Com o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, em maio de 2016, o então vice-presidente, Michel Temer, assumiu o maior alto cargo executivo do país de forma interina. A partir da possibilidade de o impeachment se confirmar, o que realmente veio a acontecer no fim de agosto, Temer começou a planejar algumas mudanças no governo para agradar à população em meio a crise político-econômica e conseguir apoio de outros partidos políticos além do PMDB. A ideia era conseguir aprovar eventuais propostas apoiadas por ele e seu partido na Câmara e no Senado.
Logo no início, Temer extinguiu alguns ministérios, adotando uma postura a favor do corte de gastos no governo, e nomeou políticos filiados a outros partidos para os demais ministérios. Após a nomeação, atraiu críticas da oposição por alguns de seus ministros terem sido citados ou estarem sendo investigados na operação Lava-Jato. Apesar disso, o novo presidente tinha conseguido o apoio da maioria parlamentar, o que deixou seu partido tranquilo quanto às possíveis propostas legislativas. Foi assim que conseguiu aprovar a polêmica PEC-241, conhecida como a PEC do Teto de Gastos, que atraiu diferentes opiniões, entre críticas e elogios, e que posteriormente passou a se chamar PEC-55, durante a tramitação no Senado.
Agora, quase 1 ano à frente da Presidência da República, Temer tem a intenção de aprovar algumas propostas, em especial as reformas trabalhista, da previdência e a tributária. Contudo, nos últimos meses, algumas polêmicas envolvendo o governo têm surgido, e levantou-se a seguinte questão: será que o presidente conseguirá apoio para aprovar as tão sonhadas reformas propostas por seu governo?
Ainda não temos uma resposta exata para a pergunta. O que podemos afirmar é que os próximos meses serão cruciais. Parte da mídia e influenciadores já têm levantado a possibilidade de Temer perder cada vez mais apoio parlamentar.
Tudo começou com a polêmica envolvendo Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria do Governo. Isso porque, ao pedir demissão, o ex-Ministro da Cultura Marcelo Calero afirmou que a causa da renúncia era divergência com o governo, uma vez que Geddel o estaria pressionando para que o IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) liberasse a construção de um prédio de luxo em área histórica de Salvador, onde o então ministro da Secretaria havia comprado um apartamento. O problema acabou atingindo diretamente Temer, quando Calero alegou que o presidente, além do ministro da Casa Civil Eliseu Padilha, também o pressionara sobre o caso.
Padilha também se envolveu em um escândalo nas últimas semanas, que coloca o governo Temer em maus lençóis. O início ocorreu com as delações do empresário Marcelo Odebrecht e do ex-diretor de Relações Institucionais da construtora, Cláudio Melo Filho. O então diretor afirmou que Temer havia pedido em 2014 um apoio financeiro no valor de R$ 10 milhões para a campanha eleitoral, sendo que R$ 4 milhões ficariam sob responsabilidade de Padilha. Acrescentou dizendo que uma das partes do dinheiro seria entregue no escritório de advocacia de José Yunes, amigo pessoal de Temer e ex-assessor do mesmo. Em sua defesa, Yunes diz que não sabia o conteúdo do pacote recebido, e que foi usado por Padilha.
Além disso, após a morte do ministro do STF Teori Zavascki em um acidente aéreo, Temer indicou Alexandre de Moraes, então ministro da Justiça e da Segurança Pública, como novo ministro do Supremo. E escolheu Osmar Serraglio (PMDB-PR) para ocupar a pasta antes liderada por Moraes. Contudo, atraiu diversas críticas dentro de seu próprio partido, em especial de Fábio Ramalho (PMDB-MG), que afirmou romper com Temer após a decisão, uma vez que o presidente não estaria dando espaço para a bancada de Minas Gerais no governo.
A bancada do PMDB também ficou insatisfeita com a nomeação do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) como líder do governo na Câmara. Depois desse episódio, Temer articulou com o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a recriação da liderança da maioria, indicando o deputador Lelo Coimbra (PMDB-ES) para o cargo, com a intenção de atrair apoio peemedebista.
Ainda na busca de agradar a todos, o presidente nomeou o deputado André Moura (PSC-SE), cujo partido ameaçou fazer oposição, como novo líder do governo no Congresso, cargo antes ocupado pelo Presidente do PMDB e senador Romero Jucá. Jucá foi convencido a deixar o cargo e agora será o líder do governo no Senado, substituindo Aloysio Nunes (PSDB-SP), novo ministro das Relações Exteriores. Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado, não gostou nem um pouco do novo cargo de Jucá e já sinalizou críticas à Reforma da Previdência, classificando o texto como bastante exagerado.
Temer foi bastante criticado pela nomeação de Moreira Franco como ministro da Secretaria Geral, uma vez que o mesmo está sendo investigado na operação Lava-Jato e, agora, por causa do cargo, passou a ter foro privilegiado.
Podemos afirmar que o atual Presidente da República tem feito de tudo para não perder apoio, chegando a criar mais dois ministérios recentemente, indo contra a ideia inicial do governo de diminuir o número de pastas. Isso, com o intuito de agradar seu partido e o PSDB, que passou a ocupar 5 pastas agora. Temer procura fazer alianças com Rodrigo Maia também, uma vez que o mesmo pode ser uma ameaça, inclusive quanto a uma eventual abertura de um processo de impeachment.
O fato é que, mesmo com muitas articulações, o atual governo vem enfrentando diversos escândalos, o que pode afetar diretamente a aprovação das propostas, em especial a Reforma da Previdência, a qual Temer tem interesse de aprovar até julho. Diante disso, surge uma questão: estaria o governo Temer em uma transição de reformista para rejeitado pelos próprios aliados? Somente os próximos acontecimentos em Brasília revelarão a resposta.
Por Pedro Guerra (Órama)