O FED americano pensa focando os interesses americanos e, embora às vezes possa parecer, tem poucas preocupações com as economias em estado de complexidade, como a europeia, ou dos países emergentes, pouco se preocupando com suas fragilidades, mantendo, a bem da verdade, o foco é nos reflexos de suas decisões na economia americana.
No nosso entendimento a decisão de evidenciar que não tem pressa para elevar os juros tão rápido como o mercado global espera tem o claro propósito de evitar a valorização demasiada da moeda americana, já bastante fortalecida pelo deslocamento dos recursos do programa do BCE em busca da conversão de euros por dólar para direcionamento aos T-Bills do tesouro americano ou como reserva de valor, e assim evitar reflexos relevantes sobre a sua atividade econômica, de vez que encarece os preços de suas exportações, dificultando-as, e barateia a importação dos produtos em grande parte concorrentes.
Então, a reação primeira na quarta-feira face às manifestações do FED sobre sua decisão de manter o juro inalterado e também ao passar o sentimento de que não tem pressa para aumentar o juro visou, também e principalmente, conter a valorização do dólar ante as moedas mundiais, e este propósito provocou a valorização imediata das mesmas e impactou no mercado acionário colocando-os em alta.
Contudo, a liquidez europeia prefere a opção de aplicação nos títulos americanos ou a opção pelo dólar como reserva de valor, considerados excelente nível de risco, ainda mais quando os Estados Unidos demonstra estar revitalizando fortemente sua economia.
Desta forma, durou um período da tarde da quarta-feira para que os mercados atuassem dentro do comportamento que parecia ser a tendência, bolsas em alta e moedas globais se fortalecendo frente à moeda americana.
Mas ontem, quinta feira, o mercado global deu uma “meia volta volver” e atentou para o fato de que as condições americanas melhoraram bastante para que ocorresse mais brevemente a mudança do juro, mas que o FED havia adotado uma decisão e mais uma insinuação focando proteger a economia norte americana, a poupando dentro do possível dos efeitos de valorização excessiva do dólar.
Então, a robustez da moeda americana foi retomada na quinta feira provocando forte valorização ante a cesta das principais moedas com o Index apontando alta de 2,31% e, ante o euro 2,22% e ante o nosso real 2,65% ou pouco mais.
Ficou tudo como se a mudança possa acontecer a qualquer momento, até porque não há mercado mais confortável para aplicações do que o mercado americano.
No nosso entendimento o fato determinante da valorização do dólar ontem foi esta que evidenciamos.
Mas, no Brasil continua a dúvida até onde chegará o preço da moeda americana no nosso mercado frente ao real.
Há um quadro sobejamente deteriorado na economia e também na política fiscal, que com o orçamento para 2015 parece ter sido colocado mais a risco de gerar o superávit primário de 1,2%. Mas há também um acirrado ambiente político que dificulta o avanço de medidas corretivas de forma tranquila e tão urgente quanto desejado pelo Ministro da Fazenda Joaquim Levy.
No câmbio, dúvidas, muitas dúvidas sobre o que realmente o governo pretende.
Parece que há uma liberdade intensa para o preço de a moeda americana evoluir no processo de alta, sem grande preocupação com os efeitos na inflação, como se tivesse apostando as fichas da recuperação da indústria na concessão de uma taxa cambial amplamente motivadora, e, ao mesmo tempo remunerasse os produtores agrícolas com conversão melhor já que os preços em dólares estão cadentes no mercado internacional.
O BC mantém silêncio e todos demais porta-vozes não demonstram preocupação, mas sim enaltecem os benefícios do dólar com preço elevado.
O BC rolou neste mês menos de 50% da posição vincenda dos contratos dos instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais” vincendos neste mês de março e que estão previstos no seu programa de oferta ao mercado como roláveis.
Por outro lado, mantém o silêncio a respeito da continuidade ou não do programa de oferta dos instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais” após o 1º trimestre.
Estes são posicionamentos claramente indutores à valorização da moeda americana no nosso mercado.
Além da tendência natural, estes posicionamentos sem explicações têm incentivado movimentos especulativos em especial no mercado futuro, que acabam por gerar volatilidade fator que desmotiva e inviabiliza negócios crescentes com aproveitamento da taxa cambial mais elevada.
O câmbio vive um momento obscuro de tendências, sendo necessário que o BC atue com palavras influenciando as expectativas, para que o país não veja a ser vitimado por movimentos especulativos mais intensos, num momento em que a autoridade monetária não dispõe de um bom arsenal de defesa.
Se for mantido o “status quo” a moeda continuará com o seu preço tendente à alta.
Desequilíbrios no câmbio para mais ou para menos com intensidade causam efeitos colaterais muito ruins na economia e podem frustrar expectativas e não atingir os objetivos.