As bolsas de ações continuam a fazer novos recordes de alta ajudadas pelo sentimento de que a fase mais aguda da guerra comercial entre Estados Unidos e China ficou para trás, e o afrouxamento monetário provido por juros mais baratos e injeção de liquidez mantem o caminho positivo para os ativos de risco.
As commodities pegam carona na onda e tem atraído compras, mesmo com o índice do dólar (DXY) recuperando. Entre os componentes do CRB o café em Nova Iorque foi a matéria-prima que mais subiu nos últimos cinco dias.
A performance o contrato “C” teve também à seu favor a quebra de resistências técnicas importantes, como a da média-móvel de duzentos dias, uma linha de tendência negativa rompida na quarta-feira e o vencimento das opções que expos quem estava vendido em opções de compra (calls) forçando estes a comprarem o mercado para proteger suas exposições.
Com os fundos correndo para recomprar parte de suas posições vendidas o arábica conseguiu inclusive não ser influenciado negativamente pela queda da moeda brasileira.
No país da constante incerteza jurídica os investidores internacionais viraram as costas para o leilão do pré-sal, frustrando a expectativa dos mercados de uma maior entrada de dólares americanos no Brasil e como consequência desvalorizando o Real.
Para completar, o Supremo Tribunal Federal julgou pela terceira vez a validade da prisão em segunda instância, agora decidindo por suspendê-la e soltando não apenas o Lula, um símbolo de que políticos poderosos podem ser punidos, mas um grande número de condenados que cometeram crime e lesaram os cidadãos de bem.
Desta forma o dólar foi a R$ 4.1705 na sexta-feira, bem próximo do maior nível do ano, fazendo com que Nova Iorque convertida em Reais atingisse o mais alto patamar desde outubro de 2018, ou R$ 471.70 centavos por libra-peso – considerando o contrato para segunda posição, hoje representado por março de 2020.
A puxada do arábica é muito similar àquela vista em final de junho/começo de julho, quando então a preocupação era com o frio/geada.
Também por este motivo muitos participantes têm buscado o motivo fundamental para a alta deste momento, alguns mencionando uma demanda muito mais forte, outros falando do comprometimento do potencial da próxima safra e alguns poucos mencionando a falta de disponibilidade.
Há de se ter cuidado em exagerar na leitura, principalmente dado o volume de negócios nas últimas semanas refletidos, também, pelas vendas de comerciais reportadas no relatório do CFTC.
Não custa lembrar que, além dos motivos mencionados no terceiro parágrafo acima, os fundos recompraram quinze mil contratos entre os dias 23 de outubro e 5 de novembro, e provavelmente outros seis a sete mil contratos entre quarta e sexta-feira.
Estas recompras são liquidações de posições vendidas, enquanto na parte comprada a posição está virtualmente inalterada, logo a natureza do rally é de cobertura de posições e não apostas em novas altas.
A demanda é um dos componentes mais difíceis de se medir, ainda mais hoje em dia com o consumo crescente da terceira onda, do crescimento via food-service (que além das cafeterias pequenas inclui restaurantes), bebidas prontas e das vendas feitas on-line – entre tantas outras modalidades.
Para referência a OIC no seu boletim de outubro menciona um crescimento de 1.5% da demanda, número aquém dos 2% que vários agentes usam.
As exportações brasileiras, assim como de outras origens, continuam saudáveis, com o primeiro provavelmente embarcando mais de três milhões de sacas em outubro, os produtores de suaves na beira da época de maior disponibilidade e os estoques no destino relativamente confortáveis – assumindo que não haverá uma queda da produção no próximo ano.
No tocante ao potencial da safra brasileira, o campo de discussão cabe números de todas as vertentes, mas a percepção do mercado é que o clima tem sido favorável e mesmo com as perdas ocorridas pela geada e pelo clima seco e quente, ainda que não se atinja o potencial pleno – sempre algo mais teórico do que pratico – não há o sentimento de que será pequena.
Os produtores sabiamente estão aproveitando para negociar cafés disponíveis e de safras futuras, usando da disciplina para não se arrependerem quando o terminal voltar a cair.
A acentuada alta deixa vulnerável pontos técnicos muito próximos de suporte, expondo o mercado para uma queda forte caso rompa US$ 107.50 centavos por libra e 102.25 já na próxima semana (base dezembro).
O mercado de café brasileiro está em luto pelo falecimento, na última terça-feira, de um capixaba de muito respeito e admiração, o Sr.Otacílio Coser, fundador do Grupo Coimex que não apenas foi um grande player mundial, como formou grandes profissionais, muitos até hoje trabalhando em diversas empresas do setor de commodities.
Nossos sinceros sentimentos aos familiares e amigos do Sr.Otacílio.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.