Farra
Nesta saga eleitoreira, os mercados têm uma terça-feira para consolidar o otimismo, com o Ibovespa tentando mais uma alta (seria a oitava nos últimos nove pregões) e o retorno ao patamar dos 60 mil pontos pela manhã. Já são 32% de valorização para o índice desde a metade de março (primeira pesquisa apontando queda nas intenções de voto para a situação), puxado pelo forte desempenho das ações de estatais.
Eis o retrato da farra:
O mercado está exagerando com Marina
O gás do rali eleitoral é renovado pelo crescimento de Marina. Hoje é dia de Ibope, e do primeiro debate eleitoral na TV (mais sobre seus potenciais impactos no PRO). Algumas sondagens de partidos apontam empate técnico entre Dilma e Marina no primeiro turno. Comentei recentemente que Marina é mais “amiga” aos olhos dos mercados do que Dilma. A grande questão é a medida desse otimismo. Pelo menos neste momento, ainda há alguns pontos de grande incerteza relacionados ao seu governo, cujo mercado, por ora, não parece fazer distinção:
1. Quem comporá os quadros econômicos? Giannetti é muito bom, é o grande nome ligado a Marina no quesito economia, mas já descartou ser o Ministro da Fazenda de Marina... E agora, quem irá nos defender?
2. Qual será a base de apoio de seu governo? Toda e qualquer aprovação de projeto poderá culminar em embate político e eventuais concessões pela parte da base governista.
3. Como será a relação de Marina com o agronegócio? E como conciliar sustentabilidade com uma necessidade enorme de se agilizar projetos de infraestrutura?
Contar com o apoio de FHC e Lula seria, de fato, maravilhoso. Mas como pedir apoio de alguém se Marina preserva sua neutralidade política e não apoia ninguém?
O desarranjo elétrico (o verdadeiro responsável)
Sejamos justos. Boa parte do afastamento da iniciativa privada e falta de confiança para investimentos está relacionada à truculência de medidas como a MP 579, vista por alguns como mudança nas regras do jogo para o setor elétrico.
Mas a situação não é culpada única pelo desarranjo do setor...
Nos últimos 15 anos assistimos a um processo de demonização das usinas térmicas e com reservatórios, dando privilégio do governo às usinas de fio d'água. Os reservatórios funcionam como estoque a ser utilizado em períodos secos - por outro lado, há menor necessidade de áreas alagadas no modelo fio d’água, diminuindo o impacto ambiental.
Além de estar menos coberto em períodos de seca, as exigências ambientais têm contribuído para atrasos no início de operação das usinas. A ironia aqui é que a decisão acabou sendo um tiro no pé - tanto para o setor quanto para os ambientalistas. Para garantir o funcionamento do sistema, voltaram com as térmicas... aquelas mesmas, demonizadas pelo impacto ambiental. Parte considerável deste processo teve como porta-voz Marina Silva, então senadora e Ministra do Meio Ambiente do governo Lula.
Petro para cristo (prova real do exagero)
Não estamos pregando contra a política de Marina, mas sim contra reações antecipadas excessivamente otimistas dos mercados. Reitera-se o dito previamente: elogiamos a defesa pelo tripé macroeconômico e a independência do Banco Central - mas há pontos específicos a serem endereçados.
Pelo gráfico apresentado no início, - não o do atacante do Atlético Mineiro, o outro - vimos que as ações de estatais estão puxando a média (Ibovespa). Dessas, Petrobras vem disparando em meio a notícias materiais cada vez piores. São 70% de alta desde março em meio a escândalos de corrupção, resultados cada vez mais fracos e aumento de seu nível de endividamento. Ontem, a nova disparada da ação se deu em meio à notícia de vazamento na refinaria Reduc, com inevitável parada para manutenção.
Pegando Petro para cristo, com essa alta toda a ação já se aproxima do valor patrimonial (já acima de 0,8x preço/valor patrimonial), perdendo um argumento de que estavam descontadas (chegaram a bater em 0,5x valor patrimonial) e, consequentemente, potencial de valorização daqui para frente. Para certificar que os resultados não condizem com o apreçamento, basta verificar que as petroleiras internacionais maduras que negociam em linha ou acima do valor patrimonial entregam ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) de mais do que o dobro do que Petrobras entregou na média dos últimos cinco anos.
E os bancos, estão caros?
Os bancos também são exemplo, rodando próximos da máxima histórica no que diz respeito à relação preço/valor patrimonial. Por sua vez, esses pelo menos estão entregando ROEs expressivos, mais notadamente o Itaú. De toda forma, não deixa de ser um argumento de que estão devidamente precificados, com agravante sobre Santander e BB: o primeiro um banco grande com ROE de banco médio, o segundo um banco cuja apreciação das ações não condiz com o prognóstico para o seu ROE (esgotado por vias intrínsecas, agora dependente de aumento do spread).
O fim do jejum
Não, esta não é uma homenagem aos 100 anos do Palmeiras - embora deixe aqui os parabéns aos leitores palmeirenses...
Enfim devemos ter a primeira abertura de capital (IPO) da Bolsa brasileira em 2014. A companhia Ouro Fino, de saúde animal, entrou ontem com pedido de registro inicial de companhia aberta. À primeira vista, parece uma empresa redonda. Faturou R$ 384 milhões no ano passado e fez uma margem ebitda de 22%. Este ano as margens devem ficar parecidas e o faturamento, estima-se, deve crescer perto de 5% (neste cenário, crescer por si só já é um mérito). Sua alavancagem não incomoda e tende a diminuir com a entrada dos recursos do IPO. Agora... (quase) tudo tem seu preço, e ainda sem uma definição de valores não dá para concluir pela compra ou não deste IPO. E considerando que a oferta deve ir para a rua após as eleições, é melhor esperar se as famosas “condições de mercado” seguirão assim tão “favoráveis”...
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.