No mundo dos investimentos, um dos principais fatores aos quais os envolvidos devem estar atentos é à volatilidade de mercado, traduzida pela flutuação dos valores dos ativos.
Apesar de ela representar risco para quem aplica, também pode ser uma aliada da rentabilidade e do lucro no ganho de capital, pois, quanto maior o risco, maior é a possibilidade de ganhos. Por outro lado, quanto menor é a volatilidade, menor a probabilidade de haver ganhos expressivos.
Como pôde perceber, assumir investimentos mais ou menos voláteis dependem do perfil do investidor e dos resultados esperados dentro de cada prazo. Mas o assunto é ainda um pouco mais complexo. Então, acompanhe-nos e saiba mais sobre esse importante fator dos investimentos!
O que é a volatilidade de mercado?
Uma das características do mercado financeiro é a oscilação do valor das opções de investimento para mais ou menos em relação ao preço médio delas, o que é chamado de volatilidade.
Isso ocorre por vários motivos. Dependendo do tipo de aplicação, mais ou menos fatores causam a flutuação. Por isso, nem todas as opções têm os mesmos riscos e volatilidade igual.
Aliás, como já dissemos, a volatilidade não significa somente risco, e não faz apenas os investidores perderem dinheiro, pois a flutuação pode ser maior para o lado positivo do que as oscilações que ocorrem para o negativo.
Um ativo muito volátil também pode ser bom para a estratégia de aplicação se o investidor observar bem suas flutuações. Assim, ele sabe quais momentos são os melhores, por exemplo, para comprar e vender determinada ação e ter lucro.
A análise da volatilidade ainda pode ser aliada da diversificação na montagem da carteira de investimentos. Além de prever ganhos e se proteger contra perdas, o investidor pode adquirir produtos financeiros que oscilam menos para manter no longo prazo e outros mais voláteis e arriscados para ter lucros maiores, os liquidando mais rapidamente.
Volatilidades histórica e implícita
A volatilidade de mercado no geral pode ser dividida em dois tipos: histórica e implícita. A histórica é aquela constatada quando se observam as flutuações de um ativo financeiro em determinado período passado.
A implícita, também importante, é a projeção que se tem como resultado das oscilações passadas. Ou seja, não é garantido que a volatilidade implícita será um reflexo da histórica, mas é a possibilidade existente para avaliar um investimento e se ter uma ideia do que se pode esperar dele.
Existe, ainda, a volatilidade real, que é um conceito útil apenas para o presente, analisando os motivos dela. No mais, em outros casos, ela já se tornou histórica ou ainda é implícita e não é conhecida.
Quais riscos financeiros mais influenciam a volatilidade?
O risco financeiro é a possibilidade que existe de o investidor não ter os resultados esperados em uma aplicação e até mesmo ter perdas, dependendo do tipo de ativo adquirido. Dentro do risco financeiro, no geral, podemos destacar riscos sistemáticos e não sistemáticos.
Os primeiros são fatores como aumento de taxa de juros no país e instabilidades político-econômicas. São fatores ligados ao mercado no geral, não apenas a investimentos específicos, com origem no sistema econômico nacional ou internacional.
Os riscos não sistemáticos referem-se a investimentos em particular, como baixa de lucro de uma companhia que vende ações. É possível minimizar esses riscos diversificando a carteira de investimentos, pois os problemas relacionados a uma empresa ou ativo podem não afetar outras aplicações, como ocorre com a influência dos riscos sistemáticos.
Quais ativos oferecem oscilação de mercado?
Apesar de a volatilidade ser relativa a todo mercado financeiro, os ativos de renda variável são os que mais oferecem oscilações. Isso por causa dos fatores que os influenciam e pela forma como os ganhos dos investidores são gerados.
Por exemplo: títulos do Tesouro Nacional, públicos e da renda fixa apresentam juros pré, pós-fixados e híbridos. Em todos esses formatos, é possível saber ou, pelo menos, ter noção da rentabilidade logo na aquisição dos títulos, além de o valor deles não mudar e de o formato de rentabilidade manter-se, apenas sendo influenciado por indicadores de mercado quando os juros são balizados por eles.
Títulos públicos apenas têm seus valores modificados pelo passar do tempo, pois são investimentos de longo prazo, e, quanto mais perto se está do vencimento deles, menor é o ganho. Assim, por exemplo, um título que vale hoje R$ 500 e pagará R$ 1 mil em 2026 será vendido por aproximadamente R$ 800 em 2023, pois estará mais próximo da liquidação prevista e, logo, o menor tempo de manutenção do ativo gerará menos retorno.
