Há um detalhe extremamente relevante que temos destacado e não pode deixar de estar presente nas considerações acerca do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio, que, a rigor, está em linha absolutamente simétrica com o que ocorre com as demais moedas no mercado internacional, sejam emergentes ou forte como a libra esterlina e o euro.
É o dólar que está se depreciando e não as demais que estão se valorizando com causas próprias, e isto tem uma relevância que não pode e não deve ser afastada quando se analisa a perspectiva, visto que esta estará diretamente vinculada aos movimentos oriundos do governo americano, que neste momento sugerem afrouxamentos e distensões e nova rodada de programas de incentivo à retomada da atividade econômica americana em grande monta, fortalecida pelo decepcionante “payroll” e pela acentuada piora da situação sanitária, com intensificação das contaminações que já interferem na atividade de alguns centros importantes, a despeito dos avanços concretos que tem sido sinalizados na área das vacinas.
Naturalmente, neste movimento de distensão ocorre a redução da aversão ao risco e isto motiva a intensificação dos fluxos financeiros que estavam represados especialmente para os mercados emergentes, em especial, mas não é algo que no direcionamento menospreze os problemas relevantes de cada um destes países destinatários dos recursos como um movimento descontrolado.
O Brasil tem enormes problemas que mutilam a consumação do retorno da atratividade sustentável aos investidores estrangeiros, seja pelos entraves políticos nas tratativas das reformas fundamentais e programas de privatizações, que não conseguiu implementar desde o início do governo porque esbarra em velhos dogmas, até a severa crise fiscal que engessa qualquer iniciativa programática visando investimentos governamentais na infraestrutura.
O PIB do 3º T no entorno de 7,7% foi bom, sem ter sido o excelente de 8,8% projetado, mas trouxe alento momentâneo, contudo as previsões para o 4º T são mais modestas e o PIB tende a fechar o ano com -5%, e um quadro prospectivo ainda com muitos pontos questionáveis para 2021, a partir até da esperada retração de consumo que deve ser ensejada pelo término dos programas assistenciais do governo, que devem em contraposição incrementar de forma consistente o número estatístico do desemprego, já que vai levar a uma grande massa da população carente que estava acomodada, a buscar emprego.
Há muitas incógnitas no cenário prospectivo do Brasil, por isso temos acentuado que é preciso manter o otimismo, mas com extrema sensatez para não haver desapontamentos, até porque temos sinais preocupantes na questão sanitária com um retorno acima do previsto em intensidade da pandemia do coronavírus num 2º ciclo, e o governo já está combalido com a questão fiscal para dar sustentabilidade a um novo programa tão intenso à população carente.
As vacinas parecem ser a esperança presente, mas no Brasil este não é um assunto pacificado e ainda sugere muitas controvérsias e que, naturalmente, provocam retardamentos nas perspectivas, além de haver por parte do governo uma miopia quanto ao retorno intensivo da pandemia principalmente nos principais centros, o que causa desalento.
Então, a conclusão mais serena indica que o país está gradativamente recompondo sua atividade econômica, naturalmente em ritmo aquém do desejado na geração de empregos, e há um ponto relevante a ser aferido qual seja “qual o efetivo impacto na economia da retirada dos programas assistenciais” que “turbinou” o consumo ao longo da crise mais aguda da pandemia do coronavírus.
Em todo este movimento de retomada da atividade econômica é preciso ter serenidade e absoluto realismo, e não se deve confundir a expressiva depreciação do preço da moeda americana no nosso mercado como algo pontual e particular em relação ao real, visão totalmente errática, visto que o país ainda não deu causa a valorização de sua moeda, e assim, se houver uma mudança nas expectativas em torno da postura do novo governo americano do democrata Joe Biden, em especial ante a China, os humores poderão se alterar muito rapidamente e evidentemente as perspectivas, visto que questões centrais entre os países sinalizam pacificação, mas há outras muito relevantes que podem provocar conflitos.
A sustentabilidade da depreciação do dólar deve ser perseguida para que ocorra como consequência da melhora de cenário interno do Brasil, para então ser um fato novo, efetivamente considerável, e isto envolve diretamente a necessidade das dinamizações das propostas das reformas imprescindíveis e do programa de privatizações, única forma do país contornar a severa crise fiscal.
Mas, é preciso considerar que a consumação destas iniciativas/proposituras envolve tempo e não são imediatas quanto a necessidade do país.
Temos atualmente uma melhora considerável do fluxo de investimentos estrangeiros para o nosso mercado acionário, fato relevante que estava contido e que, contudo, ainda não ocorre na dimensão compatível com a liquidez internacional que estava represada e que busca agora busca rentabilidade, com muito menor aversão ao risco.
Os números que fluxo para o Brasil não são tão espetaculosos como a repercussão que é dada por pura percepção, visto que o fluxo favorável encontra demanda no mercado de câmbio à vista interno e assim, o impacto efetivo na formação do preço por vezes não é tão expressivo, sendo que a causa efetiva está no comportamento da moeda americana no mercado global.
A Bovespa repercute com alta, pois ocorre substancial troca de portfólios, com as blue chips retomando a atratividade e face aos preços deprimidos motivarem os movimentos de valorização, mas é preciso atentar que os papéis, em especial os de e-commerce diretamente beneficiados pelos programas assistenciais do governo, tendem a perder ímpeto gradualmente.
A rigor, não há uma diversidade de oportunidades de papéis normalmente focados pelo capital estrangeiro na nossa Bovespa, e isto pode limitar a sua capacidade de sustentação do viés de valorização.
Se o governo brasileiro sinalizar coesão na dinamização das reformas e programas de privatizações entendemos que, então, haverá motivos internos de impulsão de apreciação do real objetivamente, que poderá conduzir o preço a R$ 5,00 ou abaixo de forma sustentável, mas, por ora, é preciso estar atento pois as causas da depreciação do dólar são externas e não é o fluxo que ocorre para a Bovespa que é o fator determinante, embora pareça.