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Finanças Comportamentais: Qual “Vacina” Todo Investidor Necessita Tomar?

Publicado 04.06.2021, 15:12
Atualizado 09.07.2023, 07:32

O meu artigo de hoje é o terceiro seguido a aprofundar o componente primordial “conhecimento”, o primeiro dos quatro que constituem em seu conjunto a abordagem decisória que eu tenho recomendado em meus artigos no Investing.com. Os demais componentes primordiais – “autoconhecimento”, “processo decisório” e “implementação” – serão igualmente analisados detalhadamente em futuros artigos que também publicarei aqui.

Ao longo dos anos nos quais eu tenho atuado como pesquisador, consultor e professor das áreas de Economia/Finanças Comportamentais e de Julgamento & Tomada de Decisão, incluindo os quatro anos que dediquei à Tese de Doutorado que eu desenvolvi no COPPEAD/UFRJ em parceria com a CVM, algumas relevantes conclusões têm emergido das centenas de estudos científicos publicados nas últimas décadas e que eu tive a oportunidade de analisar.

Uma destas conclusões de enorme impacto prático pode ser resumida da seguinte forma: o conhecimento limitado e o conhecimento equivocado, conjugados à nossa atávica capacidade limitada de identificação de ambos (derivada em grande parte do “viés egocêntrico”) e ao viés do excesso de confiança (considerado por alguns pesquisadores respeitados o “pai de todos os vieses”), representam uma das mais perigosas ameaças à tomada de decisões “racionais” por parte dos indivíduos em geral e dos investidores em particular.

O CONHECIMENTO LIMITADO E O CONHECIMENTO EQUIVOCADO

“O que você não sabe pode destruí-lo” (provérbio popular).

Não possuir conhecimento suficiente sobre Finanças (“financial literacy”) compromete gravemente a capacidade decisória de um investidor, o que já foi evidenciado por muitas pesquisas publicadas. Contudo, igualmente danoso é o conhecimento equivocado, o qual pode ser caracterizado como o conhecimento distorcido ou simplesmente errado. Ambos podem levar a decisões de investimento ruinosas, sendo que o conhecimento equivocado pode suscitar o risco adicional de gerar no investidor uma confiança enganosa e infundada na sua capacidade de tomar este tipo de decisão.

Tanto o conhecimento limitado quanto o conhecimento equivocado são fortemente conectados a duas das heurísticas mais significativas já identificadas pela Psicologia e pela área de Economia/Finanças Comportamentais: a heurística da representatividade e a da disponibilidade.

Heurísticas são artifícios simplificadores do pensamento intuitivo para facilitar a tomada de decisões, ou seja, “atalhos decisórios” que o nosso cérebro utiliza de forma automática e praticamente sem esforço mental. É um formidável produto da evolução por seleção natural ao longo de milhões de anos, pois nos permite tomar centenas (talvez até mesmo milhares) de decisões por dia com enorme rapidez. Porém, à custa da “qualidade” das decisões tomadas, sobretudo quando a complexidade das mesmas é maior. O que é justamente o caso de investir.

Portanto, dificilmente será um problema confiar nestes “atalhos” para decidir algo banal como pagar uma conta de baixo valor com cartão de débito ou de crédito (além de simples, esta é uma decisão com exposição reduzida a perdas). Mas é temerário e não recomendável fazer o mesmo ao escolher um ativo financeiro para investir uma quantia financeira não desprezível.

A HEURÍSTICA DA REPRESENTATIVIDADE

Dentre as muitas heurísticas já catalogadas pela Ciência, esta é certamente uma das mais relevantes. Proposta no início dos anos 1970 pela dupla de psicólogos – Kahneman e Tversky – que revolucionou as áreas de Economia/Finanças Comportamentais e de Julgamento & Tomada de Decisão, foi definida por estes como "... o grau em que (um evento) (i) é semelhante em características essenciais à sua população original, e (ii) reflete as características salientes do processo pelo qual foi gerado".

O problema é que julgar algo por semelhança leva frequentemente a erros e o fato de algo ser mais representativo não o torna necessariamente mais provável. Por exemplo: um investidor que escolhe uma determinada ação porque um amigo dele, que é um economista bem-sucedido, recomendou e porque a empresa emissora da ação é similar a uma outra do mesmo setor, que ele conhece bem e na qual ele acredita ter excelentes perspectivas futuras. Ou, ainda, porque o histórico de desempenho desta ação é muito positivo. Em ambos os exemplos, as informações disponíveis não são suficientes para fundamentar adequadamente a decisão de investir na ação em questão.

Tversky e Kahneman elencaram seis vieses decisórios resultantes da heurística da representatividade: (i) insensibilidade à probabilidade prévia (“base-rates”) dos resultados; (ii) insensibilidade ao tamanho da amostra; (iii) equívocos sobre chances; (iv) insensibilidade à previsibilidade; (v) ilusão de validade; e (vi) equívocos sobre regressão.

A HEURÍSTICA DA DISPONIBILIDADE

Esta heurística também foi identificada por estes dois seminais cientistas. Em 1974 eles a conceituaram da seguinte forma: “A disponibilidade é uma heurística em que as pessoas fazem julgamentos sobre a probabilidade de um evento com base na facilidade com que um exemplo, instância ou caso vem à mente. Por exemplo, os investidores podem julgar a qualidade de um investimento com base em informações recentemente divulgadas, ignorando outros fatos relevantes.”.

Experiências pessoais e eventos muito noticiados são mais “disponíveis” no nosso cérebro (e, portanto, tendem a nos influenciar muito mais) do que fatos que aconteceram com outras pessoas ou meras palavras ou estatísticas. Estas implicações da heurística da disponibilidade distorcem imensamente as decisões tomadas pelos investidores. Por exemplo: após sofrer uma perda significativa em um investimento, mesmo que tenha sido um evento raro e com baixa probabilidade de voltar a ocorrer no futuro, o investidor tenderá a desenvolver uma aversão ao ativo no qual havia investido.

A “VACINA” QUE TODO INVESTIDOR NECESSITA TOMAR: CONHECIMENTO

O conhecimento limitado e o conhecimento equivocado devem ser minimizados pelos investidores, evidentemente, pela ampliação contínua do conhecimento qualificado e embasado (principalmente, mas não exclusivamente, em Finanças).

Isto terá um efeito benéfico também na redução, apesar de jamais ser capaz de eliminá-la, da vulnerabilidade às heurísticas da representatividade e a da disponibilidade. Além de impacto positivo, porém variável, em todas as outras mais de 180 heurísticas e vieses decisórios (tais como “otimismo”, “efeito manada” e “aversão à perda”) já mapeados pela Ciência.

“Conhecimento” é condição necessária, ainda que não suficiente, para investir de forma adequada. Os demais componentes primordiais (“autoconhecimento”, “processo decisório” e “implementação”) também possuem um papel indispensável que será devidamente discutido em meus próximos artigos.



* Ronaldo Deccax é Doutor em Administração com ênfase em Economia/Finanças Comportamentais, Mestre em Administração com ênfase em Estratégia no COPPEAD/UFRJ e Professor, Consultor e Pesquisador em Julgamento & Tomada de Decisão, Economia/Finanças Comportamentais, Negociação e Compras/Suprimentos. Ele pode ser contactado através do e-mail ronaldo.deccax@coppead.ufrj.br e no LinkedIn em linkedin.com/in/ronaldo-deccax-phd-169217.

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