Bitcoin luta para se manter acima de US$ 111 mil em meio à pressão vendedora
Desde o início, o governo Trump vem deixando clara sua estratégia econômica: priorizar o crescimento doméstico, mesmo que isso implique maior tensão nas relações comerciais globais. A condução da política fiscal e de taxação até aqui confirma essa orientação: o governo manteve os gastos públicos elevados, evitando qualquer movimento de aperto tributário mais amplo, ao mesmo tempo em que intensificou o uso de tarifas setoriais e medidas unilaterais. Esses instrumentos, embora não sejam formalizados como política industrial, têm justamente esse efeito indireto: proteger cadeias produtivas locais, favorecer a indústria americana e ampliar o poder de barganha dos EUA em disputas geopolíticas e comerciais.
No campo monetário, o Federal Reserve optou por uma postura de estabilidade, com a manutenção da taxa básica entre 4,25% e 4,50%, reforçando a estratégia de “esperar para ver” enquanto a inflação desacelerava gradualmente. Essa combinação (política fiscal expansionista com viés protecionista e política monetária estável) tem moldado o humor dos mercados no curto prazo.
Alguns marcos ajudam a entender o cenário atual: o mercado de trabalho segue resiliente, com nível de desemprego baixo para padrões históricos, o que fortalece o consumo e os lucros corporativos. A inflação, medida pelo CPI, perdeu fôlego de forma progressiva, consolidando a percepção de fim do ciclo de alta de juros. Como resultado, os índices acionários norte-americanos, como o S&P 500 e o Nasdaq, renovaram máximas históricas ao longo do verão, impulsionados pela esperança de cortes de juros à frente e por um alívio nas pressões inflacionárias. Esse tripé – atividade econômica “morna para boa”, inflação menos pressionada e bolsa forte – alimenta o apetite por risco, sobretudo em setores de tecnologia e empresas de grande capitalização.
Esse arranjo nos EUA tem repercussões importantes sobre os fluxos financeiros globais. A postura cautelosa do Fed somada à desaceleração inflacionária aumenta a probabilidade de afrouxamento monetário adiante – e quando o mercado precifica cortes, o dólar tende a perder um pouco de tração na margem e os ativos de risco globais respiram. Por outro lado, a escalada protecionista nos EUA, com novas tarifas e ameaças unilaterais, gera incertezas sobre o comércio internacional, provoca volatilidade em moedas e commodities e pressiona cadeias de produção e investimentos. O cenário resultante é paradoxal: de um lado, um “prêmio de risco” menor por conta da inflação cadente; de outro, a persistência de uma “taxa de desconto” elevada, convivendo com ruídos de política comercial.
Para o Brasil, os efeitos dessa configuração têm sido ambivalentes. No que tange aos fluxos de capital, um ambiente externo mais tolerante ao risco, combinado à perspectiva de cortes nos juros americanos e à valorização das bolsas nos EUA, favorece os ativos brasileiros. Isso se traduz em suporte à moeda, melhora na curva de juros e maior apetite por setores ligados a commodities. Por outro lado, o avanço de medidas protecionistas nos EUA – especialmente quando atingem setores sensíveis como siderurgia, automotivo, aeroespacial e químicos – eleva custos de exportação, reduz volumes e pressiona tanto a balança comercial quanto as expectativas de crescimento setorial. Esses dois vetores convivem e exigem leitura fina por parte de investidores e formuladores de política econômica.
Olhando adiante, o posicionamento econômico dos EUA traz uma combinação de riscos e oportunidades que merece atenção. Em primeiro lugar, a trajetória dos juros americanos: caso o Fed confirme a desinflação e inicie cortes, haverá uma janela relevante para alongamento de duration em renda fixa local e melhoria nas condições financeiras em emergentes. Em segundo lugar, o comércio internacional: a persistência de medidas tarifárias e ações unilaterais exigirá do Brasil um esforço maior em diversificação de mercados, redes produtivas e acordos bilaterais que garantam acesso competitivo. Por fim, a dinâmica dos mercados acionários: em ciclos de desaceleração gradual nos EUA, países exportadores de commodities e com agenda de reformas tendem a capturar prêmio desde que consigam mitigar os riscos de choques externos.
Na Oryx, entendemos que navegar nesse binômio “bolsa forte nos EUA versus barulho protecionista” exige uma estratégia multifacetada. Para nós, faz sentido combinar proteção cambial tática, exposição a exportadoras competitivas, uma alocação relevante em renda fixa atrelada à inflação doméstica e um bloco de diversificação global via ETFs. O investidor que conseguir equilibrar exposição ao dinamismo da economia americana com prudência diante do novo protecionismo poderá capturar valor relevante nos próximos meses. O fato é que os EUA caminham para um modelo econômico mais introspectivo, com políticas que favorecem o crescimento interno, mesmo à custa da tensão global. Para países como o Brasil, o desafio será transformar volatilidade em oportunidade – e isso exigirá visão estratégica, gestão ativa e radar atento às mudanças de rota no centro do sistema econômico mundial.