Com Alex Ferreira*
O resultado do PIB no 2º trimestre superou as expectativas de mercado, com um crescimento de 1,4%, acima da previsão de 0,9%. Em comparação ao ano anterior, a economia cresceu 3,3%. Esse avanço foi impulsionado pelo consumo das famílias e pelos gastos do governo. Esse cenário é corroborado pelos dados recentes de desemprego, que apontam uma economia em expansão. O aumento das importações, que cresceram 7,6%, reflete o fortalecimento da demanda interna, que avançou 2,5%. Outro ponto relevante é a redução dos estoques, indicando um descompasso entre a oferta e a demanda. Além disso, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (UCI) na indústria atingiu 83,7% em agosto de 2024, o maior nível desde 2013. Esses fatores combinados sugerem que a economia pode estar operando no limite de seu potencial, elevando o risco de desancoragem da inflação em relação à meta.
Embora o crescimento da demanda esteja pressionando os preços, o investimento privado permanece baixo, com a taxa de investimento abaixo de 17% do PIB. Isso reflete problemas estruturais de crescimento, limitando a capacidade da oferta agregada de atuar como um mecanismo para aliviar as pressões inflacionárias. No relatório Focus mais recente, o mercado ajustou suas expectativas, com a projeção de crescimento do PIB subindo para perto de 2,7% em 2024. Além disso, as expectativas de inflação aumentaram para perto do limite da meta de 4,5%. Para 2025, as projeções continuam acima do centro da meta de 3%, com previsão de 3,9%. A taxa Selic, atualmente em 10,5%, agora tem uma expectativa de fechamento em 11,25% até o final deste ano, refletindo a leitura do mercado sobre a necessidade dos ajustes nos juros pelo Copom.
Uma questão importante é como os aumentos serão distribuídos. Na próxima reunião do Copom, o Banco Central enfrentará um dilema. As probabilidades implícitas nas opções da B3 (BVMF:B3SA3) indicam uma alta chance de um aumento de 0,25% na Selic. Com apenas três reuniões restantes em 2024, uma conclusão provável é que os aumentos sejam distribuídos de maneira uniforme até o fim do ano. Por outro lado, a queda dos juros nos EUA parece praticamente garantida. Esses fatores poderiam aliviar a pressão sobre o câmbio, mas ele continua pressionado. Isso pode refletir não apenas os riscos fiscais, mas também a percepção de que um aumento de 0,25% pode não ser suficiente para demonstrar o peso que a nova diretoria está atribuindo ao combate à inflação.
Um aumento maior, de 0,5%, vai desagradar a base política. O desafio será manter a credibilidade da instituição enquanto busca controlar a inflação e, ao mesmo tempo, preservar a estabilidade da economia. O horizonte relevante para o controle da inflação, que normalmente abrange um período mais longo, sugere que os ajustes feitos agora terão efeitos no médio prazo, o que exige uma resposta firme.
*Professor associado da USP-RP