Depois de alcançar o patamar de US$ 130 por barril no primeiro trimestre do ano passado, diante da eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia, o petróleo surpreendeu durante os últimos meses, recuando fortemente e hoje negocia em um patamar próximo do fechamento do ano passado.
“Redução” do petróleo disponível. Depois da invasão da Ucrânia, muitos países deixaram de comprar o petróleo produzido na Rússia, responsável pela terceira maior produção de petróleo do mundo, apenas atrás dos Estados Unidos e Arábia Saudita.
Essa medida apertou a oferta de petróleo no mundo e até o momento não temos uma grande visibilidade em relação à retirada de tais sanções, o que tende a manter o preço do barril de petróleo elevado, ao contrário do que temos visto recentemente.
Empresas do setor investindo menos
Além de grandes países deixando de comprar o petróleo russo, as grandes empresas petrolíferas dos Estados Unidos não aumentaram os investimentos ao longo dos últimos anos na extração de petróleo.
O gráfico abaixo mostra o percentual de investimentos em relação ao fluxo de caixa operacional gerado pelas empresas de energia que compõem o índice S&P 500.
A linha azul escura mostra que atualmente as empresas investem cerca de 30% do caixa gerado nas operações em novos projetos, o menor patamar em muitas décadas.
Sem investimento em novos projetos, a oferta de petróleo tende a ficar limitada e a reversão dessa tendência, mesmo que se inicie hoje, deve demorar a acontecer, dadas as características do setor.
Quando olhamos para a quantidade de sondas de perfuração ativas nos Estados Unidos, também podemos notar que não houve uma evolução forte, ao menos não tão forte quanto o esperado diante do terceiro maior produtor ter sido colocado fora do jogo por enquanto.
Dados da Baker Hughes mostram que a quantidade de sondas de petróleo ativas nos Estados Unidos em dezembro era de 620, comparada a 475 um ano atrás.
Sem um incremento significativo na quantidade de sondas, fica difícil extrair petróleo para fazer frente à queda na oferta por conta da retirada da Rússia do mercado, o que tende a suportar cotações de petróleo mais altas no médio prazo, até que isso mude.
Reservas em queda livre
Na esperança de mitigar os efeitos do aumento do preço do petróleo no ano passado – que se reflete rapidamente nas bombas dos postos nos Estados Unidos – o governo do país decidiu colocar no mercado uma boa parte de suas reservas estratégicas (Strategic Petroleum Reserve - SPR).
Como mostra o gráfico abaixo, o governo norte-americano se desfez rapidamente de grande parte suas reservas de petróleo, que hoje estão no menor patamar desde o início da década de 1980.
Mesmo quando olhamos para o estoque total de petróleo nos Estados Unidos (Commercial & SPR), também observamos que o indicador está no menor patamar desde o início da década de 1980.
O governo dos Estados Unidos já se pronunciou publicamente sobre o tema e deixou claro que possui a intenção de recompor seu estoque estratégico na faixa de US$ 70 por barril, o que tende a limitar o potencial de desvalorização no médio prazo.
Tal movimento deve ser inclusive benéfico aos cidadãos norte-americanos, visto que, na média, as reservas de petróleo foram colocadas no mercado perto dos US$ 90 por barril.
China de volta
Depois de alguns anos sob medidas bastante restritivas para a população em geral, o que prejudicou a economia do país, a China finalmente decidiu flexibilizar radicalmente sua política de Covid zero e desde o final do ano passado já anunciou diversas medidas mais favoráveis à circulação de pessoas, o que deve colocar a economia em um ritmo normal ao longo dos próximos meses.
Sendo hoje a segunda maior economia do mundo, com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, a retomada da circulação e da economia chinesa como um todo pode colocar uma pressão adicional na demanda por petróleo, principalmente no segundo semestre, quando a economia pode estar totalmente funcional novamente.
Como mostra o gráfico abaixo, a China tem condições de demandar durante este ano um adicional de cerca de 3 milhões de barris por dia, ou cerca de 4% da produção mundial.
O que pode manter o petróleo nos níveis atuais?
Temos alguns argumentos que podem defender a cotação do barril de petróleo nos níveis atuais ou inferiores, sendo eles: 1) recessão econômica nos Estados Unidos e Europa durante este ano; 2) transição da matriz energética para um modelo mais verde e renovável; 3) aumento da cota de produção por parte da Opep.
Acompanhamento do cenário
Nosso trabalho é encontrar boas oportunidades de investimento ao redor do mundo em diferentes classes de ativos, não somente ações. Pode ser que o petróleo seja uma boa opção de investimento durante este ano, por isso, estamos acompanhando de perto o cenário econômico e geopolítico.
Até a próxima semana!