Mercados Globais
As bolsas dos EUA batem novos recordes com a consolidação da percepção de que o governo Donald Trump será pro business, por meio de políticas de cortes de impostos, aumentos dos gastos e restrições protecionistas. A nomeação de Scott Pruitt para a Agência de Proteção Ambiental é um sinal de que não poupará esforços para desmantelar o que tem chamado de “amarras” ao crescimento americano. Pruitt, procurador geral de Oklahoma já declarou que não acredita que o aquecimento global seja fruto da ação humana, defende o fim dos programas de incentivo à energia limpa e a retirada dos EUA do acordo de Paris sobre emissões.
Como os mercados não definem preços a partir de boas ações no campo da preservação do meio ambiente, essa nomeação soou como música aos ouvidos dos operadores e analistas. Confirma que Trump fará um governo em linha com as suas promessas eleitorais e estimulará os setores intensivos em carvão, siderurgia e petróleo. Tais setores, que já vinham subindo por antecipação, continuam a aumentar seus ganhos.
A exceção de ontem foi o setor farmacêutico que poderá ser alvo de ações de controle dos preços, caso Trump leve seu discurso a sério. Para os mercados, a mudança de regime fiscal tem sido vista apenas a partir das excelentes oportunidades que gera. Questões como a restrição orçamentária, tão cara nos dias de hoje para todas as economias, está sendo deixada para depois. O otimismo deve fazer um natal gordo em Wall Street e nada parece interromper essa tendência.
Na Ásia duas notícias são fonte de surpresas. A primeira, é a segunda leitura do crescimento do PIB do terceiro trimestre do Japão, revisada para baixo, de 0,5% para 0,3%. O PIB da terceira maior economia do planeta teve uma queda de 0,4% nos investimentos, mas os analistas ainda acreditam na política de estímulos feita pelo primeiro Ministro Shinzo Abe. A revisão do PIB de 2015 levou a um número próximo a US$ 4,55 trilhões, o que resulta em uma relação Dívida/PIB superior a duas vezes.
Na China, por sua vez, a surpresa foi o crescimento das exportações após sete quedas consecutivas. O número utilizado para medir as exportações, como na maioria das variáveis macroeconômicas chinesas, é o da variação anual. As exportações subiram 0,1% em novembro desse ano contra novembro do ano passado. As expectativas eram de uma queda ao redor de 5%. As importações, número que revela o estado da economia global e é importantíssimo para o Brasil, subiram impressionantes 6,7% e as expectativas eram de queda de 1,3%. Esses dois números afetam positivamente o Brasil e terão importância nos preços dos setores de petróleo, mineração e siderurgia.
Hoje, às 10:45 o Banco Central Europeu divulga suas taxas de juros e dará uma sinalização sobre a extensão ou não de seu programa de recompra de títulos. É por meio desse programa que o BCE expande a oferta monetária e reduz os juros mais longos. Seu quantitative easing precisa ser estendido mais alguns meses além do prazo original para que os mercados europeus respirem mais aliviados. É o principal driver para o dia. Antecipando-se a ele, os mercados continuam em seu rally de fim de ano.
Brasil
O mercado local está comemorando a permanência de Renan Calheiros na presidência do Senado. Ela permitirá que o governo mantenha seu cronograma de votações da PEC do teto, na terça feira que vem, e da Previdência, cujo relatório final já está aprovado pelo relator. O conjunto PEC do teto + Previdência produz uma percepção para boa parte dos economistas e analistas do mercado que é altamente positiva.
A aprovação de ambas coloca a expectativa da trajetória da relação Dívida/PIB em queda, pela queda numerador (dívida). Essa queda possibilitará a redução forte dos juros o que, nessa visão, empurrará o denominador (PIB), para cima. Será o início de um ciclo virtuoso, que permitirá a retomada do crescimento de forma sustentável. Essa percepção é responsável pelas idas e vindas do dólar e dos juros. A cada passo para frente que o governo dá, ambos derretem.
A cada evento que sinalize a interrupção das reformas, ambos explodem. A permanência de Renan tem a propriedade de sinalizar aos mercados que as reformas serão feitas, indiscutivelmente, já que o próprio STF está engajado nessa ação, passando por cima de qualquer divergência que tenha com o Senador. É um sinal forte e mostra que a evolução das reformas é algo que traz unidade para o bloco de governo e judiciário.
Os números recentes da inflação mostram a contribuição fundamental dos alimentos. Com forte peso nos índices ao consumidor, a alimentação chegou a bater uma alta de 9,11% em julho e depois, com a regularização da oferta, teve duas deflações, de 0,29% e 0,05% em agosto e setembro. Seu enorme peso no IPCA fez a inflação meta do BC subir até quase 5% em julho, chegando a 76% do teto da meta de inflação no meio do ano.
Agora a inflação tem contribuído efetivamente para redução das pressões inflacionárias, deixando os receios por conta dos preços do petróleo e do câmbio. Cresce a adesão à ideia de que o BC passará a imprimir um ritmo mais rápido à queda da SELIC de sorte a evitar que o atual ciclo de queda do PIB se mantenha ininterruptamente.
Ainda que seja apenas um início, o acordo entre governo e STF indica que a crise institucional pode ser resolvida. Se resolvida ela pode garantir a agenda reformista. Garantida a agenda reformista, os mercados voltarão ao trilho do otimismo para 2017. Porém, a crise institucional, de qualquer forma, ainda pode ser alimentada pelas delações da Odebrecht e de Eduardo Cunha.
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