Publicado originalmente em inglês em 29/06/2021
Os investidores dos títulos públicos americanos demonstram uma complacência que pode ou não estar bem fundamentada. O relatório de empregos de junho, previsto para sexta-feira, atrairá certa atenção, mas sem gerar grandes mudanças nos rendimentos dos treasuries.
A previsão consensual é que sejam criados 700.000 empregos em junho, com o desemprego caindo levemente de 5,8% para 5,7%. Os estados que estão saindo do programa federal de extensão do auxílio-desemprego, que inclui US$300 extras por semana, estão registrando uma geração mais forte de empregos – o que talvez não seja uma surpresa.
O apoio federal se encerra em 6 de setembro, mas metade dos estados já encerrou o programa bem antes disso. Quatro estados o fizeram em 12 de junho, outros sete em 19 de junho e mais 10 no último fim de semana, sendo que os quatro restantes devem fazer o mesmo em julho. A expectativa dos analistas é que o impacto seja mais significativo em julho.
Cresce debate sobre inflação “transitória”
Tudo indica que o Federal Reserve adotará dois ritmos de redução de suas compras de títulos, que atualmente são de US$80 bilhões por mês em treasuries e US$40 bilhões em títulos hipotecários. A ideia é que a diminuição da quantidade de compras de títulos hipotecários tenha início primeiro, em meio a temores de que essas aquisições estejam criando uma bolha no mercado imobiliário.
Enquanto isso, o debate em relação ao caráter transitório da inflação está aumentando, na medida em que cada vez mais economistas avaliam os riscos de o Fed estar equivocado em sua avaliação.
O rendimento do título referencial de 10 anos superou 1,5% na sexta-feira, após dados mostrarem uma forte alta ano a ano no índice de gastos com consumo pessoal, medida preferencial do Fed para inflação. O índice subiu 3,4% em maio, maior alta desde 1992.
Na segunda-feira, entretanto, os investidores deixaram qualquer preocupação de lado e fizeram o rendimento cair novamente abaixo de 1,5%.
Também na semana passada saiu a notícia de que o presidente americano Joseph Biden havia selado um acordo bipartidário para um pacote trilionário de gastos com infraestrutura, mas, horas depois, o próprio mandatário anunciou que o pacote teria que ser associado a outra legislação que já previa novos gastos trilionários para que ele a sancionasse. Somente quando Biden esclareceu, no sábado, que não pretendia vetar a lei de infraestrutura é que as preocupações arrefeceram.
Quem sabe o que vai acontecer? As idas e vindas devem continuar por semanas, já que o congresso está tomado não só pela hostilidade entre democratas e republicanos, mas também por desacordos dentro de ambos os partidos. Nesse contexto, a ponderada garantia das autoridades do Fed parece tranquilizar os investidores
Títulos do governo francês estáveis durante eleições regionais
O segundo turno das eleições regionais na França ocupou o centro do debate especializado, mas praticamente não afetou o mercado de títulos públicos, já que a alta taxa de abstenção – cerca de 65% – indicou que a votação nas responsabilidades relativamente menores dos governos regionais pode não refletir precisamente o sentimento público.
Nem o partido governista do presidente francês Emmanuel Macron nem o de ultradireita de Marine Le Pen assumiram o controle de qualquer das 12 regiões, com partidos tradicionais de centro-direita e esquerda se destacando.
Xavier Bertrand, líder provincial no Norte da França, saiu em boas condições de se tornar candidato presidencial pelo partido gaullista, desafiando pesquisas que indicam que a disputa no segundo turno das eleições do ano que vem novamente será entre Macron e Le Pen.
Os conservadores, agora chamados Republicanos, ficaram com todas as sete regiões sob seu controle, fazendo com que representantes do partido cogitassem um retorno após a derrota para Macron em 2017.
O rendimento do título referencial de 10 anos da França subiu levemente para quase 0,20% na sexta-feira, antes da eleição, mas voltou a cair abaixo de 0,16% no pregão de segunda-feira