Os acordos bilaterais entre países são instrumentos fundamentais nas relações internacionais e desempenham um papel crucial na política, economia, comércio, segurança e cooperação global. Neste momento, o Brasil tem passado por uma guinada em termos de política exterior, que é bastante significativa para o futuro do nosso Comex. As mais recentes reaproximações com países da União Europeia, Japão, China, Argentina, entre outros, são relevantes para fortalecer o potencial econômico brasileiro, diluir riscos atrelados ao mercado global e aumentar a renda nacional, promovendo crescimento sustentável.
Esses acordos facilitam a criação de laços comerciais mais fortes, além de permitir que as nações reduzam ou eliminem barreiras (tributárias, legais e/ou sanitárias, por exemplo) e aumentem o fluxo de comércio. Nesse sentido, ao ampliar sua base de negociação, seja de compradores ou vendedores, o Brasil reduz sua concentração em torno de alguns players e passa a ter maior capilaridade na sua matriz comercial, garantindo acordos mais vantajosos, os quais podem resultar em mudanças que impactam em diversos setores, inclusive o surgimento de novos sistemas de pagamentos (mais dinâmicos, modernos e eficientes).
Da mesma forma que o Brasil tem buscado avançar com essa agenda, o nosso vizinho, Uruguai, também percebeu essa oportunidade, visando fortalecimento direto das suas relações com a China, muito por conta do engessamento do Mercosul em termos de seus acordos coletivos. Então, tomando como exemplo o moroso acordo entre os integrantes do Mercado Comum do Sul e a União Europeia, que já perdura sem assinatura por longos anos e sem grandes perspectivas de avanços reais, torna-se ainda mais clara a necessidade de reaproximações comerciais brasileiras com outros países para fortalecer e conquistar parcerias estratégicas.
Nesse sentido, a relação direta entre brasileiros e chineses renderia às nossas empresas mais competitividade (por meio da redução de custos), especialmente junto aos que utilizam o renminbi em suas operações, inclusive com a possibilidade de criar, em um futuro de médio/longo prazo, produtos para pagamentos instantâneos para democratizar o acesso ao câmbio e baratear as transações das viagens a turismo e/ou negócios no país asiático, que em pouco mais de uma década, se tornou o maior parceiro comercial brasileiro no mundo, liderando o ranking dos que mais importam nossos produtos, movimentando bilhões de dólares em importações. Para se ter noção da magnitude dessa troca, o volume de comércio dessa dupla chegou a US$150,5 bilhões em 2022.
Fato é que a economia brasileira deve ser analisada sem viés de ideologia política, mas sim direcionada ao entendimento de um cenário mais amplo que considere todos os possíveis benefícios à nossa balança comercial. Isso de modo que facilite os investimentos em diversos setores e impulsione outras transações transfronteiriças igualmente vantajosas, tanto para o futuro econômico do Brasil, quanto para o restante do mundo.
A minha conclusão é que o Brasil tem grande potencial para sofisticar suas relações bilaterais se estiver engajado em tirar as ideias do papel e concretizar as propostas, assumindo o protagonismo dessa iniciativa e valorizando a influência disso para a projeção – e conquista – de um futuro mais promissor em vários aspectos socioeconômicos.