura do Produto Interno Bruto (PIB) na zona do euro no primeiro trimestre deste ano. Já nos Estados Unidos, as atenções se voltam para a produção industrial em abril, às 10h15. Antes, às 9h30, serão conhecidos números sobre o setor de construção civil.
À espera desses números, o dólar é o grande perdedor nos mercados internacionais, após a revelação pelo jornal Washington Post, de que o presidente dos EUA, Donal Trump, divulgou informações altamente secretas sobre o Estado Islâmico a autoridades russas. A Casa Branca negou as informações e os principais assessores de política externa de Trump se apressam em conter os danos políticos de tal notícia.
É bom lembrar que o presidente norte-americano já enfrenta questionamentos desde a demissão do diretor do FBI James Comey, um dos funcionários mais bem respeitados do sistema legal dos EUA, que andava preocupado quanto à suposta ingerência russa no processo eleitoral do país. Somadas, essas questões levantam dúvidas quanto à capacidade de Trump cumprir sua agenda econômica e elevam preocupações em relação a sua administração.
Como resultado, o dólar sofre pressão de venda e o euro figura entre os beneficiados, sendo negociado no maior nível desde a eleição de Trump, em novembro, ao passo que o iene japonês e o peso mexicano também se fortalecem. O enfraquecimento da moeda norte-americana também favorece o rali do petróleo, que sobe pelo quinto dia, em meio à disposição de sauditas e russos em estender os cortes de produção da commodity.
Nas bolsas, o sinal positivo prevaleceu na Ásia, à exceção de Hong Kong (-0,1%), embalados pelo mais recente recorde de alta do índice acionário norte-americano S&P 500, que fechou acima dos 2,4 mil pontos ontem pela primeira vez na história. Nesta manhã, os índices futuros em Wall Street mostram fôlego mais curto e estão na linha d'água, o que prejudica o desempenho das praças europeias, antes dos dados do dia.