O mercado de açúcar em NY teve um desempenho fraco durante a semana e fechou na sexta-feira com uma queda de mais de 10 dólares por tonelada em relação à semana anterior. O contrato futuro com vencimento março/2017 encerrou a 14.98 centavos de dólar por libra-peso, 47 pontos abaixo da sexta passada. Todos os demais meses também foram pressionados com quedas que variaram entre 25 e 43 pontos, ou 5,50 e 9 dólares por tonelada.
No nosso último comentário alertamos que um eventual entusiasmo dos altistas deveria ser tratado com muita moderação porque, muito embora os fundamentos sejam construtivos no médio prazo em função da menor disponibilidade de cana para a safra 2018/2019 no Centro-Sul, de uma perspectiva de melhora do consumo de combustíveis e preços mais robustos no petróleo, as incertezas acerca do superávit mundial de açúcar (que oscila entre 500.000 toneladas e 9 milhões de toneladas dependendo do seu interlocutor), colocam um teto em reais por tonelada na cabeça do trader. Por exemplo, R$ 1,200 por tonelada FOB equivalente com polarização parece ser o objetivo a ser alcançado e qualquer penetração das cotações no território de preços que permite esse resultado atrai um número maior de vendas.
O que não dá para saber neste momento, é quanto do volume rolado de outubro para março foi efetivamente fixado. Na semana nosso modelo deve mostrar em quanto evolui durante novembro a fixação de preços das usinas em NY. No final de outubro estávamos em 19.4%. Imagino que vamos chegar nos 25%.
Várias usinas refazem seus números de moagem de cana para o ano que vem. A maioria não apenas acredita que vamos ter um volume de moagem menor, mas também um rendimento menor em virtude de um canavial mais antigo. Quanto mais claro ficar esse cenário, mais certo é que teremos uma correção dos preços. O mês de novembro se encerrou com uma média de preços de NY em 14.97 centavos de dólar por libra-peso. É a terceira alta em seguida da média mensal: 13.93 em setembro (alta em relação a agosto), 14.23 centavos de dólar por libra-peso em outubro e agora novembro. Nos últimos seis anos, o preço médio de NY para o mês de dezembro nunca foi superior ao preço médio de novembro.
Um dos pontos que temos ouvido no mercado é que o consumo de combustível em gasolina equivalente tem crescido modestamente e aponta para um possível crescimento mais consistente em 2018. Caso o PIB cresça 2% no ano que vem, alguns analistas apostam no crescimento do consumo de combustível em 5,5%. Até outubro deste ano, o consumo de combustível em gasolina equivalente no período de doze meses (de novembro de 2016 até outubro de 2017) foi de 53.9 bilhões de litros. Um crescimento de 5.5%, se ocorresse, representaria aproximadamente 1.1 bilhão de litros de etanol que enxugariam 2 milhões de toneladas de açúcar. É possível.
Os fundos estão comprados em 15.000 lotes. Tenho dúvida se irão com muita sede ao pote desta vez, como o fizeram o ano passado quando colocaram artificialmente pelo menos mais 300 pontos sobre o valor justo do açúcar. Não tem fundamento que sustente isso neste momento. No entanto, pelo menos, não parece haver (salvo os atrasos de fixação de usinas) tampouco fundamento que derrube os preços para abaixo dos 14 centavos de dólar por libra-peso, por exemplo. Mas, por que isso? Petróleo.
Identificamos uma correlação de 92% em nosso modelo de previsão de preços do hidratado que se baseia no preço do petróleo no mercado internacional. Embora os dados tenham sido coletados apenas a partir de agosto em função da introdução da política de formação de preços da Petrobras (SA:PETR4), ainda precisa ser testado por mais tempo para sentirmos a consistência. Houve necessidade de introduzir um atraso nas curvas uma vez que a Petrobras não mexe nos preços imediatamente, mas com um delay que foi capturado pelo modelo.
O que pode derrubar o mercado de açúcar no atual estágio? O preço do petróleo abaixo de 50 dólares por barril (Brent), o real valorizado em relação ao dólar (3.2000) que, combinados, minariam a vantagem competitiva do etanol em relação ao açúcar e fariam com que as usinas, antes ainda de começar a safra 2018/2019, refizessem seus planejamentos diminuindo a produção de etanol. Muita estrada ainda pela frente.