O Rei Está Nu?
A roupa nova do rei
Você já há de ter ouvido diferentes versões da história, popularizada pelo escritor dinamarquês Hans Christian Andersen e inspirada em uma coleção medieval de contos morais.
Em resumo, um vigarista aplica um golpe que todos percebem, mas se recusam a ser os primeiros a admitir. Cabe a uma criança (ou a um bêbado, ou a uma criança bêbada, dependendo da versão), do alto de sua ingenuidade (ou embriaguez) proclamar o óbvio: o rei está nu!
E então todos descobrem que todos pensavam a mesma coisa, mas se sentiam impelidos a fingir que tudo estava bem.
Rei Dow
O dia é de queda moderada nos principais mercados globais. Rali na direção de ativos de risco na semana passada é interrompido por conta de maior percepção de riscos mundo afora. Dentre os temas, futuro do Reino Unido pós-Brexit, tensões entre as Coreias (lembram do míssil novo do Cebolinha?) e reformas na Turquia (fazia tempo que não se falava no Erdogan, hein?).
Nosso primeiro rei nu é o Dow Jones, que segue abaixo dos 20 mil em meio a questionamentos sobre o nível de valuation atual. Todos sabem, no fundo, que a bolsa americana está esticada… mas há uma enorme relutância em admitir, sob risco de surpresas no pós-Trump.
Por aqui, bolsa em leve alta impulsionada por commodities. Mercado de juros praticamente inalterado, embora tenham crescido os ruídos em torno da possibilidade de um corte de 75 pontos na Selic.
Rei Xi
Os esforços do governo chinês para sustentar o renminbi seguem como ponto de atenção.
Após o país reportar, na semana passada, uma queda menor do que o esperado em suas reservas internacionais, vemos sinais de desconfiança em torno das estatísticas made in China. São recebidas da mesma forma outras declarações: o país certamente cresceu 6,7 por cento em 2016 (e ai do bureau de estatísticas se publicar outra coisa) e não serão necessárias intervenções adicionais relevantes no mercado de câmbio. E sempre estivemos em guerra com a Lestásia, a propósito.
Na última sessão, o renminbi foi desvalorizado em 0,9 por cento — maior movimento desde junho passado —, para 6,9292. Rumo aos 7?
Convexo, simplesmente convexo
Há uma imensa demanda, no mercado financeiro, por previsões. Brade que o Ibovespa fechará o ano a 500 mil pontos e haverá quem lhe dê ouvidos.
Você já deve saber, a essa altura, que não levamos essas coisas a sério. Provavelmente seria mais fácil simplesmente dar o que a maioria quer, mas o Felipe resiste asceticamente: “convexidade” é o conceito que ele martela dia após dia. Não apontemos para onde X vai, mas nos posicionemos de forma que percamos pouco caso X vá nesta direção e ganhemos muito caso vá naquela.
Aí, depois que acontece, fica a impressão de que se tratava de algo milimetricamente previsto. Foi assim com O Fim do Brasil, com o dólar a 4 reais, com a dêbacle da Petro e, mais recentemente, com o rali do impeachment.
Parece um histórico invejável de previsões, mas não: se trata pura e simplesmente do reiterado exercício de uma postura de ceticismo e busca por convexidade.
Diante disso, fica a escolha: você pode seguir a palavra de quem lhe promete que adivinhará o futuro (tem aos montes por aí, com resultados para lá de questionáveis)…
…ou simplesmente seguir as propostas simples, honestas e de fácil implementação apresentadas no Palavra do Estrategista, cujos resultados estão aí para quem quiser ver.
E aí, o que vai ser?
Rainha Petro
Sigo incomodado com a decisão de Petrobras (SA:PETR4) de reajustar somente os preços do diesel, deixando gasolina de fora. Só por curiosidade, fui conferir a composição da cesta do IPCA. Descubro que é de 0,14 o peso do diesel e de 3,91 o da gasolina.
É ou não é extremamente conveniente que o reajuste tenha se concentrado somente no item cujo peso é menor (e bem menor!) no cálculo do principal índice de inflação do país?
Mas o mercado está de lua de mel com Petro. Ninguém ousa falar que (ainda) há ingerência por lá.
Alguma criança bêbada disponível para falar umas verdades?