As criptomoedas apareceram para grande parte dos investidores no primeiro semestre deste ano, quando os percentuais estratosféricos de valorização figuraram nas páginas principais dos sites financeiros mais acessados e atraíram a atenção de diversos analistas técnicos. Pensando nisso, Investing.com Brasil preparou um especial nas últimas semanas para o investidor aprender o básico sobre o bitcoin e conhecer como investir nas criptomoedas em corretoras brasileiras.
Para o investidor, é hora de abrir um espaço na carteira e diversificar com a inclusão de criptomoedas? Se sim, como fazer e quais as formas de investir nas moedas digitais para garantir um retorno acima da média, controlando os altos riscos envolvidos?
Um dos desafios de ter criptomoedas em seu portfólio é aceitar que os fundamentos clássicos considerados em outros ativos, como ações de empresas e moedas convencionais, não se aplicam.
Indicadores de pressões de alta e baixa sobre as moedas digitais fogem de análises técnicas tradicionais, já que, por exemplo, a criptomoeda está sujeita a mudanças e discussões sobre o protocolo de distribuição. Exercem forte influência ainda a reação de instituições tradicionais, como a regulamentação ou proibição dos bitcoins por determinados governos; aumento do interesse do mercado, com entrada de grandes fundos de investimento.
Hard fork
O mercado de bitcoins, principalmente no exterior, foi afetado este ano pelas discussões a respeito de mudanças na blockchain para permitir o aumento no volume de operações. Pela própria filosofia por trás da criptomoeda, decisões desse tipo precisam ser tomadas coletivamente e o upgrade na rede dependia do consenso entre os mineradores.
Durante a etapa de discussão das propostas de atualização, a comunidade ficou dividida e aumentou o risco de dividir o bitcoin em duas novas moedas, em um evento chamado de fork, que acabou ocorrendo no início desta semana.
A questão era a necessidade de elevar a eficiência da blockchain, que é limitada a 1 mb de operações a cada dez minutos, o que tornou a verificação de negociações muito lenta com o aumento do interesse pela criptomoeda neste ano.
Os mineradores se dividiram entre adotar a proposta apresentada SegWit2x para reduzir a quantidade de informações necessárias para completar uma transação e agilizar, assim, o processo e a alternativa de elevar para 8 mb o tamanho do bloco a cada 10 minutos. Essa segunda dissidência provocou o fork com a criação do bitcoin cash (BCC).
Em meio a isso, investidores precisaram não apenas acompanhar as discussões sobre o consenso, mas se preparar para a implementação, fazendo backup dos bitcoins. Apesar de discussões desse tipo desestimularem o investidor leigo, volta a valer a regra de ouro de que o investimento consciente depende de estudar profundamente o mercado, sejam de ações, commodities ou criptomoedas.
Formação de carteira
“O bitcoin se encaixa na categoria de investimento de alto risco, principalmente para alguém que nunca sentiu a sua volatilidade na pele. Hoje, o bitcoin é muito menos volátil que anos atrás, mas ainda assim, você pode acompanhar oscilações de 5 a 10% diariamente”, explica o sócio fundador e COO da FoxBit, Luiz Augusto Schiavon.
Mesmo assim, o investimento em bitcoins pode atender a diferentes perfis de investidores, compondo uma carteira tanto como objetivos de longo prazo, como para buscar ganhos no trading diário, valendo-se de sua volatilidade no curto prazo. “Tendo isso bem claro, o risco de perder capital diminui significativamente”, completa Schiavon.
Em nosso especial sobre bitcoins, já abordamos como comprar e vender no Brasil com segurança, contudo, o lado ruim da criptomania crescente no mercado nacional são promessas infundadas de ganhas expressivos e certos no curto prazo, que muitas vezes se manifestam por anúncios de formadores de fundo com estratégias de enriquecimento garantido.
“O primeiro risco se deve ao fato do bitcoin ser um mercado com a presença de alto grau de especulação, então o investidor deve estar ciente que ao comprar o bitcoin estará sujeito às oscilações de mercado. Alguns sites oferecem retornos garantidos, mas é importante deixar claro que bitcoin não é um ativo de renda fixa. Geralmente esses sites tentam iludir o investidor”, alerta o fundador e CEO da Flow BTC, Marcelo Miranda.
Como na maioria dos países, no Brasil não há uma produção de bitcoins – o custo da energia inviabiliza a mineração por aqui – o investidor nacional precisa acompanhar a cotação do dólar, o ágio e a precificação e volumes transacionados nos principais mercados de bitcoins, que são China e Estados Unidos
“Além disso, fatores que influenciam no preço são inúmeros: novos sites e lojas que comecem a aceitar bitcoin, governos que se posicionam contra ou a favor da moeda, ataques de hackers, ICOs (Initial Coin Offering) de empresas que abrem seu capital e levantam esse dinheiro através da arrecadação de criptomoedas, enfim, qualquer notícia que envolva o mundo das criptomoedas”, afirma Miranda.
Reserva de valor
Outra característica da criptomoeda é a capacidade de reserva de valor a longo prazo. Bitcoin é uma moeda cuja “emissão” foi pensada para evitar pressões inflacionárias, como explicamos na primeira parte desse especial: estão programados eventos de corte no volume de emissão do bitcoin, chamado de block halving.
Isso faz com que a tendência seja sempre de valorização no longo prazo. “O que eu aconselho sempre é comprar e segurar. Esquece do bitcoin por quatro anos. Quando há o corte na emissão de bitcoins, o acrescimento é quase certo”, explica o fundador do Bitcoin News Brasil, Paulo Fiorio.
É possível, inclusive, a comparação do bitcoin com o mercado de ouro para fins de investimento. Em busca de segurança, investidores internacionais correm para aplicações em ouro quando se deparam com cenários de grandes incertezas e derrocadas de mercado, como aconteceu em anos recentes com a Grécia, China e na Índia.
No Brasil, o investidor particular tem acesso dificultado a essa alternativa pela não comercialização local de contratos futuros de ouro, como é feito, por exemplo, nos EUA. Isso faz com o ouro no Brasil seja um ativo de baixa liquidez, ainda que seja possível comprar e vender por meio da B3 (SA:BVMF3) ou do Banco do Brasil (SA:BBAS3).
Lá fora, os contratos futuros do ouro acumulam um ganho de 8,39% este ano, até 28 de julho, mesmo período em que o BTC/USD (na exchange GDAX) valorizou mais de 179%.
Arbitragem
Outra modalidade de investimentos com bitcoin, indicada para investidores mais familiarizados com o mercado, é conhecida como arbitragem, ou seja, aproveitar oportunidades de ganhos na compra/venda da moeda em diferentes corretoras ou mercados.
Mesmo no Brasil, é possível encontrar diferentes valores de bitcoin sendo negociados nas corretoras locais e nos mercados p2p, o que possibilita permitindo ganhos nesse spread. Como a moeda é descentralizada, isso também pode ser feito internacionalmente, mas esse tipo de operação tende a ser mais caro e complexo, devido à necessidade de movimentação do dinheiro no exterior.
A estratégia, claro, tem riscos associados à capacidade de conclusão das operações nos tempos necessários para captura dos ganhos com spreads. Lá fora, já existem traders utilizando sistemas automatizados de autovelocidade operando dessa forma.
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