Ativos de renda variável
Já os ativos da renda variável contam com muito mais possibilidades de oscilar. Por exemplo: uma empresa emissora de ações pode fazer o valor dos seus papéis subirem ou descerem quando divulgar o lucro de um trimestre. Mas isso também poderá ocorrer por conta de uma decisão do governo que afete as suas operações e suas finanças, como taxação maior para importações ou exportações.
Outro tipo de investimento da renda variável pode ser feito por meio dos fundos imobiliários, comprando quotas do total de um deles. Nesse caso, o valor das quotas pode flutuar conforme acontecimentos ligados aos patrimônios, que são o lastro desses ativos financeiros.
Demais ativos também oferecem oscilações relacionadas a movimentos de mercado, políticos ou até da economia internacional. Ao investir em aplicações referentes a moedas estrangeiras, por exemplo, o investidor pode ganhar ou perder, conforme os movimentos de valorização da moeda.
Ouro
O mesmo tipo de oscilação atinge o ouro como ativo financeiro, que é apenas um dos investimentos ligados diretamente a mercadorias do mercado financeiro. Seu valor é definido pela cotação internacional da pedra, mas ele também pode subir conforme a procura pela aplicação. Ao mesmo tempo, por uma especificidade do ativo financeiro, ele pode se valorizar em momentos de incerteza do mercado por sua segurança.
Como a diretoria de Mercado de Capitais e Investimentos do Banco do Brasil (SA:BBAS3) afirmou em entrevista ao Terra, o preço do ouro sobe diante de instabilidades pela alta procura de investidores que aplicam nele com forma de diversificação e proteção contra essas ocorrências.
Ou seja, todos os investimentos sofrem oscilações, em especial os pertencentes à renda variável. Mesmo assim, antes de investir, é preciso analisar as opções individual e profundamente para entender como a volatilidade de mercado as afeta de maneiras específicas.
O que é o Índice Sharpe?
Esse índice leva em conta a volatilidade de mercado e outros fatores de um fundo ou uma carteira de investimento para fazer uma equação entre o potencial de retorno e o risco inerente. Quanto mais alto (e positivo) for o número do resultado, melhor é a relação retorno-risco do fundo ou da carteira.
Isso é feito com o uso de números relacionados ao mercado e à aplicação em questão, levando em conta longos períodos pelos quais os investimentos podem ter passado por altas e baixas. Assim, o resultado obtido é mais confiável.
Veja um exemplo de cálculo para o período de 5 anos:
- (retorno – taxa sem risco) ÷ volatilidade;
- retorno: 82,5% (média de 16,5% ao ano);
- taxa livre de risco (CDI): 70,1% (média de 14,02% ao ano);
- volatilidade: 12,8%;
- (82,5 – 70,1) ÷ 12,8;
- 12,4 ÷ 12,8 = 0,97.
O resultado obtido no exemplo é considerado excelente, pois, em termos gerais, o índice de 0,50 pode ser considerado bom para um fundo ou uma carteira.
Ainda em relação ao resultado, já afirmamos que, quanto mais alto, melhor. Porém, é muito difícil que um fundo ou uma carteira atinjam ou ultrapassem 1,5. Logo, procurar por uma opção com índice extremamente alto pode não ser uma boa estratégia e apenas tomar tempo. Por outro lado, pode ser seguro evitar carteiras ou fundo com índices muito baixos ou até negativos.
Na conta, é sempre importante utilizar para comparação uma opção que tem risco muito pequeno, o que é chamado de taxa livre de risco, sem risco ou risco zero. No caso, utilizamos o CDI, um indicador aplicado na rentabilidade de investimentos da renda fixa com juros pós-fixados — opção muito mais segura que alguns fundos e qualquer ativo da renda variável.
Aliás, logo no começo do cálculo, o uso da taxa livre de risco já deixa claro ao investidor se é a melhor decisão investir na opção que está sendo comparada. Isso porque, se a taxa sem risco oferecer retorno superior ao da aplicação com maior risco, não faz sentido investir nela para ter rentabilidade menor e ainda menos segurança.
Já a volatilidade é utilizada porque representa um dos principais riscos de qualquer aplicação: o risco de mercado, associado a fatores internos e externos a ele que influenciam nos valores dos ativos.
Como calcular a volatilidade?
Em três passos, utilizando um cálculo relativamente complexo e técnico, é possível calcular a volatilidade de um ativo e também prever como ele pode se comportar no futuro.
Agora, explicaremos cada um deles em detalhes e daremos um exemplo para ajudá-lo a entender como executar a fórmula de maneira mais simples. Veja!
Calcular a média de variação
Primeiramente, é preciso visualizar o período para o qual a volatilidade está sendo calculada. Depois, basta somar as variações e dividir o total pelo número de períodos que deram os números, podendo ser meses ou até dias.
