Na primeira semana do novo governo, foi especulada a adoção de uma moeda comum entre os países membros do Mercosul. Um tema polêmico, que suscitou críticas e debates. Mas, será que essa moeda é funcional para as economias do bloco?
As áreas geográficas que fariam sentido para o uso de uma mesma moeda seriam aquelas com fatores como:
1. grande fluxo comercial: o que não é o caso do Mercosul, que representa menos de 6% de da corrente brasileira de comércio);
2. Muita mobilidade de mão-de-obra, tampouco ocorre entre os países do bloco, e
3. Alta integração financeira, cujos diferenciais de juros e diferentes regulações bancárias entre os países do Mercosul são provas de como isso está longe para acontecer.
Com o grande experimento empírico da zona do euro, muito se aprendeu sobre a adoção de uma moeda comum entre os países, desenvolvendo-se ainda mais a teoria. Simetria de choques é algo relevante, uma vez que o banco central será único. No caso europeu, vale observar como a assimetria de choques leva a grandes dificuldades às economias do sul europeu comparado com as economias centrais do bloco em momentos em que a inflação se tornou divergente e os juros eram únicos.
E, fundamentalmente, ficou claro na experiência europeia que a união monetária não existe sem algum tipo de federalismo fiscal. Transferências fiscais (ou empréstimos subsidiados) das economias centrais para as do sul do continente se mostraram importantes fontes de estabilização, por exemplo no caso da crise Grega.
Nada disso existe para o Mercosul e, mesmo como um ponto de chegada futuro, estaríamos há décadas disso. Tome-se como exemplo os longos processos de ajustes aos padrões do “Tratado de Maastricht” que países que desejam ingressar ao Euro precisam se submeter, alinhando políticas monetárias e fiscais, com limites de inflação, déficit e dívida pública. Em suma, essa é uma discussão que para o caso brasileiro não faz qualquer sentido econômico.