Paradoxo
Deixo o agradecimento público ao nosso qualificado estepe Felipe Miranda pela cobertura de minha ausência ontem. A propósito, o pessoal tinha razão: as meninas de Goiânia estão mesmo de parabéns. Mas aparentemente, a vitória sobre a qualificada seleção do Panamá não elevou os ânimos por aqui. Os mercados enfrentam uma quarta-feira morosa, com Bolsa pendendo para o vermelho, preocupada com os dados do emprego privado dos EUA. Ué, mas não havia sido justamente o Relatório de Emprego americano anterior que elevara as apostas de recuperação da (ainda) maior economia do mundo?
A bipolaridade dos indicadores
Referências díspares das economias têm sido uma constante. Bem como a volatilidade dos mercados em resposta a esses indicadores pontuais. Recai sobre o problema de amostra pequena (geralmente os indicadores capturam períodos pequenos, de mês), sobre o problema de se olhar para uma referência de passado, suscetível à influência de fatores sazonais, e aos próprios vieses desses indicadores...
Nessa, dados de emprego são um exemplo clássico (pode ter menos gente procurando emprego), ainda mais relacionados a Brasil (considerando a relação da taxa de desemprego baixa com o rápido processo de envelhecimento da população e o assistencialismo, este um problema de amostra grande). Isso, sem contar que os próprios indicadores, como tudo nessa vida, estão suscetíveis a erros. Essa semana mesmo, a apresentação do ISM Index fez com que as Bolsas americanas abrissem no vermelho. No mesmo dia, saíram depois duas correções do indicador, e os índices Dow Jones e S&P 500 fecharam na máxima história. O que fica é o alerta quanto à inconsistência de basear as decisões de investimento em um ou outro indicador econômico pontual. Tente passar longe desse fogo cruzado.
Dois pesos, duas medidas
Interessante que cada sinal de recuperação da economia americana pode ser interpretado como um sinal de recuperação para o dólar. Afinal, economia forte tem moeda forte. Não bastasse, economia se recuperando é uma chamada natural para retirada dos estímulos - no caso, aceleração do ritmo de retirada dos estímulos. E vice-versa...
Somando isso ao elemento interno doméstico, de redução das atuações do BC no mercado de câmbio, é dólar para cima.
Observações importantes
Não sei se percebeu, mas não importa qual das interrogativas acima você prefere, o desfecho é inevitável:
+ independentemente do ritmo, a economia americana está em processo de recuperação e os estímulos mal começaram a ser retirados.
+ E, sim, a munição do Bacen hora ou outra vai acabar.
PS: com sorte (e com o sprint do dólar), a Carteira Empiricus começou voando em junho. E vai mais...
Tubas
Fora as desventuras dos indicadores econômicos pontuais e a influência da reconciliação Neymar/Marquezine na boa atuação de ontem, o que o noticiário desta quarta nos traz?
Uma disparada das ações de Abril Educação com o anúncio da entrada da Tarpon em seu bloco de controle, com quase 20% do capital. Poxa, mas o gosto de um gestor muda algo nos fundamentos de uma ação?
Pode mudar sim.
Além de agregar um componente de fluxo óbvio (tem um cara grande comprando as ações), no caso da entrada no bloco de controle alia uma visão financista (alinhada aos interesses do mercado) à empresa, eventualmente com atuação ativista sobre as decisões da empresa. Quando é alguém da qualidade da Tarpon, então, aí brilhou.
A sobrevida de OGX
A outra notícia relevante do dia é a aprovação do plano de recuperação judicial da OGX Petróleo e Gás (empresa operacional da OGPar, ex-OGX) pelos credores.Importante pelo marco, pela história controversa da companhia júnior de petróleo...
Pela aprovação em si não há qualquer novidade. Como falei em ocasião anterior, havia duas possibilidades aqui:
1. o plano não ser aprovado: a empresa é liquidada e credores e acionistas perdem tudo
2. ele ser aprovado: o “perdão” da dívida na verdade será uma troca, em que os detentores de ações atuais entregarão boa parte de sua participação na empresa aos detentores de dívida (credores). A empresa recebe a segunda parcela de aporte dos credores para ter uma sobrevida às suas operações, no valor restante de US$ 90 milhões.
Portanto, como quem votou são os credores, os mesmos que “perderiam tudo” no caso de 1, era de se atribuir maior probabilidade ao cenário 2. O problema é que 2 garante sobrevida, e não viabilidade. E também não torna as ações menos caras. Apresentei as contas em ocasião anterior: OGXP3 negociaria acima de 20x lucros (contra 8x de uma Petrobras, por exemplo) mesmo considerando o melhor dos cenários para Tubarão Azul e Tubarão Martelo.
Fosse você, preferia não entrar em uma piscina com esses tubarões...
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