Apesar dos milhões de recursos desviados para vários políticos brasileiros e da "mãe de todas as bombas" ter sido descartada sobre alvos do Estado Islâmico, os mercados financeiros têm se mantido relativamente bem. Sem grandes acontecimentos pelo mundo durante o fim de semana prolongado, os investidores devem continuar aliviados nesta segunda-feira.
Mas isso não significa que estão dispostos em retomar as compras de ativos de risco. Ao contrário, os negócios se preparam para entrar em uma zona do perigo, diante das ameaças de uma guerra nuclear da Coreia do Norte e de uma ação militar "cinética" dos Estados Unidos. Na Europa, o risco de fragmentação do velho continente às vésperas da eleição presidencial na França potencializa as chances de levar os mercados a territórios inexplorados.
Essas preocupações geopolíticas continuam incitando a busca por proteção, o que fortalece o iene, o ouro e reduz o rendimento dos títulos norte-americanos, ao mesmo tempo que enfraquece as bolsas e o petróleo, em uma sessão esvaziada pelas comemorações da Páscoa ainda em muitos países. A escalada da tensão ofusca os dados robustos da China, que mostraram aceleração da economia no início de 2017.
O Produto Interno Bruto (PIB) chinês cresceu 6,9% nos três primeiros meses deste ano, em um ritmo mais intenso que a expansão de 6,8% nos últimos três meses do ano passado. Trata-se do segundo trimestre consecutivo de aceleração da atividade e da maior alta registrada em um primeiro trimestre desde 2015.
A abertura dos dados mostra que o setor imobiliário teve um papel decisivo, impulsionando o avanço de 9,2% nos investimentos em ativos fixos entre janeiro e março, de +8,1% em 2016. Os números do mês passado também mostram que a atividade está ganhando tração, diante do aumento de 7,6% da produção industrial, ante +6,3% esperado, e da alta de 10,9% nas vendas do varejo, de +9,7% previsto.
Ainda assim, a Bolsa de Xangai liderou as perdas na Ásia, com -0,74%, em meio à pressão dos EUA nas negociações diplomáticas de Pequim com Pyongyang. O teste fracassado de míssil pela Coreia do Norte no domingo reduziu os riscos de retaliação imediata, abrindo espaço para o presidente chinês Xi Jinping agir em relação ao regime de Kim Jong Un. Para o vice-presidente norte-americano, Mike Pence, todas as opções estão à mesa.
No Brasil, a batalha é política. Enquanto os envolvidos nas delações premiadas de executivos da Odebrecht tentam ganhar uma sobrevida, desviando o foco para a agenda de reformas do governo Temer e mostrando aparente tranquilidade, os que escaparam das citações ainda não demonstram disposição em apoiar medidas tão impopulares.
Ontem, o presidente Michel Temer esteve reunido com a equipe econômica e líderes da base aliada para discutir a agenda de votações da reforma da Previdência. O relatório deve ser apresentado à comissão amanhã e somente aí será possível saber quão desidratado foi o texto original e qual deve ser a eficácia da proposta após os muitos recuos. O ponto imexível é a idade mínima de 65 anos para aposentar.
O pano de fundo do encontro no Palácio da Alvorada foi os mais de mil vídeos e 271 horas de depoimentos da Odebrecht, que levou à investigação de políticos com foro privilegiado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em entrevista à TV, Temer disse ver legitimidade na indignação popular com a "multidão" de políticos citados nas delações - inclusive ele mesmo, que só não é investigado por questão constitucional.
A lista de um dos delatores mostra que R$ 246 milhões foram destinados ilegalmente a 179 políticos entre 2008 e 2014, via caixa dois. E por mais que o mercado doméstico ignore tais números, escondendo qualquer surpresa e avaliando que a "Lista de Fachin" apenas evidencia "o que todo mundo já sabia", o efeito prático desses signos pode ser um atraso na implementação das reformas.
O lado positivo é que uma demora na votação daria mais tempo para a discussão de temas tão complexos como mudanças nas regras de aposentadoria e das leis trabalhistas. Mas o mercado tem pressa e quer saber logo qual será a trajetória da dívida pública nos próximos anos - variável que incide decisivamente sobre a perspectiva do nível de taxa de juros no Brasil, determinando outros indicadores, como inflação e crescimento.
Assim, a agenda econômica deve continuar ditando o comportamento dos negócios locais, sobrepondo-se às questões políticas, internas e externas. Nesta semana novamente reduzida por causa de um feriado, as atenções do dia estão no índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) em fevereiro, às 8h30, que serve como uma prévia para os números trimestrais do PIB.
Após as revisões metodológicas nas pesquisas do IBGE sobre os setores do comércio varejista e de serviços, que provocaram altas significativas nos dados de janeiro e melhoraram a performance desses segmentos em fevereiro, cresceu a chance de o Brasil finalmente interromper uma sequência de oito trimestres seguidos de resultados negativos. Tal ajuste nos números pode, assim, aliviar a pressão sobre o governo.
Por isso, o IBC-Br é aguardado com grande ansiedade. No mesmo horário, também será conhecida a Pesquisa Focus, do BC. Amanhã, a autoridade monetária volta à cena para publicar a ata da reunião deste mês em que decidiu intensificar o ritmo e cortar a taxa básica de juros em um ponto percentual, para 11,25% ao ano. O documento pode trazer pistas sobre o ritmo e a magnitude do ciclo de queda da Selic nos próximos meses.
Para fechar a semana mais curta, a véspera do fim de semana prolongado reserva ainda a prévia da inflação oficial no país, medida pelo IPCA-15. Mas a dinâmica favorável dos preços não deve trazer novidades e o índice deve passar a orbitar a faixa inferior ao alvo de 4,5%, tido como ponto central do intervalo de tolerância do BC.
No exterior, o destaque também fica com um banco central, só que dos EUA (Federal Reserve). Vários membros com direito a voto discursam ao longo da semana, podendo calibrar as apostas quanto ao momento exato em que podem acontecer outras duas altas na taxa de juros norte-americana.
Na quarta-feira, o Fed publica o Livro Bege. Um dia antes, sai a produção industrial nos EUA em março, juntamente com dados do setor imobiliário. Indicadores de atividade na indústria e nos serviços da Europa também serão conhecidos, ao longo da semana.