Embora haja pontos em questionamento sobre inclusões ou não na proposta da Reforma da Previdência, antes do envio ao plenário, o fato é que, como já dissemos, contextualmente já se considera que será aprovada, embora possa representar um pouco mais ou um pouco menos de contenção de gastos por parte do governo.
Sabidamente a Reforma não é geradora de recursos, mas sim contingenciará gastos para os quais falta capacidade financeira para o governo em perspectiva, assim sendo aliviará o agravamento da crise fiscal e, como consequência, deixará o país menos vulnerável ao olhar dos investidores nacionais e, em especial, estrangeiros.
Outras reformas serão necessárias e deverão ser encaminhadas pelo governo na sequência, dando continuidade aos avanços com peso efetivo de estímulo ao desenvolvimento econômico.
Evidentemente, há clareza que o governo não tem capacidade para investimentos estruturais imprescindíveis, por isso depende de que o setor privado seja o protagonista do necessário impulso com investimentos focando a retomada da atividade econômica.
Porém, efetivamente conspira contra este apelo feito por menção na última Ata do COPOM e manifestações posteriores de membros do governo, o fato das projeções do governo para este ano terem reduzido as expectativas sobre o PIB de 2,0% para 0,8%, abaixo da pior projeção do mercado, e ter apontado a convicção de que o 2º semestre terá a economia estagnada.
Espera-se sempre que o governo, em momentos adversos, mantenha ainda expectativas melhores do que o mercado, caso contrário provoca forte desestímulo ao que prega como fundamental.
Ontem, segundo a Reuters, o Presidente do BC, Campos Neto, reafirmou em Zurich que “a retomada da recuperação econômica será gradual, destacando ainda a necessidade de avanço nas reformas estruturais, em particular da Previdência” e mais “a sustentabilidade fiscal é fundamental para reduzir incertezas, aumentar a confiança e o investimento e consequentemente alimentar o crescimento econômico de longo prazo”.
Nada demais, mas ocorre que a visão de curto prazo posta em momento anterior pelo COPOM e membros do governo é desestimulante ao investimento imediato, e a visão posta em Zurich pelo Presidente Campos Neto é macro e de longo prazo.
Então, é muito provável que o setor privado demonstre insegurança quanto à decisão de investir já ou aguardar mais um pouco para ter um cenário mais claro e seguro.
Este contexto pode neutralizar um pouco o ímpeto do otimismo e não pode ser desconsiderado e frustra expectativas mais imediatas para o país que precisa revitalizar sua atividade econômica, gerar empregos, renda e consumo.
São reticências nas perspectivas e não se pode descartar que a revisão severa do governo em relação ao PIB e ao contexto do 2º semestre não tenha tido peso, pois foram além das projeções medianas do Boletim FOCUS.
A Bovespa ainda tem projeções otimistas, mas fundamentalmente depende da revitalização da atividade econômica para ter alta sustentável e não ficar dependente somente do comportamento dos papéis de empresas ligadas a bens exportáveis. Projeções muito otimistas carecem ainda de fundamentos sustentáveis. A redução da taxa de juro americana poderá direcionar recursos para os países emergentes, mas será fundamental que tenhamos perspectivas econômicas atraentes.
O dólar, que foi submetido a intensa e desprovida de fundamentos especulação até recentemente face à confortável situação das contas externas do país, tende a situar-se no entorno de R$ 3,80/R$ 3,75, podendo ceder mais se o FED reduzir a taxa de juro americana, mas neste momento revela alguma resistência para consolidar o viés de apreciação do real frente ao dólar.
Esta resistência merece maior atenção. Há indícios de movimento de troca de dívidas externas para dívidas internas e isto pode estar afetando o mercado de cupom cambial, custos de carregamento e impacta no preço da moeda no mercado à vista, que fica com a taxa pressionada.
O diretor do BC, Serra, dias atrás fez menção de que o carregamento ficaria mais caro no mercado, foi uma sinalização pontual.
A taxa cambial atual no entorno de R$ 3,84/3,85 pode estar refletindo este fato novo, já que a expectativa é que já estivesse em R$ 3,80 com tendência a R$ 3,75.
O que poderia estimular a troca de dívidas externa por dívidas interna?
Receio de que o dólar volte a ser especulado dada a fragilidade da atividade econômica no 2º semestre?
A causa, se efetivo o movimento de troca, precisa ser mais bem analisada do ponto de vista dos fundamentos.
A questão China-Estados Unidos, a despeito do otimismo após o encontro dos Presidentes, deve persistir no “stop and go” com muitas picuinhas e retardamento nos avanços efetivos. O mercado, que é oportunista, cria movimentos nesta mesma linha.
O destacado, até erroneamente como feito brasileiro, Acordo Mercosul e União Europeia, neste momento, teve tão somente um sinal positivo de viabilidade após 20 anos de discussões, mas não se espera nenhum resultado efetivo até que ocorra toda a regulamentação que deve demandar entre 3 a 4 anos, não sem muitos conflitos ambientais, fitossanitários e mais uma enormidade de detalhes, já que a Europa é muito protecionista e o Brasil tem desalinhamentos expressivos com os princípios que devem ser observados para cumprimento do regulamento do Acordo.