Bastou o Federal Reserve dizer, na última quarta-feira (31), que cortes na taxa de juros dos Estados Unidos estarão na mesa em setembro, que o mercado financeiro enlouqueceu. A forte onda vendedora global vista na semana passada tem continuidade nesta segunda-feira (5).
Tudo começou do outro lado do mundo. A Bolsa de Tóquio desabou 12%, na segunda pior queda diária na história do mercado acionário japonês - a primeira ainda é o tombo de 14,9% da chamada “Black Monday”. A queda mais recente ocorreu em meio à forte valorização do iene, que “pulou” da faixa de 160 por dólar e já vale cerca de 140.
O sell-off passa pela Europa, onde os principais índices de ações têm perdas de mais de 2%, e chega até Nova York. O destaque fica com o recuo de 4,5% do futuro do Nasdaq, que mergulha dentro do território de correção diante da decepção com os balanços das big techs e as incertezas em torno da corrida pela Inteligência Artificial (IA).
A narrativa que ganha força, desta vez, é o medo de recessão da economia dos Estados Unidos. As preocupações sobre uma forte desaceleração da atividade norte-americana se intensificaram, com os investidores apostando que o Federal Reserve precisará cortar a taxa de juros rapidamente para estimular o crescimento.
Precisa desenhar?
Mas não teria sido o contrário? Ou seja, o Fed demorou demais para agir e, agora, os mercados globais estão convencidos de que será preciso reduzir os juros antes mesmo de setembro - e depois mais vezes - para a autoridade monetária não ficar “atrás da curva”.
Talvez seja apenas um wishful thinking para que os investidores não fiquem para trás. Como se sabe, tempo é dinheiro e esperar até setembro pode resultar em perdas inesperadas. Isso porque o espaço para ajuste é curto e precisa ser rápido.
Assim, os ativos que estavam com valuations em “níveis estúpidos” têm uma correção mais forte. Basta lembrar que as ações do setor tecnologia saíram vencedoras durante o aperto monetário mais rápido e intenso nos EUA, entre 2022 e 2023. Já o iene foi a moeda que mais sofreu, diante do descompasso entre as políticas do BoJ e do Fed.
Aliás, alguém aí já parou para olhar as Treasuries? O juro projetado pelo título dos Estados Unidos de 10 anos (T-note) iniciou a semana passada - portanto, antes do Fed - levemente abaixo de 4,200%. Nesta segunda-feira (5), a taxa referencial amanhece abaixo de 3,750%. Da mesma forma, o papel de 2 anos (T-bill) saiu de 4,38% para 3,78%, no período.
É essa queda de quase meio ponto percentual, cada, em menos de três dias que explica o movimento abrupto dos ativos de risco desde então. Ou seja, é o ajuste dos investidores no mercado de bônus ao início do ciclo de cortes pelo Fed já no mês que vem - e com quedas adicionais depois - que provoca um efeito em cadeia nos mercados globais.
E depois…
Isto posto, uma vez ajustada as expectativas em relação ao Fed, o jogo muda. Em um segundo momento, é o dólar que deve ficar mais fraco e o apetite por ativos de risco, maior. Afinal, na teoria, o cenário de juros mais baixos nos EUA é bom para os ativos emergentes.
Mas, por ora, prevalece a tese de que sempre dá para piorar um pouco mais, antes de melhorar. Nessa ideia de que “o barato de hoje pode ser o caro de amanhã”, o Ibovespa ainda sofre com o mantra de um Banco Central leniente com a inflação.
Daí porque a ata do Copom, amanhã, e o IPCA de julho, na sexta (9), podem provocar alterações no mercado doméstico - ainda mais agora que o Fed colocou corte dos juros na mesa e a agenda econômica por lá é vazia nesta semana.