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Eficiência de mercado ou finanças comportamentais?

Publicado 04.10.2024, 10:00
Atualizado 05.10.2024, 15:55
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Se você leu essas falas de Eugene Fama e Richard Thaler, pode imaginar que são inimigos ferrenhos. No entanto, a verdade está longe disso. Fama e Thaler são professores da mesma instituição, a renomada Universidade de Chicago, e são conhecidos por dividirem momentos amigáveis nos campos de golfe. Porém, por trás dessa amizade cordial, existe uma tensão acadêmica real. Fama é a principal defensora da teoria dos mercados eficientes, enquanto Thaler lidera o campo das finanças comportamentais. Essas duas correntes de pensamento têm se confrontado por décadas, como um clássico embate Brasil vs. Argentina no mundo das finanças.

De um lado, o Time Mercados Eficientes sustenta que os preços refletem todas as informações disponíveis, o que torna impossível obter retornos ajustados ao risco consistentemente superiores ao longo do tempo. Essa escola de pensamento defende que qualquer tentativa de superar o mercado envolve simplesmente a exposição a fatores de risco mal identificados ou pura sorte. Em outras palavras, para Fama e seus seguidores, o sucesso em investimentos de longo prazo é uma questão de probabilidades, e não de habilidade.

Um exemplo emblemático dessa visão é o famoso estudo "Buffett's Alpha", que descompôs o histórico de sucesso de Warren Buffett, atribuindo seus resultados a fatores como o tamanho das empresas e a lucratividade, sugerindo que a habilidade do megainvestidor seria, na verdade, uma ilusão de sorte bem disfarçada. Esse estudo, embora não negue o talento de Buffett, minimiza sua influência pessoal, tratando o desempenho como resultado de fatores externos ao seu controle.

No entanto, o Time Finanças Comportamentais discorda. Para Thaler e seus colegas, os mercados nem sempre são perfeitamente eficientes, e os investidores estão longe de ser completamente racionais. Eles argumentam que vieses emocionais e cognitivos influenciam as decisões dos investidores, criando ineficiências de mercado que podem ser exploradas para gerar retornos ajustados ao risco superiores. Nesse cenário, o sucesso de Buffett é visto como uma prova de sua habilidade incomum em tomar decisões baseadas em informações únicas e comportamento equilibrado, em vez de pura sorte.

Esse debate não é apenas teórico. Ele tem impactos diretos no mundo real dos investimentos. A Dimensional Fund Advisors (DFA), fundada por David Booth, ex-assistente de Fama, aplica a teoria dos mercados eficientes em sua gestão de ativos. A DFA inclina seus portfólios para empresas pequenas e baratas, acreditando que essas características refletem uma maior expectativa de risco. Fama, inclusive, serve como consultor da empresa, garantindo que seus princípios acadêmicos sejam incorporados à estratégia da gestora.

Por outro lado, a Fuller & Thaler Asset Management, cofundada por Richard Thaler, busca explorar os vieses comportamentais dos investidores para superar o mercado. A empresa acredita que as reações exageradas às más notícias e a subestimação das boas criam oportunidades que podem ser aproveitadas para gerar retornos superiores. Assim como a DFA, a Fuller & Thaler também inclina seus portfólios para fatores como valor e tamanho, mas com uma abordagem voltada para o comportamento dos investidores.

A competição entre essas duas filosofias se reflete nos resultados de seus fundos de investimento. O portfólio de pequenas empresas da DFA e o fundo Behavioral Value da Fuller & Thaler competem diretamente, ambos com o Russell 2000 Value Index como referência. Entre dezembro de 1998 e julho de 2024, o fundo da Fuller & Thaler superou o da DFA em uma taxa anualizada de 0,91%. Esse resultado parece sugerir uma vitória das finanças comportamentais, mas muitos críticos argumentam que os números não consideram adequadamente o risco envolvido.

Para resolver essa questão, foi aplicado o Alpha de Jensen, que ajusta os retornos ao risco. Mesmo após esse ajuste, o Time Finanças Comportamentais continuou a apresentar resultados superiores, como demonstrado em diversas métricas de retorno ajustado ao risco.

Market Efficiency vs. Behavioral Finance: Which Strategy Delivers Better Returns?

Esse resultado deveria fazer os defensores da eficiência de mercado reconsiderarem suas crenças ? Talvez. No entanto, é provável que muitos permaneçam firmes em suas convicções, acreditando que a racionalidade dos mercados é um princípio inquestionável. O que podemos aprender com esse embate é que, tanto nos mercados quanto na vida, a racionalidade pura é muitas vezes um ideal inalcançável. O comportamento humano é cheio de nuances, e reconhecer essas nuances pode ser a chave para desbloquear melhores decisões de investimento.

Jensen's alpha vs Russell 2000 Value Index

Risk adjusted returns for behavior vs efficiency

Em última análise, seja você um adepto da eficiência dos mercados ou um defensor das finanças comportamentais, o debate entre Fama e Thaler nos lembra que, no coração das finanças, está a eterna busca por compreender o comportamento humano. E, assim como nos mercados, talvez nunca haja uma resposta definitiva sobre qual lado tem razão. Afinal, a incerteza é o que torna os mercados tão fascinantes e desafiadores.

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