Na quarta-feira o preço da moeda americana foi depreciado até R$ 2,99/R$3,00, tendo sido atribuída como causa a Ata do FED americano que pontuava com clareza que a economia americana está com dados frágeis que sugerem que o juro não seja elevado na reunião de junho e talvez nem em setembro, quiçá somente no ano que vem.
Naturalmente, o fato tira pressão relativa sobre a perspectiva de saída maciça e imediata de recursos externos do país e, como contumaz, o preço do dólar repercute com depreciação, embora hajam internamente fatores afetando negativamente as expectativas, que se configuram mais fortes e deveriam ser considerados como antagônicos à eventual tendência de queda.
Analistas então justificam o fato atribuindo a apreciação do real “à tendência do exterior”, como se o Brasil estivesse no seu melhor momento e incólume aos seus próprios e expressivos problemas internos que expandem incertezas nas expectativas.
E então, o que ocorreu ontem para o preço da moeda americana apresentar apreciação de 1,27%, movimento que vem se tornando corriqueiro no mercado, retomando o preço de R$ 3,04.
Afinal, o real se depreciou em 1,27% aqui frente ao dólar e este se depreciou 0,27% frente as principais moedas globais. Seguindo a lógica dos “efeitos externos” os movimentos foram contraditórios, além do fato do agravamento dos dados econômicos americanos.
Os efeitos da Ata do FED só valeram para a quarta-feira? E ontem, novos dados desapontadores surgiram na economia americana. Os pedidos de seguro desemprego subiram na última semana para 274 mil após 264 mil na semana antecedente. As vendas de imóveis residenciais usados caíram 3,3% em abril ante expectativa de alta de 1%. O FED da Filadélfia informou que o seu índice de manufatura caiu para 6,7 em maio após 7,5 em abril e projeção que registrasse 8,0.
Cada vez fica mais claro no Brasil que as medidas do ajuste poderão encontrar a economia sem condições de dar “respostas” esperadas e sim entrar em recessão mais forte.
A arrecadação federal caiu em abril para R$ 109,241 Bi, queda de 4,62% frente a abril de 2014 em termos reais, sendo o pior resultado para o mês desde 2010. No ano o acumulado atinge R$ 418,6 Bi, queda real de 2,71% na comparação do quadrimestre com o mesmo período de 2014.
Isto representa risco para o alcance do superávit primário e, por conseguinte, para a manutenção do grau de investimento do país.
Esta tem sido uma preocupação velada do Ministro Levy que discretamente menciona este risco para barganhar a aprovação das medidas de ajuste, mas se a economia não tiver condições de responder com resultados, todo o esforço nada mais será do que uma “vitória de pirro”.
E esta não é uma hipótese que esteja fora do radar das autoridades. O Diretor de Politica Econômica do BC, Luiz Awazu Pereira, reiterou que o mercado de trabalho dá sinais de “distensão”. Citou “a desinflação da economia passa pela redução salarial” e mais, “isso pode não ser suficiente, mas é condição necessária” e ainda “ há sinais, portanto, de que o mercado de trabalho poderá contribuir para a desinflação da economia, em contraste com o que vimos nos últimos anos”. Evitou falar que o risco de intensificação do desemprego, da queda de renda e consumo está nas expectativas do governo e que este cenário ruim pode dar contribuição importante para a queda da inflação.
Quando salientamos que o pior pode estar por vir é porque há fundamentos críveis ancorando esta perspectiva.
O BC naturalmente não expressa publicamente o fato de o país ter pouca perspectiva de intensos fluxos cambiais, mas certamente sabe que novamente não alcançará volume suficiente de financiamento externo para dar suporte ao expressivo déficit em transações correntes.
Mas, é necessário que tenhamos nesta fase preço da moeda americana mais elevado para que possa contribuir para a redução do déficit em transações correntes e agindo firme para mitigar a volatilidade.
Para tanto, precisa retirar o excesso de contratos de swaps cambiais presente no mercado de câmbio futuro, tirando espaço de manobra dos especuladores que denotam estar ingressando com capitais especulativos de curtíssima duração no país e sem realizar “hedge”, mas estimulando movimentos no preço da moeda que lhes garanta saída com lucro.
O BC precisa aprimorar o seu monitoramento sobre o mercado de câmbio, que tem tendência normal de apreciação do preço da moeda americana, calibrando adequadamente o volume de oferta de rolagem de contratos de swaps cambiais.
Volatilidade e comportamento contraditório inibem e encarecem os negócios.
O preço do dólar neste momento, com baixa volatilidade, deveria estar em torno de R$ 3,10.