Milei e a fraude com a cripto Libra: O escândalo que ameaça abalar a Argentina

Publicado 18.02.2025, 15:00

Javier Milei, atual presidente da Argentina, consolidou sua imagem política com um discurso fortemente liberal e promessas de ruptura com práticas tradicionais de governo. 

Apresentando-se como o líder que colocaria fim à “casta política”, Milei defendeu a abertura irrestrita do mercado e a redução do Estado na economia, conquistando uma base de apoiadores que enxergava nele uma esperança de transformação.

A Criptomoeda Libra (LIBRA)

Lançada em 14 de fevereiro de 2024 na blockchain Solana, a Libra (LIBRA) foi apresentada ao público como uma iniciativa de vanguarda para impulsionar a economia argentina. 

Segundo o site oficial do projeto, o token teria o propósito de financiar pequenas e médias empresas, bem como startups locais, promovendo um ambiente de crescimento econômico descentralizado. A ideia central era criar uma rede de investimentos em que cada holder de LIBRA pudesse se tornar parte ativa do desenvolvimento de negócios argentinos.

Em seu lançamento, o token demonstrou uma proposta ambiciosa de unir tecnologias de blockchain a uma agenda de desenvolvimento econômico, prometendo taxas de transação reduzidas e maior transparência na aplicação dos recursos captados. 

Então, o presidente argentino Javier Milei realizou um tweet promovendo o token LIBRA. 

LIBRA: Justiça argentina investigará Milei por promover criptomoeda que  colapsou – Mundo – CartaCapital

Tweet apagado de Javier Milei (Fonte: Twitter/X)

Na ocasião, Milei exaltou a criptomoeda como uma “iniciativa privada” de grande potencial para revitalizar a economia local, afirmando que a Argentina precisava de projetos inovadores para romper com o estado de crise.

O tweet rapidamente ganhou repercussão, elevando o interesse de investidores e entusiastas de criptomoedas, o que impulsionou o valor de mercado do token em um curto intervalo de tempo.

A relação de Milei com o universo cripto vinha de antes: ele já havia mencionado o potencial disruptivo das criptomoedas em entrevistas e palestras, além de ter histórico de apoiar outros projetos relacionados à blockchain.

Ascensão e Queda da $LIBRA

Após o lançamento, a criptomoeda Libra teve um crescimento exponencial de valor de mercado. 

Relatórios iniciais indicaram que, em poucas horas, a capitalização do token atingiu cifras bilionárias, sustentada principalmente pela divulgação do projeto por parte do presidente Javier Milei. 

A combinação de expectativa positiva e discursos alinhados à tese de “liberdade econômica” atraiu um grande número de interessados, impulsionando rapidamente o preço e a liquidez do ativo.

No entanto, esse movimento de alta durou pouco. Cerca de 11 horas após o pico, a Libra despencou mais de 90%, resultando em perdas expressivas para investidores de varejo e institucionais. 

Gráficos amplamente divulgados mostraram a queda extrema, saindo de uma capitalização de mercado de aproximadamente US$ 4,56 bilhões para pouco mais de US$ 250 milhões. 

Gráfico da LIBRA/USDC, mostrando a quedra abrupta de valor (Fonte: Dexscreener)

A queda abrupta gerou pânico e críticas imediatas sobre a solidez do projeto e o papel de figuras públicas em sua promoção.

Paralelamente, análises on-chain identificaram movimentações consideradas suspeitas: carteiras ligadas ao projeto teriam retirado mais de US$ 100 milhões em liquidez antes do colapso. 

Essa ação indicou um possível “rug pull” — prática em que os responsáveis pelo token vendem grandes quantidades de ativos, deixando investidores comuns com um token praticamente sem valor. 

A suspeita de coordenação entre carteiras também foi apontada por empresas especializadas em rastreamento de blockchain, levantando questionamentos sobre o real propósito do projeto e sobre a integridade de seus criadores.

Indícios de Similaridade com a criptomoeda da primeira-dama dos EUA

Logo após a queda repentina da Libra, surgiram comparações com projetos semelhantes acusados de fraude, como o token MELANIA da primeira-dama dos Estados Unidos e esposa de Donald Trump. 

Investigações preliminares apontaram que a equipe por trás do Libra poderia ser a mesma que atuou em outros lançamentos controversos, repetindo o padrão de rápida valorização seguida por uma brusca retirada de liquidez (rug pull).

Ferramentas de análise de blockchain, como a Bubblemaps, identificaram movimentos convergentes de carteiras que teriam participado de diversos projetos suspeitos.

Segundo esses relatórios, endereços responsáveis por movimentações de grande escala no caso Melania também surgiram como protagonistas na distribuição e subsequente despejo de LIBRA no mercado. 

