Aos 94 anos, Warren Buffett, reconhecido como o maior investidor de todos os tempos, anunciou no último fim de semana que está pronto para deixar o comando da Berkshire Hathaway (NYSE:BRKb) (NYSE:BRKa), após seis décadas à frente da companhia e um retorno acumulado superior a 5,5 milhões por cento.
Em homenagem ao investidor que não apenas desenvolveu e popularizou a filosofia de investimento que serve de alicerce para grande parte da abordagem dos mercados financeiros atuais, como também inspirou a lógica matemática por trás do indicador de preço-justo do InvestingPro, revisitamos um dos períodos mais expressivos de desempenho da sua trajetória: os 18 meses entre novembro de 2023 e abril de 2025.
Apesar de marcado por mais vendas do que compras, esse período ilustra uma verdadeira aula de construção de patrimônio, reafirmando os princípios do "value investing". Mais que uma celebração do legado de Buffett, o desempenho serve de alerta para quem prioriza ganhos de curto prazo sem considerar fundamentos ou o contexto macroeconômico.
Dito isso, convidamos o leitor a acompanhar conosco essa despedida histórica de uma lenda dos mercados.
Buffett supera o bull market do S&P 500 enquanto reduz exposição
Em novembro de 2023, a Berkshire Hathaway acumulava alta de 11,28% no ano, desempenho muito próximo dos 10,38% registrados pelo S&P 500 no mesmo período.
Poucos, naquele momento, perceberam que essa diferença estava prestes a se ampliar. Um desses alertas veio do indicador de preço-justo do InvestingPro, que apontava que as ações da holding ainda estavam subavaliadas, com potencial de valorização de 37,45%.
O que se seguiu foi uma demonstração de precisão: os papéis da Berkshire saltaram 42,58%, superando o S&P 500 com folga superior a dez pontos percentuais.
Mas talvez o dado mais intrigante dessa performance tenha sido o fato de Buffett ter atuado como vendedor líquido durante esse período — uma postura oposta à do mercado em geral —, além de antecipar tendências com margem confortável.
Vamos analisar mais de perto a última grande movimentação de Buffett.
*Se quiser entender como o modelo de negócios da Berkshire Hathaway gera retornos tão expressivos para os investidores, confira a análise completa feita pela nossa ferramenta de inteligência artificial generativa WarrenAI.
Destrinchando a performance de mercado da Berkshire
Na ocasião em que o indicador de preço-justo foi emitido, o S&P 500 já acumulava valorização de 18,5% no ano. Ainda assim, Buffett optou por não acompanhar a escalada. Em vez disso, aumentou sua posição em caixa de forma silenciosa. Em maio de 2025, os ativos líquidos da Berkshire, somando caixa e aplicações de curto prazo, atingiram o nível recorde de US$ 348 bilhões.
Solicitamos ao WarrenAI um detalhamento da evolução dessa posição desde novembro de 2023. Os dados obtidos estão apresentados a seguir:
Fonte: WarrenAI
Gráfico com a posição de caixa da Berkshire do 4º tri de 2023 ao 2º tri de 2025:
Fonte: WarrenAI
Entre o fim de 2023 e meados de 2025, Warren Buffett conduziu a Berkshire Hathaway por uma das mais intensas reestruturações de portfólio dos últimos anos.
A guinada começou no final de 2023, com a aquisição de uma participação de US$ 6,6 bilhões na seguradora Chubb (NYSE:CB). Apesar de novas posições, o movimento predominante nos meses seguintes foi de redução — e, em diversos casos, de saída completa de ativos.
No início de 2024, Buffett iniciou uma série de desinvestimentos de grande visibilidade. O mais notável foi o corte de quase 50% na posição em Apple (NASDAQ:AAPL), com vendas estimadas em US$ 75,5 bilhões. Tida como a joia da coroa do portfólio da Berkshire, a decisão sinalizou uma clara estratégia de reposicionamento.
Na sequência, ocorreram mais ajustes: alienação superior a US$ 5 bilhões em ações do Bank of America (NYSE:BAC), forte redução na posição em Citigroup (NYSE:C) e saídas totais de Paramount Global (NASDAQ:PARA), HP (NYSE:HPQ) e Ulta Beauty (NASDAQ:ULTA). Cortes adicionais, embora menores, afetaram nomes como Capital One (NYSE:COF), Louisiana-Pacific (NYSE:LPX) e T-Mobile US (NASDAQ:TMUS).
Nem tudo foi venda. No quarto trimestre de 2024, a Berkshire aumentou sua exposição em empresas selecionadas: Constellation Brands (NYSE:STZ), Domino’s Pizza (NYSE:DPZ), Pool Corporation (NASDAQ:POOL) e Sirius XM (NASDAQ:SIRI), esta última com uma posição que superou os 117 milhões de ações, avaliadas em US$ 2,68 bilhões. Buffett também continuou a fortalecer sua posição em Occidental Petroleum (NYSE:OXY) e fez um pequeno acréscimo em VeriSign (NASDAQ:VRSN).
Outro destaque desse período foi o aumento da diversificação geográfica, com investimentos em empresas comerciais japonesas, uma alocação expressiva fora do eixo tradicionalmente focado nos EUA.
Em maio de 2025, a Berkshire apresentava um portfólio mais concentrado, com viés defensivo, e um caixa recorde de US$ 347 bilhões. Assim, quando os mercados cederam sob o impacto das tensões comerciais provocadas pelas tarifas de Trump, Buffett já estava posicionado à frente do mercado, preparado para novas oportunidades.
Foi nesse contexto que as ações da Berkshire decolaram, registrando um dos melhores trimestres da história da companhia, com uma impressionante superação de 20% sobre o S&P 500 no período.
O legado do Oráculo vive no indicador de preço-justo do InvestingPro
Apesar da aposentadoria de Buffett, seus ensinamentos continuam vivos entre os que seguem os princípios do "value investing", filosofia que sustenta o funcionamento do indicador de preço-justo do InvestingPro. O sistema monitora constantemente o mercado e atualiza o preço-alvo de cada ativo com base em fundamentos sólidos.
Com ela, é possível identificar rapidamente oportunidades de compra ou venda por meio das listas:
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Desbloqueie o acesso completo às listas acima por meio deste link.
Essa, aliás, não foi a primeira vez em que a ferramenta sinalizou uma ação subavaliada que depois entrou em tendência consistente de alta, como foi o caso da própria Berkshire Hathaway.
Ao longo do tempo, o indicador tem ajudado investidores a identificar tanto ativos promissores quanto riscos ocultos. Quem prestou atenção aos alertas, muitas vezes evitou perdas substanciais ou obteve retornos robustos.
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Considerações finais
Mais do que uma aula final sobre como construir riqueza, a despedida de Buffett deixa uma lição ainda maior: a grandeza é uma busca contínua, guiada pelo desejo simples de sempre querer ir além — seja lá o que isso signifique.
Afinal, quem imaginaria que o lendário investidor atingiria o ápice de sua trajetória aos 94 anos, e sem seu parceiro de longa data, Charlie Munger, ao seu lado?
Adeus, Warren. Foi uma honra acompanhá-lo e aprender com o seu legado.