O governo, através o Ministro da Fazenda, vem atuando no sentido de influenciar as expectativas, eliminando do cotidiano pontos de discussões em confronto que motivam questionamentos e incentivam a volatilidade e a especulação sobre fatos e projeções.
Mas, ainda que seja esta uma atitude correta e que alcance um relativo resultado que tem levado a uma postura mais tolerante do mercado financeiro, principalmente após uma melhor acomodação das questões políticas e as manifestações das agências de rating S&P e Fitch, no câmbio ainda apresenta estreita volatilidade que acaba por determinar um prolongamento na definição do que se poderia considerar taxa de equilíbrio.
A meta fiscal ainda revela relativa dependência de apoio do Congresso aos cortes nos benefícios sociais e aumento dos impostos, e principalmente os cortes nos benefícios sociais impactam em posicionamentos dogmáticos do partido que esta no poder e que tem sido o grande fator catalisador de apoio junto as classes mais baixas da sociedade.
É bem verdade que alguns dos mais destacados benefícios sociais já vem sendo deteriorados pela inflação, não nos parecendo que o governo tenha condições de promover aumentos.
Há ainda muita insegurança sobre as perspectivas do desempenho do setor externo do país e a situação das contas externas.
A atratividade de capitais estrangeiros para setores produtivos tende a apresentar retração neste ano, e os capitais especulativos sobre os quais reside a grande expectativa de que intensifiquem seus volumes de ingressos tendem a ficar mais contidos já que o fato do país proporcionar alta rentabilidade também sugere altos riscos de variações da taxa cambial que afastam o interesse por arbitragens dos recursos oriundos de operações de “carry trade” no exterior.
O setor de comércio exterior reflete as dificuldades que o país vem encontrando, com a balança comercial registrando até a 3ª semana de abril um déficit acumulado no ano de US$ 5,6 Bi, e as perspectivas para as exportações de manufaturados a despeito da taxa cambial ter sofrido expressiva correção favorável não revelam tendência reação no curto prazo, visto que houve uma significativa perda de mercados entre 2008 e 2014, em grande parte pela decorrente da prática interna de artificialização do preço do real em prol do controle da inflação.
O setor de commodities sofre com a queda dos preços internacionais. O fato de vislumbrar-se a possibilidade da China flexionar mais a sua política monetária poderá indicar esforço visando manter o crescimento da sua economia e isto poderá ter algum impacto nos preços no mercado externo.
O Ministro Levy tem destacado que o país irá anunciar um programa de concessões focando a infraestrutura, mas a relação causa-efeito tradicionalmente no Brasil é lenta e o tratamento muito burocrático, além de serem prolongados os ajustes em torno das margens remuneratórias. Se o Ministério da Fazenda conseguir superar os entraves, poderá ocorrer melhora de fluxos de recursos em 2016 e resultados práticos, quem sabe, em 2017.
O fato é que ainda há um volume passivo liquido de importações a serem liquidadas e se o capital especulativo mostrar-se cético em relação ao Brasil face as incertezas e considerar que há riscos na taxa cambial atual, poderá ocorrer aperto na liquidez no mercado à vista.
Por isso, temos ressaltado a necessidade da moeda americana alcançar de forma equilibrada um preço mais elevado do que a de momento, algo como R$ 3,10 e menos sensível aos fatores externos já que existem fatores internos mais preponderantes.
A relação entre o Euro e o dólar tem no fundo conteúdo de interesse comercial. O BCE irriga o mercado com farta liquidez visando depreciar o Euro frente ao dólar para ganhar mercado exportador e contingenciar suas importações. Os americanos fomentam os temores em torno da Grécia para criar pressão sobre o Euro, ao mesmo tempo em que convivem com um “corner” que a rigor não sugere que eleve a taxa de juro no momento, pois atingiria a recuperação da atividade da sua economia.
O BCE procura fomentar a ideia de que a Grécia não sairá da euro zona para fragilizar as especulações e fomentar o objetivo primário que é o de depreciar o Euro.
Enfim, embora o real tenha aberto com tendência frente ao dólar, é preciso ter atenção para este movimento desprovido de fundamentos.
Uma correção na relação dólar/real com valorização da moeda americana e a retomada mais aguda da valorização do dólar sobre o Euro são fatores que não devem estar fora do radar.