Neste momento vale a máxima:
“O MERCADO DE CÂMBIO NÃO É PARA PRINCIPIANTES”
É preciso ir a fundo e verificar as peças do tabuleiro como se colocam e o que os preços das moedas repercutem como consequência, é imperativo que ocorra a análise fundamentalista de tudo que determina as alterações bruscas de preços.
E no Brasil, além disto, atenção ao ambiente político que poderá evoluir para uma crise gerando embates do Congresso com o Governo.
Os investidores no mercado americano parecem ter se cansado de esperar pela mudança da política monetária americana elevando o juro e resolveram trocar os tradicionais T-Bills por títulos corporativos com melhor remuneração, o que provocou reação no “yeld” dos T-Bills de 10 anos que saiu de 2,11% para 2,20% .
A economia americana gerou indicadores positivos fortes na área do emprego, tendo criado 295.000 novos postos de trabalho ante projeção de 230.000/240.000, com a taxa de desemprego caindo de 5,7% para 5,5% em janeiro ante projeção de 5,6%.
Este fato colocou imediatamente no radar a possibilidade do FED encurtar o prazo para proceder à mudança da política monetária e alterar o juro.
O BCE inicia hoje o seu programa que envolve mensalmente Euros 60,0 Bi com remuneração negativa, e isto naturalmente provoca deslocamento de recursos para o mercado americano, promovendo a queda forte do euro ante o dólar. O euro caiu 1,69% para US$ 1,0861, na sexta-feira.
Mas a derrocada foi geral ante o dólar que registrou índice de 97,74 na sexta feira com alta de 1,39% em relação à cesta das seis principais moedas. Nível mais alto desde 2003.
O real depreciou-se mais 1,49% frente ao dólar cotado na sexta feira a R$ 3.056, acumulando algo como 7% na semana. O Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, declarou em evento que a depreciação do real não mostra descontrole cambial e que corrige apreciação ocorrida em anos passados.
Convenhamos, com a inflação já em torno de 7,7% uma correção abrupta no preço da moeda americana e aumentos explosivos na energia elétrica e combustível, certamente o país precisará de uma SELIC bem acima da atual. Não dá para ter uma visão de naturalidade.
Por outro lado não consideramos tranquila a situação do país na área cambial. Temos reservas cambiais, mas em contraposição um risco cambial três vezes maior, e, neste momento não despertamos atratividade nem mesmo para o capital especulativo, a despeito da exuberância da taxa de juro SELIC que deverá continuar a ser elevada.
A China, nossa grande parceira comercial, divulgou ontem (domingo) suas exportações no bimestre crescentes, mas houve recuo nas importações o que sinaliza fraqueza econômica, e assim não impacta nos preços das commodities agrícolas e metálicas brasileiras.
São parcos os instrumentos de defesa que dispõe o BC para administrar uma intensificação do movimento de saída de recursos do país, visto que começaremos esta segunda-feira com os já conhecidos problemas econômicos, mas severamente agravados por razões políticas que podem eliminar as perspectivas mínimas de recuperação de credibilidade do país perante a comunidade financeira mundial.
O Brasil muito provavelmente vai entrar no “olho do furacão” do mercado financeiro global.
Ninguém, neste primeiro momento, pode avaliar com precisão a dimensão do impacto da questão política na inviabilização dos propósitos do governo estabelecer medidas visando a recuperação da situação fiscal mínima e necessária e a implementação das demais visando a retomada da atividade econômica.
Mas certo é que a piora acentuada provável para aprovação e colocação na prática das medidas pelo governo pode sugerir atitude mais severa por parte das agências de rating, o que seria altamente preocupante.
No mercado internacional é até razoável se esperar, após a expressiva alta do dólar frente as moedas fortes e fracas, que hoje haja alguma volatilidade mas uma certa acomodação do dólar, não se descartando até discreta queda.
Mas no nosso mercado de câmbio local devemos ter muita volatilidade e excessos razoáveis ante o indefinido e incerto face as últimas ocorrências na área política, questão que já tinha cunho perturbador e agora agravada, deverá predominar fortemente condicionando todas as demais medidas de natureza econômica/fiscal.
O BC precisa estar atento para que não se desencadeiem movimentos especulativos sobre o real e que não só o mercado futuro seja pressionado, mas principalmente o mercado à vista de câmbio, que poderá exigir queima de reservas cambiais, se houver intensificação de saídas.