EUA registram superávit orçamentário surpresa de US$ 27 bilhões em junho, impulsionado por tarifas
Em 1999, a Pets.com virou ícone da bolha das pontocom. Valia centenas de milhões de dólares, nunca deu lucro e implodiu meses depois.
Em 2025, a Nvidia (NASDAQ:NVDA) atinge mais de US$ 4 trilhões em valor de mercado, uma cifra tão colossal que se aproxima do PIB da Alemanha, estimado em cerca de US$ 4,5 trilhões. Claro: ao contrário da Pets.com, a Nvidia é lucrativa, dominante em seu setor e lidera uma revolução tecnológica. Mas o clima de euforia que a impulsiona remete, perigosamente, ao entusiasmo irracional do fim dos anos 1990.
E quem nos ajuda a entender esse fenômeno é o psicólogo e Nobel de Economia Daniel Kahneman.
Decisões rápidas, confiança cega
Segundo Kahneman, investidores raramente agem com base em cálculos racionais. O que prevalece é o chamado Sistema 1: um modo de pensar rápido, automático e emocional, perfeito para o consumo diário, mas falho quando aplicado a decisões financeiras de longo prazo.
É esse sistema que alimenta o efeito halo: quando uma característica positiva, como o lucro recorde ou a posição de liderança, contamina a percepção geral da empresa, elevando expectativas a níveis quase mitológicos. A Nvidia virou o símbolo da inteligência artificial. Tudo que ela faz é interpretado como genial. E o mercado começa a precificar não o que ela entrega hoje, mas um futuro idealizado.
O resultado? Um ciclo de excesso de confiança, viés de confirmação e FOMO (o medo de ficar de fora). “Se eu não comprar agora, vou perder o novo boom.” “Melhor entrar caro do que ficar de fora.” Esses pensamentos, comuns até entre gestores institucionais, revelam o domínio da psicologia sobre os fundamentos.
Fundamentos ainda importam?
A Nvidia (BVMF:NVDC34) tem uma base sólida: receitas crescentes, tecnologia de ponta e quase monopólio em GPUs. Mas quando o mercado paga múltiplos que embutem lucros projetados até 2040, deixa de investir em realidade e começa a apostar em narrativa. E toda narrativa, por mais sedutora que seja, tem limites.
Bolhas não nascem de fraudes, nascem de tecnologias promissoras. Mas morrem quando a expectativa deixa de ter lastro. A IA é real. A Nvidia é brilhante. Mas o momento atual reflete menos os fundamentos da empresa e mais a psicologia de massa, o mesmo campo que Kahneman passou a vida tentando desvendar.
A história pode não se repetir, mas costuma rimar. E talvez esteja na hora de parar, respirar e lembrar que mesmo as empresas mais incríveis não escapam da gravidade dos ciclos.