Ainda estamos em meados do 6º mês do ano e incertezas as mais diversas permeiam um cenário nebuloso de efetivas perspectivas, e este quadro torna muito frágeis as projeções que vem sendo propagadas.
Ademais, o tempo é o grande opositor do governo transitório que em termos concretos ainda não evoluiu, salvo nas manifestações de anseios que, contudo, precisam ser transformados em propostas concretas viáveis.
A criação de um teto para os gastos públicos será proposta por uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) será no fundo um propósito ambicioso se observarmos o que foi feito da Lei de Responsabilidade Fiscal, tendo em vista que a gestão de dispêndios é desafiadora e envolve em sí a tentação de descumprimento por “jeitinhos brasileiros”.
Considerando o pouco tempo que o governo transitório tem para evidenciar viabilização, votá-la até julho nos parece um prazo já tardio.
Por outro lado, o ritmo que o governo federal está seguindo neste ano mostra uma forte expansão de 11,5% sobre 2015 e deve alcançar novo recorde, segundo o Estadão, e não podemos deixar de considerar este como um fator de pressão opositora à PEC e ao seu fiel cumprimento, sem que ocorram acomodações criticáveis.
Há quem veja qualidade ruim na comunicação do governo transitório de Temer e que dá margem a críticas da Presidenta em processo de impeachment, Dilma Rousseff.
Não se espera que o governo encontre forte unanimidade em suas pretensões sujeitas a aprovação política, aqui deve haver divergências que podem protelar aprovações, e mutilar em parte a essência das propostas.
Afora isto, prevalece no entorno deste contexto um conflituoso ambiente político desgastado pelas questões judiciais atingindo figuras de relevância, em especial, do PMDB.
A muito de incertezas, por isso consideramos que as projeções lançadas neste momento são ainda carentes de sustentabilidade fundamentada.
O Boletim FOCUS, considerado fonte maior das projeções, naturalmente tem percepção bastante reduzida para o final do ano, ante tantas incertezas e o país ainda completando o 6º mês do ano eivado de incertezas.
Pressupostos existem em demasia, grande parte suportado por anseios do que por realidades concretas e factíveis a partir de fundamentos.
A inflação (IPCA) projetada agora em 7,19%, antes 7,12%, não arrefece com a intensidade esperada face à forte recessão que assola o país. Os indicadores mais recentes individualizados têm evidenciado inflação aquecida e resistente.
O preço da moeda americana parece baixo frente aos inúmeros vetores mensuráveis de fluxos atuais. Há uma grande parcela de analistas que imagina que o país intensifique a atratividade de investidores estrangeiros, mas acreditamos que este retorno será muito cauteloso quando ocorrer e altamente dependente de sinais contundentes de retomada da atividade econômica. No nosso entender a inflexão do quadro atual ainda demandará tempo, e a tendência de elevação do juro americano, ainda que gradual, será um fator negativo para o Brasil.
O governo poderá, caso não consiga motivar o setor produtivo no curto prazo, utilizar o dólar com preço mais calibrado e compatível com a realidade econômica do país como fator motivador e estimulante, gerando maior competitividade externa do produto nacional exportável e contendo as importações, em especial de produtos acabados, contendo a concorrência ao produto nacional.
Esta é uma janela possível focando a retomada da atividade econômica, quebrando o ímpeto do desemprego, da queda de renda e consumo.
É bem possível que o preço debilitado da moeda americana no nosso mercado se preste, no momento, a conter pressão maior inflacionária e ganhos na liquidação dos swaps cambiais, evitando assim a expansão do déficit fiscal, mas o governo poderá ter que realizar a “Escolha de Sofia” ou esta situação ou dinamizar a economia.
Então este quadro mudaria de forma mais rápida por esta é uma característica do preço da moeda americana na economia.
Fatos concretos como a queda do PIB e da produção industrial poderiam ser mais rapidamente revertidos parcialmente.
É bastante insegura a pretensão de ter-se saldo positivo da balança comercial como projetado em US$ 50,5 bilhões se mantido o preço da moeda americana nos níveis atuais.
E a Selic a 12,50% ou 13,00% será consequente do contexto que for se definindo.
Dois aspectos relevantes continuam pontuando nossas observações, além das demais:
- Com tantas incertezas as projeções que vem sendo postas tem a marca da fragilidade;
- O ajuste do preço da moeda americana poderá ser a alternativa mais imediata para a retomada da atividade econômica, até porque os fluxos de recursos estrangeiros em termos líquidos serem negativos na atualidade, com baixa propensão a alteração de curso, e o país precisar manter suas reservas cambiais, já em parte comprometidas com as “posições vendidas” dos bancos, que vem assegurando a liquidez do mercado a vista de câmbio.