Quatro (novos?) argumentos para o dólar
1. Lembra da máxima “economia forte tem moeda forte, economia fraca tem moeda fraca”? Pois a economia americana cresceu 4% no segundo trimestre, um 4x1 contra o Brasil, que já toma de 7 da inflação;
2. Os dados acima das expectativas nos EUA trazem desdobramentos óbvios sobre as apostas para a retirada dos estímulos por lá, com espraiamento sobre os juros: o rendimento do título do Tesouro americano de dois anos, por exemplo, tocou o maior nível desde maio de 2011. O que isso quer dizer? Juro mais alto atrai capital de volta para os EUA;
3. As moedas globais seguem reagindo. O euro bateu o menor nível desde novembro e o iene chegou ao patamar mais baixo em três meses em relação ao dólar. Enquanto isso, o real continua na banda;
4. Estão saindo mais dólares do que entrando do Brasil. O fluxo cambial brasileiro vem bem mal, negativo em US$ 4,7 bilhões em julho (até dia 25).
Apesar da bazuca do Bacen, intervindo diariamente no câmbio, e da suposição de que conseguimos passar pela retirada dos estímulos nos EUA (que sequer começou) sem enfrentar uma crise cambial, temos dia após dia novas evidências de que o real está beeeeem fora do lugar.
Férias frustradas
Não, não estamos na Sessão da Tarde, infelizmente. Deparamos sérios contrapontos também ao último (único) dos pilares econômicos ainda em pé: o mercado de trabalho.
A Gerdau (GGBR4) recém anunciou que está dando férias para “algumas turmas” em “algumas usinas”. Com a fraca demanda no mercado interno, a empresa afirmou que já roda próxima de 70% de utilização de sua capacidade produtiva, enquanto o setor trabalha normalmente em cerca de 85% de utilização.
Isso, logo depois que a Randon (RAPT4) anunciou a redução de jornada de trabalho. Durante três meses ao menos, suas semanas terão apenas quatro dias úteis. A medida deve abranger até 12 mil funcionários.
É o processo de desindustrialização batendo no mercado de trabalho. Lembrando que não são casos isolados. Os últimos dados do Caged mostraram a criação de apenas 25 mil empregos formais em junho, contra projeções na casa de 110 mil (ponto alto) e 40 mil (ponto baixo). E os números de maio já haviam apontado queda de 18% na criação líquida de vagas, pior resultado para o mês desde 1992.
A última vez que a Randon adotou postura semelhante foi no auge da crise do subprime, cinco anos atrás. As montadoras, por exemplo, operam com o maior nível de estoques desde 2008, mesmo após seguidos estímulos. Grosso modo, nossa indústria já enfrenta hoje situação semelhante à da crise de 2008 em alguns segmentos.
A diferença? O que antes era algo conjuntural, agora é estrutural.
Lembra a meta de superávit?
Esta quinta-feira também destaca os dados das contas públicas de junho, muito ruins. Com o pior déficit primário para um mês de junho da história, depois do pior déficit para um mês maio, o superávit primário acumulado no primeiro semestre é de R$ 29,3 bilhões, pior marca para um primeiro semestre desde o começo da série histórica.
Lembrando que superávit primário é o que sobra entre gastos e receitas para a nossa economia pagar sua dívida e juros. Lembrando também que o governo se comprometeu a entregar um superávit primário de R$ 99 bilhões este ano, ou 1,9%. Para tanto, terá de tirar leite de pedra no segundo semestre. Ou, fazer mais do que o dobro do que fez na primeira metade do ano. Dá-lhe dividendos (e dívida) das estatais.
O calote velado
Bom, o governo atrasou o repasse de recursos do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) para as empresas em junho e pediu adiamento do repasse de recursos às distribuidoras. Temos recebido de clientes, também, a informação de que “e a Caixa não liberou o PIS feitos através das folhas de pagamento pelas empresas, que deveria ter saída neste mês”...
Reforçando: as contas públicas estão desajustadas, de tal sorte que o governo pode, em breve, encontrar juros maiores em suas emissões - vão exigir mais prêmio para se estar em Brasil.
O dia D das Blue Chips
Além da agenda econômica carregada, temos o dia D dos resultados corporativos, com algumas das empresas mais relevantes da Bolsa brasileira apresentando os seus números para o segundo trimestre.
Em poucas palavras, tento resumir o que há de mais relevante neles:
+ Vale: pagou US$ 2,1 bi em dividendos sem alterar sua dívida ou alavancagem
+ Bradesco: ROE de banco grande, de 20,7%
+ Santander: ROE de 11,6%
+ AmBev: mix de receita e ebitda fracos com lucros bons
+ Embraer: aviação comercial forte e carteira de pedidos de US$ 18 bilhões
Legal que somente no segundo trimestre, considerando apenas a divulgação de poucas empresas listadas que divulgaram seus resultados nesta quinta-feira, temos mais de R$ 10 bilhões de lucro líquido. Isso mesmo. Somente ali em cima.
A propósito, quando você vai começar a pegar a sua fatia neste bolo?
O paradoxo do lucro
Interessante que AmBev fez R$ 2,2 bilhões de lucro no segundo trimestre, e vale R$ 250 bilhões na Bolsa. Enquanto isso, a Vale fez o dobro de lucro no trimestre e vale R$ 160 bilhões na Bolsa. Isso, falando de um trimestre ruim da Vale, que captura o piso da trajetória recente de queda do preço do minério de ferro.
O que poderia explicar tamanha discrepância?
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.