A relevância do tema ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa) tem crescido de maneira expressiva nos últimos anos. Com evidências cada vez mais notáveis sobre a interconexão entre meio ambiente, economia e bem estar, o assunto vem se tornando cada vez mais estratégico nas empresas.
Sabendo disso, e conhecendo a tendência humana de concentrarmos esforços no que gera resultados concretos e no curto prazo, algumas empresas já estão atrelando os bônus de seus executivos de alto escalão às metas ESG, sinalizado de forma clara a importância do tema.
É o caso, por exemplo, do GPA (SA:PCAR3), grupo que engloba as marcas Pão de Açúcar e Extra, que vinculou as metas de redução de emissões de carbono na remuneração variável dos executivos.
O consumo de energia elétrica nas operações do grupo passou a fazer parte do Índice de Sustentabilidade e Diversidade (ISD), que compõe a remuneração variável dos mais de 1.400 gestores elegíveis, conforme explicou a diretora-executiva de recursos humanos, serviços e sustentabilidade da empresa
Outra companhia que já atrela a remuneração variável de executivos às metas ESG é a Arcos Dorados (NYSE:ARCO), dona do McDonald’s no Brasil. Um dos funcionários da empresa explica, , que a companhia possui uma plataforma chamada Receita do Futuro, que conta com diversos compromissos sociais e ambientais dentro de cinco pilares de atuação: emprego juvenil, abastecimento sustentável, embalagens e reciclagem, mudança climática e bem-estar familiar.
Uma pesquisa recente feita pela consultoria Willis Towers Watson, nos Estados Unidos, reforça esse movimento do mercado. O estudo, que contou com a participação de 168 empresas, revelou que 65% delas planejavam relacionar a remuneração de seus executivos à agenda ESG em 2021.
Situação ainda é complexa
A urgência do tema e a velocidade necessária para mitigar as mudanças climáticas e perda de biodiversidade jogam luz nesta agenda, porém, atrelar a remuneração variável às metas ESG ainda é uma situação complexa.
Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), revelou que a compreensão do mercado sobre sustentabilidade é bastante heterogênea.
O estudo identifica cinco perfis de comportamento, que englobam diferentes tipos de profissionais e sua relação com a sustentabilidade, e os classificaram como desconfiados, distantes, iniciantes, emergentes e engajados.
Conforme classifica a ANBIMA, os desconfiados enxergam as práticas ESG como uma ameaça para o desenvolvimento de seus negócios. Os distantes têm uma visão simplificada da sustentabilidade e encaram como algo ligado às questões ambientais.
Os iniciantes também acham que o tema é focado no meio ambiente, mas têm ações concretas, mesmo sendo a maioria delas ainda dentro de casa.
Enquanto isso, os emergentes estão mais avançados na agenda: compreendem a relevância dos aspectos ESG e estão em fase de implementação de processos mais abrangentes. Por fim, os engajados veem a sustentabilidade como parte da estratégia da instituição, embalando produtos e serviços com esses critérios e cobrando transparência nas relações da empresa com todos seus stakeholders.
Além disso, a associação concluiu que cerca de 67% do mercado entende a sustentabilidade como algo distante ou só toca ações internas no ambiente de trabalho, como a reciclagem de copos plásticos, por exemplo. Atrelar as metas de remuneração variável (que são, em geral, de curto prazo) ajuda a aproximar as equipes da sustentabilidade, provocando uma importante reflexão sobre como a esse tema afeta os resultados financeiros de todos – do acionista ao profissional mais júnior.
Apesar deste cenário, o mercado caminha para uma evolução, já que, ainda de acordo com a pesquisa da ANBIMA, 87% das instituições afirmaram que o assunto ganhou relevância nos últimos 12 meses - o estudo foi divulgado em janeiro deste ano - e quase a totalidade do mercado (90%) tem certeza de que ele ganhará ainda mais destaque no próximo ano.
Sobre isso, Larry Fink, fundador e CEO da BlackRock (SA:BLAK34) (NYSE:BLK), destacou em Em sua famosa carta aos CEO’s que de janeiro a novembro de 2020 foram injetados US$ 288 bilhões em investimentos sustentáveis em todo o mundo. Esse montante representa um aumento de 96% se comparado ao ano anterior, mas ainda é insignificante em relação ao total de investimentos. Isso significa que há grandes oportunidades de expansão.
Resultados em longo prazo
Embora estas metas ajudem a dar o senso de urgência ao tema, é válido destacar que quando falamos de boas práticas, como neste caso, não podemos esperar retornos imediatos e de curto prazo.
O grande desafio de colocar em prática as políticas de governança ambiental, social e corporativa é ter paciência e entender que, muitas vezes, os resultados não serão vistos no curtíssimo espaço.
Ter um projeto de longo prazo para atrelar a remuneração variável às metas ESG pode trazer resultados para a empresa, além, é claro, de engajar funcionários e funcionárias para que tragam ideias inovadoras para a área.
O setor privado tem esta oportunidade e é um dos pilares fundamentais na missão de aliar desenvolvimento econômico a políticas sustentáveis e sociais.
A natureza é a grande protagonista do nosso planeta. Cabe aos líderes agirem e exercerem sua influência positiva para avançarmos na sua conservação. É somente com compromissos ambiciosos que conseguiremos tornar as metas ESG uma realidade concreta em todas as organizações.