Utilizando o fundo de investimento em ações Index Ibovespa Ações, com números de 2018 até o mês de julho, por exemplo, teríamos a seguinte situação:
- alta de 10,98% em janeiro;
- alta de 0,45% em fevereiro;
- queda de 0,12% em março;
- alta de 0,73% em abril;
- queda de 11,01% em maio;
- queda de 5,32% em junho;
- alta de 8,75% em julho;
- (10,98 + 0,45 – 0,12 + 0,73 – 11,01 – 5,32 + 8,75) ÷ 7;
- 4,46 ÷ 7 = 0,64%.
Em média, durante os primeiros sete meses de 2018, o fundo de ações em questão variou positivamente 0,64% em cada mês. Pode parecer que é essa a volatilidade do fundo, mas esse cálculo simplista é apenas o primeiro passo da fórmula que vamos mostrar para, no final, chegarmos a um desvio padrão mais confiável. Siga acompanhando.
Calcular a variância amostral
Essa variância revela um número que é utilizado para ajudar no cálculo da volatilidade, permitindo identificar com mais segurança qual é a flutuação padrão do que está sendo medido — no caso, a variação do fundo Index Ibovespa Ações.
A variância é calculada da seguinte forma:
- soma-se a diferença entre o valor de cada período e a variação média, elevando os resultados ao quadrado: (10,98 – 0,64)², (0,45 – 0,64)², (-0,12 – 0,64)², (0,73 – 0,64)², (-11,01 – 0,64)², (-5,32 – 0,64)² e (8,75 – 0,64)²;
- depois, o resultado deve ser dividido pelo número de períodos envolvidos subtraído de 1, no caso: 7 – 1;
- cálculo: (10,98 – 0,64)² + (0,45 – 0,64)² + (-0,12 – 0,64)² + (0,73 – 0,64)² + (-11,01 – 0,64)² + (-5,32 – 0,64)² + (8,75 – 0,64)² ÷ (7-1);
- (10,34)² + (-0,19)² + (-0,76)² + (0,09)² + (-11,65)² + (-5,96)² + (8,11)² ÷ 6;
- 106,91 + 0,036 + 0,578 + 0,008 + 135,722 + 35,522 + 65,772 ÷ 6;
- 344,548 ÷ 6 = 57,425.
A variância amostral obtida foi de 57,425% para o período em relação ao fundo utilizado no cálculo.
Calcular o desvio padrão
Por fim, com mais um cálculo e com os resultados obtidos até agora, chegaremos ao resultado da volatilidade do fundo Índice Index Bovespa. O desvio padrão é o indicativo de variação do investidor para análise do investimento. Para o exemplo que estamos usando, é o quanto pode ser a oscilação dele.
Para obter o desvio padrão, basta extrair a raiz quadrada do número obtido no cálculo de variância amostral. Daí a importância de realizar a conta mostrada acima. Para a nossa hipótese: √57,245 = 7,567. Então, para finalizar, a variação média é somada ao desvio padrão e também subtraída dele, gerando dois resultados:
- 7,567 + 0,64 = 8,207;
- 7,567 – 0,64 = 6,927.
Ou seja, pelo cálculo de volatilidade que fazemos para exemplo, o fundo Índice Index Ibovespa oscila entre 6,927% e 8,207% ao mês. Esse é o seu desvio padrão esperado (volatilidade implícita), levando em conta os meses já finalizados em 2018 (volatilidade histórica).
Qual a volatilidade da bolsa de valores?
Quando se fala em bolsa de valores, normalmente as pessoas pensam diretamente em ações, mas diversos outros ativos financeiros são negociados nela. Alguns deles são:
- ouro como ativo financeiro;
- commodities agrícolas e de outros produtos;
- títulos de renda fixa;
- contratos atrelados a ativos;
- moedas.
Para todos esses e outros ativos, a oscilação ocorre da maneira que citamos anteriormente, de acordo com movimentações de empresas, das economias nacional e internacional, de ações políticas e de critérios específicos das aplicações.
Por esse motivo, diversos índices foram criados para a bolsa de valores, que ajudam investidores, profissionais do mercado e demais envolvidos nele a acompanharem a volatilidade e fazerem previsões.
Eles são utilizados para ajudar as pessoas a acompanharem a volatilidade de mercado e para ajudar a entender os cenários das negociações e dos ativos listados na bolsa de valores.
Então, conheça alguns desses índices que acompanham os fatores de influência nas flutuações da bolsa.
Índice Brasil Amplo (IBrA)
IBrA é um dos melhores índices para acompanhar as oscilações da bolsa de valores no que diz respeito às ações negociadas nela, pois, levando em conta critérios de inclusão, ele abrange todas as empresas listadas na Bovespa e elegíveis.
