Recentemente, escutei um ótimo podcast do investidor Ryan Reeves. Neste episódio, de número 56, Reeves entrevista Lukasz Tomicki, gestor do fundo de investimento LRT Capital Management. Nessa conversa descontraída, os investidores abordam dois temas principais: cadeias de valor e vantagens competitivas. Achei muito interessante a forma com que Tomicki consegue relacionar os dois importantes conceitos.
Primeiramente, é importante defini-los bem. A cadeia de valor é o espectro de como algo é feito, da manufatura ao varejo, do varejo aos fornecedores. Ou seja, é o conjunto de todas as atividades desempenhadas por uma organização.
Vantagens competitivas, por sua vez, segundo o próprio entrevistado é: “Algo que permita às empresas reportarem altas taxas de retorno muito maior do que de empresas convencionais, por longos períodos, muito maiores do que a teoria microeconômica sugere”.
Caso você não saiba, a teoria da microeconomia diz que uma empresa reportando lucros e retornos sobre o capital acima da média vai rapidamente chamar a atenção dos competidores. A competição, como você sabe, é ruim para as empresas, pois comprime seus lucros, fazendo com que seja impossível conseguir retornos acima do custo de capital.
Acontece que, na prática, isso não é 100% verdadeiro, pois algumas – raras – empresas conseguiram obter altos retornos por longos períodos de tempo. Para que isso seja possível, essas companhias precisam possuir alguma das vantagens competitivas:
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Ativos intangíveis: marcas fortes, patentes, concessões, entre outros;
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Custos de troca: característica encontrada toda vez que é difícil, caro, demorado ou arriscado de se trocar fornecedores;
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Efeitos de rede: quando produtos ou serviços se tornam mais valiosos à medida que mais pessoas usam;
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Vantagens de custo: geralmente ligadas a um processo único ou economias de escala.
Certo, mas o que isso tem a ver com cadeias de valor? Tudo, pois Tomicki apenas investe em empresas com vantagens competitivas. E não é fácil encontrá-las, pois essas características são qualitativas. Portanto, não existe algum screener de ação para filtrar as empresas com custos de troca ou efeitos de rede por exemplo.
Dessa forma, o método que o gestor utiliza para encontrar essas empresas é analisando todo o processo envolvido em entregar um produto ou serviço e descobrir onde é provável que existe algum player que consiga reportar retornos sobre o capital acima da média por longos períodos de tempo. Ou seja, alguma empresa com vantagem competitiva.
Como exemplo, o entrevistado pede para que você foque na cadeia de valor de um restaurante. Estes, historicamente, não são uma maravilha de negócio, pois não conseguem reportar retornos superiores por longos anos.
Temos a sensação de que restaurantes são ótimos negócios, muito porque você rapidamente deve ter pensando nos case de sucesso, como o McDonald’s. Acontece que a maioria dos restaurantes geram baixos retornos, muitas vezes abaixo do custo de capital. É uma indústria super competitiva.
Certo, se queremos investir em empresas com fortes vantagens competitivas, não é para esse player que devemos olhar. A cadeia de valor de um restaurante é repleta de stakeholders, como os próprios funcionários, por exemplo, que também não atendem a nossos critérios.
No entanto, as operadoras de redes de processamento de pagamento (Visa e Mastercard) possuem fortes vantagens competitivas e estão há anos reportando altos retornos sobre o capital investido.
Por fim, companhias que comercializam equipamentos utilizados na cozinha e fornecedores de ingredientes super especializados também são alternativas mais interessantes do que um restaurante.
Pense nas empresas que vendem algum ingrediente muito importante e saboroso. Estas possuem um produto extremamente valioso e único. Portanto, conseguem cobrar um prêmio no preço de seu produto, que ainda representa uma pequena parte do custo total do restaurante. Ou seja, ele nem vai sentir os aumentos graduais ao longo dos anos e, melhor, estará disposto a continuar pagando esse prêmio, pois sabe que, sem esses ingredientes, a comida fica sem graça e sem gosto.
O mais impressionante é que Tomicki consegue fazer esse tipo de análise para qualquer tipo de empresa ou indústria. O investidor abordou a cadeia de valor dos celulares, dos carros, da energia solar e dos hotéis.
Devemos começar a fazer esse exercício constantemente em nossas experiências reais. A próxima vez que ir ao cinema, por exemplo, busque entender toda a sua cadeia de valor e descubra onde há economias de escala, efeitos de rede, custos de troca ou vantagens de custo.
Se conseguirmos aplicar esse exercício para toda empresa que tivermos contato, o resultado, no longo prazo, será assustador em termos de ganho de conhecimento.