Após um interregno de três anos, é com satisfação que retomo a escrita de artigos sobre mercados financeiros no Investing.com, edição Brasileira.
O tema de hoje está relacionado com uma notícia recente do ChinaDaily.com onde se diz que em 2016 os Fundos de Pensões estarão autorizados a investir no principal mercado de ações do país (A-Shares), uma quantia pouco acima dos USD 92 Bilhões.
Por todo o lado surgiram críticas nas redes sociais a esta medida. Compreensivelmente. Um dos argumentos recorrentes é o de que a bolsa da China se encontra demasiado cara para ser encarada como opção de investimento.
Comparamos os dados das bolsas de New York (SP500) e China (SHSZ300) e concluímos que esta narrativa do "custo elevado" não será exatamente assim, em virtude das recentes quedas acentuadas da bolsa chinesa. Inclusivamente, os dados fundamentais até não ficam mal na fotografia.
Alguns parâmetros de Valorização, tais como Price/Earnings e Price/Book Value estão mais baratos em Shanghai do que em New York. Na perspectiva Fundamental, alguns números de Shanghai são decentes e até mais favoráveis do que os de New York, tais como Return on Equity e Profit Margin, apresentando os restantes valores elementos positivos e negativos para ambos.
Os riscos que os aforradores chineses correm estão mais relacionados com as seguintes fatores:
1. O processo de transformação de uma economia baseada em indústria em uma economia de serviços tem se revelado lenta, ao passo que as indústrias, tradicionais ou não, apresentam uma acentuada sobre-capacidade que a tem conduzido a uma onda crescente de salários em atraso e despedimentos em massa. Numa palavra - a economia está arrefecendo.
2. O posicionamento extremamente alavancado dos investidores privados e institucionais no mercado de ações.
A relação entre os fatores 1 e 2 é perigosa - no atual contexto em que um número crescente de companhias entra em default, o número de pessoas com salários em atraso e desempregados sobe exponencialmente, o risco de uma venda em pânico é bem real.
A China será, provavelmente a par dos Estados Unidos, um país em que existe uma enorme percentagem de investidores privados no mercado de ações. Daí se explica o comportamento por vezes demasiado exuberante e irracional do passado. Inclusivamente, num inquérito recente 77.5% de um total de 3874 investidores particulares apoiam esta medida. Aparentemente ignorando a situação atual
Qual a ilação a extrair?
O timing para a aplicação desta medida, mexendo com as poupanças de uma vida de muitas pessoas (muitas delas com idade avançada) é duvidoso.
Tenham as autoridades Chinesas o saber e engenho necessários para lidar com este risco e conseguir dinamizar a economia, e certamente que um investimento de médio ou longo prazo no mercado de Shanghai será uma opção a considerar, alternativamente aos mercados maduros do ocidente.
Bons investimentos!