Muita gente anda comparando o ocorrido com Michel Temer ao momento em que Nixon foi implodido por conta do escândalo Watergate. Discordo. Nosso Presidente vive algo mais parecido com uma mistura de Ben Bernanke com Hank Paulson, com a diferença que os dois não tinham cargos no executivo. Explico: quando setembro de 2008 chegou, era evidente que o sistema financeiro norte-americano demandava cuidados sérios, visando sua sustentabilidade de médio a longo prazo. Ou seja, o subprime lá é a previdência daqui. Se não há aqui risco sistêmico do sistema financeiro, há duas combinações muito similares:
1. A inevitabilidade da insolvência no longo prazo
2. A transformação necessária iria ferir uma quantidade importante de interesses
Naquele momento, Bernanke e Paulson decidiram comprar o risco. Subestimaram o tamanho do estrago e a velocidade com que os mercados responderiam às frustradas negociações para salvar o Lehman. Cada um quis cuidar dos seus interesses e todos sabemos o que houve imediatamente após.
Em maio de 2017, Temer defende suas estratégias, convicções e seus planos. O mercado reagiu voraz na quinta-feira, sem racionalizar. Sexta-Feira respirou. Mas esta semana começou com um recado claro. O índice Ibovespa, em queda de 1,47%, mantendo-se acima dos 61.600 pontos definitivamente não reflete o estrago iminente. Diferente da dupla norte-americana de 2008, não acho que o comandante do Planalto subestime o mercado. Acho que de fato pouco se importa. Logo após o podcast desta segunda, recebi um feedback de uma das pessoas que mais respeito no mercado. Em um texto de alguns parágrafos, escrito impecavelmente, ela ponderava sobre quem (ou o que?) viria a substituir Michel Temer e os riscos inerentes a tal movimento. Tem um ponto aí!
O ideal seria se pudéssemos reiniciar a República. Um "ctrl + alt + del" na política. Esta medida seria seguida de um scan anti-vírus e a resultante seria a quarentena dos "contaminados" e uma máquina nova, limpinha, pronta para seguir em frente.
Infelizmente não é por aí. Mas ao mesmo tempo, conversei, após o feedback, com alguns "gringos", que estão vendo o copo meio cheio. A limpa finalmente parece estar em curso na visão deles e a resultante pode ser um lugar muito melhor para se investir. Ainda tem duas variáveis que não me parecem claras aos olhos internacionais (ao menos destes com quem falei hoje). A primeira é o tempo que a faxina pode demorar, combinada com o dano potencial do curso temporal. A segunda é que eles levaram daqui Joesley, que passará a viver lá na terra do Tio Sam, de Bernanke e de Paulson, além de Alcatraz, é claro.
Quando Buffett aproveitou a promoção dos mercados logo após o crash de 2008, ele buscou ativos de fundamento e com as características que sempre ressaltou em empresas com grande potencial de geração de valor futuro. Quando eu vejo ações de excelentes empresas derreterem 10%, 15%, até 20% em poucos dias por aqui, penso se realmente não é hora de ir às compras.
Por que as duas realidades não são iguais? A diferença está exatamente na previsibilidade das instituições. Pouco presto atenção, confesso, aos alardes por Diretas Já, rupturas e a volta da esquerda. Não há esquerda por aqui. Na terra do pau-brasil só temos a chamada "esquerda festiva", que prega a igualdade, desde que garantido seu acesso irrestrito ao charuto cubano e ao champagne francês. Liberté, Egalité, Fraternité. Jatinho e banquete para todos. Se não tem pão, que comam brioches!
Considerando que a maioria massiva dos membros do legislativo já entendeu que sem reformas, não haverá dinheiro para esta festa toda, é razoável imaginar que apliquem sua capacidade de articulação para pensar em uma transição institucionalmente estável. Eu não esperaria pela chegada de alguém com reputação ilibada e que tenha condições de tomar a iniciativa das conversas. Este jogo provavelmente seria perdido por W.O.
Devemos lutar com o que temos. Mas a autocrítica deve obrigatoriamente passar por todos os setores da sociedade. Da imprensa ao Ministério Público. Dos bares à Polícia Federal. Das mesas de operação aos procuradores de justiça. Se a vida imita a arte, não faria mal à sociedade brasileira se os bandidos perdessem no final. Principalmente se a novela estivesse verdadeiramente perto do fim.
Pregão encerrado e os papéis JBSS3 (SA:JBSS3) caíram 31,34%, fechando a R$ 5,98. Acho caro. Seria mais justo se custassem o mesmo que aquelas opções chamadas de "pozinhos". Quem sabe logo chegam lá.
Agora, tem muita coisa com cara de oportunidade. Empresas formadas por gente boa, decente, que cria valor e entrega crescimento. Tem diferenciais, barreiras de entrada, estrutura de capital equilibrada e foco no longo prazo. Ah se o brasileiro conseguisse compreender que o longo prazo não é semana que vem...
As companhias "dolarizadas" são a bola da vez? Muito cuidado amigo. Não somente há um exagero na velocidade com que se penalizou o Real nestes dias, como os fatores ligados às commodities, tanto minério, como petróleo e os agrícolas, além das ferramentas que o Banco Central tem para controlar o "overshoot", podem forçar correções em alguma velocidade. Nem tudo que caiu está barato e nem tudo que está subindo é realmente bom!
Podemos estar sendo forçados a amadurecer sim. Mas certamente não precisamos pagar, literalmente, tão caro pelo crescimento. Um dos momentos mais marcantes para distinguir preço de valor. Preço é à vista. Valor, a prazo.