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O papel das finanças comportamentais no Portfólio da Vida

Publicado 08.11.2023, 13:53

Imagine-se na véspera de uma viagem internacional ansiosamente esperada. Você pondera se deve comprar um seguro de viagem. O custo é substancial, e as chances de precisar dele são mínimas. No entanto, a mera ideia de perder suas malas ou enfrentar uma emergência médica estrangeira sem apoio o faz clicar em "comprar seguro". Bem-vindos ao mundo das finanças comportamentais, onde a psicologia e a economia se entrelaçam para explicar as decisões financeiras que tecem o portfólio de nossas vidas.

A Teoria do Prospecto (TP), introduzida por Kahneman e Tversky, desafia a ideia clássica de racionalidade econômica, sugerindo que as pessoas valorizam ganhos e perdas de maneira desigual, levando frequentemente a escolhas inconsistentes com a lógica financeira tradicional. Em vez de reiterar sua genialidade já bem documentada, vamos explorar como suas ideias se aplicam a contextos cotidianos.

Em 1979, Daniel Kahneman e Amos Tversky (verdadeiro gênios) desenvolveram a Teoria Perspectiva ou Teoria do Prospecto (TP), desafiando a teoria econômica clássica, que assume que as pessoas sempre agem de forma racional e buscam maximizar a utilidade (satisfação ou ganho).

A TP é considerada um marco importante na compreensão do comportamento humano. Em resumo, ela apresenta uma explicação para a forma das pessoas decidirem quando há risco envolvido, ou seja, quando não se conhece a probabilidade do resultado. Matematicamente, a teoria analisa o valor da escolha em relação aos ganhos e às perdas de capital.

Indo direto ao ponto, a teoria comprova que a dor de perder algo é muito mais forte do que a alegria de ganhar algo de mesmo valor. Isso significa que, se você ganhar R$100, ficará feliz, mas se perder R$100, ficará muito mais triste do que estava feliz com o ganho. Isso ficou conhecido como "aversão à perda".

Não é sem razão que a TP rendeu a Kahneman o Prêmio Nobel de Economia em 2002 (Tversky também seria ganhador, mas já havia falecido e o prêmio Nobel não é concedido postumamente). Desde então, a TP passou a ser amplamente aplicada em diversas áreas do conhecimento, incluindo economia, finanças, marketing e políticas públicas.

No marketing, por exemplo, a empresa poderia utilizar a aversão à perda em sua estratégia de precificação ao oferecer uma avaliação gratuita do software por um período limitado. Durante a avaliação, os usuários se acostumam com as funcionalidades avançadas do produto e experienciam um aumento na produtividade.

Ao final do período de teste gratuito, a empresa apresenta uma oferta exclusiva para compra do software, enfatizando que é uma oportunidade de tempo limitado. Políticas públicas, por sua vez, são muitas vezes elaboradas para encorajar a poupança, aproveitando-se do nosso instinto de proteger o que já possuímos. Em um nível pessoal, entender a TP pode nos ajudar a tomar decisões mais conscientes sobre saúde, educação e relações familiares, levando a uma vida mais equilibrada e satisfatória.

Não é sem razão que a TP é considerada o berço da economia comportamental, já que ela explica, como vimos, o comportamento humano diante do risco, enquanto a economia comportamental se dedica a estudar o comportamento humano irracional. Entender o comportamento humano é, portanto, muito útil em diversas dimensões da vida: profissional, familiar, espiritual, financeira, física (saúde), etc. 

Por que algumas pessoas têm seguro (exemplo de aversão ao risco) e, ainda assim, jogam na mega sena (exemplo de busca de risco)?

Harry Markowitz (muito mencionado em nossos artigos), no mesmo ano que escreveu seu famoso artigo “Seleção de Portfólio” (1952), também escreveu outro artigo intitulado “A Utilidade da Riqueza”, baseado nas questões levantadas por Milton Friedman e Leonard Savage em a “Análise da Utilidade das Escolhas que Envolvem Risco”.

Friedman e Savage se debruçaram sobre a questão do seguro que enunciei acima (1948). Por que pessoas que decidem contra o risco assumem risco? Markowitz respondeu brilhantemente (1952) à aparente contradição do modelo “Friedman-Savage”: o comportamento somente pode ser explicado se deixarmos de relacionar a utilidade com a riqueza e passarmos a relacioná-la com a mudança do nível de riqueza.

Para explicar essa ideia de forma didática, vamos imaginar a "utilidade" como a satisfação ou felicidade que podemos obter das coisas. Tradicionalmente, a economia clássica associa a riqueza com a utilidade, sugerindo que quanto mais riqueza (dinheiro, bens, etc.) uma pessoa tem, mais feliz ela é. No entanto, essa explicação clássica não corresponde totalmente ao que observamos na vida real. É bem aqui que entra a perspectiva de Markowitz e a ideia central da TP.

Pense em sua riqueza como a água em uma grande bacia. Segundo a economia clássica, quanto mais água você tem, mais feliz você é. Agora, segundo Markowitz, o que realmente importa não é apenas a quantidade de água na bacia, mas o quanto essa quantidade muda. Calma, eu explico.

Se você tem uma bacia cheia, em tese, você está muito feliz. Mas existe uma pergunta que não vai sair da sua cabeça: “e se ela esvaziar?”. Existe, portanto, um receio de que você comece a perder (risco). E a perda pode causar uma insatisfação muito desproporcional, mesmo que ainda reste muita água. Por outro lado, se você tem uma bacia que está apenas pela metade, mas você está adicionando água com alguma constância, isso pode lhe trazer uma grande satisfação, mesmo que a quantidade total de água ainda seja menor do que numa bacia que está esvaziando.

De forma concisa, as pessoas reagem de maneira mais intensa às variações na riqueza do que ao seu montante absoluto. Na prática, é a dinâmica da riqueza - ganhos e perdas - que gera impacto significativo nas emoções e decisões. A ênfase, portanto, desloca-se da quantia total para a sua flutuação, explicando por que decisões aparentemente irracionais são tomadas: a preocupação central é com o efeito de cada escolha sobre a alteração patrimonial, e não apenas com o patrimônio já acumulado.

Conclusão

As finanças comportamentais, sustentadas pela TP e enriquecidas pelas contribuições de Markowitz, são uma ferramenta inestimável na gestão do “Portfólio da Vida”. Esta teoria não só redefine nossas abordagens em economia e finanças, mas também ressoa através das múltiplas dimensões da nossa existência - profissional, espiritual, física, familiar, etc. Assim como um investidor diversifica seu portfólio para otimizar o retorno e minimizar os riscos, a TP nos ensina a equilibrar e integrar diferentes aspectos da nossa vida, buscando uma harmonia que gere mais densidade de vida. 

A relevância transversal das finanças comportamentais nos convida a repensar como medimos a riqueza e o sucesso, sugerindo que a verdadeira prosperidade emerge de uma compreensão holística do valor e da mudança. Ao abraçarmos esse conhecimento, estaremos mais aptos a construir uma vida não apenas economicamente mais organizada e sólida, mas também rica em experiências, relacionamentos e realizações pessoais. Em resumo, as finanças comportamentais nos guiam para uma apreciação mais profunda da complexidade da vida humana, incentivando-nos a investir sabiamente no portfólio mais valioso que possuímos: o da nossa própria vida.

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