- O banco central americano continua sob pressão para combater a inflação, sem gerar transtornos no mercado.
- Minha expectativa é que o Fed frustre as expectativas de uma virada “dovish” em sua política.
O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) pode endurecer sua mensagem quando os banqueiros centrais se reunirem no Simpósio Econômico de Jackson Hole na semana que vem.
O destaque será o discurso do presidente do Fed, Jay Powell, na quinta-feira pela manhã.
Muitos dirigentes do banco central americano, no passado, usaram o discurso de abertura para sinalizar importantes mudanças na política monetária ou na perspectiva econômica.
Em minha visão, Powell sinalizará que o banco central dos EUA continuará elevando as taxas de juros e as manterá elevadas por um período maior do que o esperado, a fim de reduzir a mais alta inflação em décadas no país.
Portanto, é bem possível que vejamos uma total virada na precificação do mercado e, particularmente, nas treasuries (títulos do Tesouro americano).
As ações dos EUA dispararam desde as mínimas de junho, com o Nasdaq Composite saindo do território de bear market na semana passada, diante da esperança de que o Fed seja menos agressivo nas elevações de juros nos próximos meses.
Os investidores agiram rápido ao precificar uma perspectiva menos rígida. Há duas razões para que o Fed não pare seu aperto da política monetária em breve.
1. Força do mercado de trabalho
Apesar dos temores de uma recessão, o mercado de trabalho norte-americano continua vigoroso, dado que as aberturas de vagas estão perto das máximas recordes e a taxa de desemprego segue perto das mínimas históricas.
De acordo com o banco de dados FRED, da sucursal do Fed em St. Louis, havia cerca de 10,7 milhões de postos de trabalho não preenchidos em julho, uma queda em relação ao pico de cerca de 11,9 milhões em março, e uma alta em relação às 9,8 milhões de aberturas em junho de 2021 e de quase 6,1 milhões em junho de 2020.
Ressaltando a força do mercado de trabalho, as empresas dos EUA contrataram muito mais trabalhadores do que o esperado nos últimos meses.
De fato, o relatório de folhas de pagamento não agrícolas superou as expectativas em seus dos sete primeiros meses de 2022, com um crescimento médio de quase 471.000/mês. Para fins de comparação, a média histórica de geração de emprego era de cerca de 190.000 por mês entre 2015 e 2019.
Além disso, com uma taxa de desemprego de 3,5% voltou para os níveis anteriores à pandemia e estão nos níveis mais baixos desde 1969.
Outro sinal de escassez na oferta de mão de obra é o fato de que as empresas continuaram aumentando os salários em ritmo forte no último mês. Os ganhos médios por hora trabalhada subiram 0,5% em julho, após uma elevação de 0,4% em junho.
Isso fez com que o aumento ano a ano disparasse para 5,2%, jogando mais combustível sobre a preocupante perspectiva de inflação, além de abrir espaço para que o Fed continue agressivo nas elevações de juros.
Consigo até imaginar Powell em Jackson Hole, dizendo que o forte mercado de trabalho indica que a economia consegue, de fato, resistir a juros mais altos.
Inflação ainda perto da máxima de 40 anos nos EUA
O IPC ficou inalterado em julho, graças ao recuo dos preços da gasolina. Isso fez com que a taxa anual de inflação caísse para 8,5%, contra a leitura anterior de 9,1% em junho, que foi a maior desde 1981.
Ao mesmo tempo, a inflação básica, que exclui os preços voláteis de energia e alimentos, subiu 0,3% em julho e 5,9% nos últimos 12 meses, de acordo com o BLS, departamento de estatísticas do trabalho dos EUA.
Embora os últimos dados sugiram que a inflação já tenha atingido o pico ou esteja perto de fazê-lo, os preços ao consumidor nos EUA continuam perto dos níveis que não eram vistos desde 1982.
Apesar do recente declínio, o BLS disse que os preços da gasolina haviam subido 44% nos últimos 12 meses, enquanto os custos com supermercado dispararam 13,1% no último ano, maior aumento anual desde 1979.
Além disso, o aumento dos aluguéis residenciais e dos salários, que geralmente só é negociado uma vez ao ano, provavelmente resultará em uma inflação mais renitente por um período maior.
Embora a queda em julho tenha sido um evento positivo, ainda é muito cedo para dizer se a tendência continuará sustentada, na medida em que a inflação continua bem acima dos níveis históricos.
As autoridades do Fed deixaram claro que precisam ver uma evidência convincente de que as pressões de preço estão arrefecendo antes de desacelerar ou suspender os aumentos de juros. A alta divulgada na quarta-feira, referente à reunião 26-27 de julho do Fed, reiterou esse sentimento, ao ressaltar que a inflação continua “inaceitavelmente elevada”.
Levando isso em consideração, o banco central dos EUA têm a munição necessária para continuar subindo juros até que faça o IPC convergir de volta para sua meta de 2%.
Aviso: No momento da publicação, Jesse não detinha qualquer posição nos ativos mencionados. As visões discutidas neste artigo correspondem exclusivamente à opinião do autor e não devem ser consideradas como uma recomendação de investimento.