Sua função é dar um panorama muito mais amplo, como o nome diz, da volatilidade de mercado acionário brasileiro.
Índice Bovespa (IBOV)
Seu resultado, mostrado por pontos, reflete a situação de ações que representam mais de 80% das movimentações do mercado de ações da bolsa brasileira e mais de 70% de sua capitalização. O IBOV é o mais antigo índice da Bovespa, criado no ano de 1968.
Índice de Dividendos (IDIV)
O IDIV foca nos resultados gerados por ações em pagamento de dividendos a acionistas, levando em conta as companhias que pagaram mais dividendos nos últimos 24 meses.
Como dividendos não são tributados pelo imposto de renda, além de dependerem da situação das empresas no mercado e das suas finanças, o IDIV é interessante tanto para analisar a volatilidade quanto para escolher papéis para adquirir.
Índice de Commodities Brasil (ICB)
O ICB é relativo ao status no mercado de commodities agrícolas, minerais, da pecuária e florestais, produtos que lastreiam alguns dos ativos da bolsa. Composto pelas commodities mais negociadas da Bovespa, o índice leva em conta a liquidez delas e o nível de produção das mercadorias que dão o lastro.
Índice de Fundos de Investimento Imobiliário (IFIX)
O IFIX serve para medir o desempenho das quotas de fundos imobiliários listados na bolsa ou presentes no seu mercado de balcão organizado. A escolha das quotas elencadas depende diretamente da liquidez delas.
Portanto, apenas fundos com boa performance em suas quotas fazem parte do IFIX. Mesmo assim, o índice ajuda no entendimento das oscilações de mercado relacionadas aos fundos imobiliários em geral.
Para o setor imobiliário, existe ainda o Índice Imobiliário (IMOB), cujas flutuações são o resultado da movimentação de ações das empresas mais representativas na atuação desse setor.
Índice S&P/BM&F Inflação NTN-B
Para quem investe em títulos do Tesouro Direto, esse índice mede o desempenho dos títulos cujos rendimentos são indexados à inflação, conforme a liquidez deles.
Qual a volatilidade dos fundos imobiliários?
Fundos de investimento imobiliário contam com volatilidade mais baixa de ações e outros ativos da bolsa de valores, pois os imóveis — como patrimônio real e palpável — são os ativos nos quais os investimentos têm lastro.
Além disso, o poder de gerar caixa dos ativos que dão lastro às quotas dos fundos também ajuda a volatilidade a ser mais baixa em comparação com ações, por exemplo.
O fato de os imóveis darem alguma previsibilidade de retorno, como recebimento de aluguéis, também ajuda os fundos a oscilarem menos e até apresentarem risco menor que outras opções dentro da renda variável, cujos ativos naturalmente flutuam mais do que os da fixa.
Porém, esses fundos não são livres de risco e apresentam, sim, volatilidade. Existem fatores atrelados a eles e aos imóveis que influenciam nos valores das quotas e, por comporem risco, podem fazê-las perder valor.
Para os fundos de renda de aluguel, que compram imóveis para receber os pagamentos mensais futuros, os maiores riscos estão na inadimplência dos inquilinos pessoas físicas ou jurídicas e na falta deles — alta taxa de vacância.
Outros fatores de risco, mas que também podem causar valorização dos imóveis e subida dos valores das quotas de investimento, são a localização dos ativos e a situação econômica do país, que influenciam diretamente o mercado imobiliário.
Já para fundos de títulos imobiliários, que adquirem títulos desse mercado nas rendas fixa e variável, os maiores fatores de volatilidade são os lastros dos títulos adquiridos e o tipo de renda ao qual pertencem. Por exemplo: se a maior parte do fundo pertencer à renda variável, é provável que sua rentabilidade seja um pouco mais alta, visto que esses títulos têm possibilidade de oscilar mais — ao mesmo tempo, possivelmente apresentará mais risco.
Como a volatilidade pode ser uma aliada?
Em qualquer ocasião, investir é ter capital e resultados sujeitos aos riscos e às possibilidades positivas das oscilações. Por isso, antes mesmo de aplicar, o investidor deve ter certeza de quais são esses riscos — gerais e segmentados — e de como as flutuações podem ser aliadas de sua estratégia e de seus ganhos.
Querendo mais segurança, o investidor pode escolher logo as aplicações de renda fixa, inclusive aquelas que não estão na bolsa, pois são opções menos afetadas por oscilações.
Por outro lado, são aplicações que não geram ganhos expressivos e necessitam de prazos maiores para os resultados que dão.
Sendo assim, a volatilidade de mercado, além de aliada, pode ser usada como critério de diversificação, proteção de capital e para auxiliar no alcance de objetivos distintos, dentro de prazos diferentes.