Esses dados reforçam a hipótese de uma ação coordenada, em que os criadores do token se beneficiariam do aumento de preço — frequentemente impulsionado por uma figura pública ou celebridade — para então vender grandes quantidades de tokens e deixar investidores comuns com ativos desvalorizados.

A Cobertura sobre o Caso

A ampla cobertura da imprensa local e internacional trouxe o escândalo da Libra para o centro do debate público. 

Veículos argentinos, como jornais de grande circulação e emissoras de televisão, passaram a questionar a postura de Javier Milei, sobretudo em relação à promoção de criptomoedas sem uma investigação prévia mais rigorosa. 

Paralelamente, a comunidade cripto desempenhou um papel fundamental na apuração independente dos fatos. Personalidades como Coffezilla, reconhecido por investigar fraudes financeiras, conduziram entrevistas e analisaram documentos on-chain para identificar conexões suspeitas entre os criadores do token. 

Usuários do Twitter e empresas de análise de blockchain, como a Bubblemaps, forneceram dados técnicos que apontaram movimentações atípicas de grandes carteiras antes do colapso da Libra. Essas evidências foram compartilhadas e debatidas em fóruns online, contribuindo para a formação de um dossiê coletivo que reforçou as alegações de práticas fraudulentas.

Posicionamento de Milei

Depois do colapso do token, Javier Milei se pronunciou afirmando que desconhecia os detalhes técnicos e jurídicos do projeto. O presidente excluiu a publicação original em suas redes sociais e atribuiu a responsabilidade aos “apoiadores do projeto”, alegando ter apenas divulgado uma iniciativa privada que lhe foi apresentada como benéfica para a economia argentina.

Contudo, documentos vazados sugerem que reuniões pré-lançamento ocorreram entre representantes do KIP Protocol — desenvolvedor do LIBRA — e membros do governo argentino, incluindo o próprio Milei. 

Além disso, há registros de encontros na Casa Rosada com figuras-chave do projeto, como Hayden Mark Davis, apontado como um dos principais investidores por trás da criptomoeda. Esses fatos indicam que o presidente e sua equipe teriam tido contato prévio com os criadores do token, o que contrasta com a alegação de desconhecimento total.

Diante da repercussão negativa, o governo publicou uma nota oficial informando que Milei solicitou à Agência de Anticorrupção uma investigação sobre o ocorrido, incluindo possível envolvimento de servidores públicos na promoção da criptomoeda. 

A mesma nota destaca que o presidente se coloca à disposição para esclarecimentos, reafirmando não ter participado de qualquer ação que pudesse configurar fraude. Ainda assim, parlamentares da oposição consideram insuficientes as explicações e já cogitam medidas legais mais severas, incluindo a possibilidade de impeachment.

Repercussões e Impactos

O colapso da criptomoeda Libra gerou repercussões imediatas no cenário político argentino, especialmente entre os membros da oposição. 

Parlamentares como Leandro Santoro criticaram abertamente o presidente Javier Milei, acusando-o de ter colocado em risco a imagem do país ao promover um projeto sem verificar adequadamente sua legitimidade. 

Essas críticas levaram a especulações sobre um possível pedido de impeachment, discussão que ganhou força diante do constrangimento internacional causado pelo episódio. 

Além disso, advogados argentinos formalizaram uma ação criminal por fraude e violação da Lei de Ética Pública, ampliando a dimensão jurídica do caso e abrindo espaço para a possibilidade de processos de responsabilidade contra Milei.

Do ponto de vista econômico e social, os prejuízos sofridos por investidores – tanto pequenos aplicadores quanto institucionais – repercutiram negativamente na já fragilizada credibilidade do mercado cripto argentino. 

A abrupta desvalorização da Libra afetou a confiança de potenciais investidores internacionais, que passaram a questionar a segurança de se associar a projetos endossados pelo governo. 

A imagem de Milei sofreu danos significativos, e analistas de mercado passaram a considerar o caso como um exemplo de como a ausência de regulamentação pode resultar em perdas de grande escala.

Nesse contexto, cogitam-se diferentes cenários para o futuro. Caso haja confirmação de práticas fraudulentas e o Judiciário identifique envolvimento direto ou negligência grave por parte do presidente, a pressão política pode evoluir para uma tentativa efetiva de destituição. 

Por outro lado, há quem defenda que o governo busque soluções para ressarcir, ainda que parcialmente, os investidores prejudicados, a fim de estancar a crise de credibilidade.

Por fim, a confiança dos cidadãos na presidência foi abalada, assim como a percepção internacional de solidez das instituições argentinas. 

Em última análise, o desenrolar dessa crise determinará a capacidade do governo Milei de recuperar sua credibilidade e influenciará a maneira como o mercado cripto será encarado no país, definindo se haverá fortalecimento ou, ao contrário, uma retração considerável no interesse por ativos digitais no território argentino.

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