O presidente dos EUA, Joseph Biden, pretende viajar à Arábia Saudita em julho. Todo mundo sabe que essa visita tem a ver com o petróleo, embora a Casa Branca insista que o propósito seja discutir questões de segurança, e não de energia.
Ninguém acredita nessa justificativa, na medida em que Washington já deixou claro que reduzir os preços da gasolina é uma das suas prioridades. De fato, os EUA já tentaram pressionar Riad a elevar a produção petrolífera.
Quando os preços do petróleo começaram a subir no fim de 2021, o governo Biden instou a Arábia Saudita e a Opep a aumentarem a produção em várias oportunidades. Mas a Opep recusou-se a fazê-lo, mantendo seu modesto plano de elevação de cotas de produção de 400.000 barris por dia (bpd) ao mês.
Quando os preços alcançaram três dígitos após o início da ação da Rússia na Ucrânia, o presidente Biden pessoalmente ligou para o rei Salman, mas os sauditas não autorizaram qualquer aumento acima das suas cotas na Opep+.
Por isso, parece lógico que os preços do petróleo serão a pauta principal na reunião de julho.
No momento em que o preço médio do galão de gasolina nos EUA acaba de superar US$ 5, o governo americano está desesperadamente tentando encontrar alguma forma de reduzir os preços dos combustíveis e energia para os consumidores do país.
O plano do governo de liberar 1 milhão de barris de petróleo por dia durante seis meses das reservas estratégicas de petróleo ainda não causou qualquer impacto nos preços do produto.
Será que um pedido em pessoa do presidente americano ao líder saudita seria capaz de convencê-lo a aumentar sua produção petrolífera? Nesse caso, qual volume adicional de petróleo poderíamos esperar no mercado? Será que isso faria alguma diferença para os preços do petróleo e da gasolina nos EUA?
Aumento da produção da Arábia Saudita não compensaria a baixa produção da Opep+
Em maio, o volume total de petróleo produzido pela Opep+, se todos os membros estivessem extraindo o máximo permitido por suas cotas, teria sido de 40,371 milhões de barris por dia (mbpd). (Isso não inclui o Irã, a Venezuela e a Líbia, que estão isentos de suas cotas).
Mas a Opep+ não produziu esse volume permitido. Sua oferta foi de apenas 37,6 mbpd, um déficit de 2,616 mbpd, segundo a S&P Global Platts. A Arábia Saudita produziu 10,45 mbpd em maio, ou seja, 99.000 bpd abaixo da sua cota.
Mesmo que os sauditas aumentassem sua produção em 1 mbpd (como é capaz de fazer), esse aumento de oferta não compensaria o déficit incorrido por outros membros do cartel.
A Arábia Saudita pode, de fato, aumentar a produção?
A Aramco (TADAWUL:2222) pode aumentar sua produção petrolífera a uma taxa de 12 mbpd e manter esse nível por um ano, caso o governo saudita assim o determine.
Essa é a chamada Capacidade Máxima Sustentada (CMS), que a petroleira estatal deve alcançar prontamente por força de lei. A Aramco está trabalhando para aumentar sua CMS para 13 mbpd, mas isso ainda demorará vários anos.
Em abril de 2020, a Aramco produziu 12 mbpd, embora não tenha mantido essa taxa nem mesmo por dois meses.
A questão não é saber se a Arábia Saudita tem a capacidade para produzir mais petróleo, mas se deseja fazê-lo. A marca de 12 mbpd pode gerar estresse em seus campos petrolíferos e colocar o país em desvantagem estratégica, ao eliminar sua capacidade ociosa usual, devendo haver, portanto, uma boa razão para que o país eleve sua produção até sua CMS.
Mais petróleo saudita faria alguma diferença?
É pouco provável que a Arábia Saudita encare a atual situação como uma razão plausível para aumentar sua produção até a CMS, mas, ainda que o faça, isso só elevaria a oferta do mercado em 1,55 mbpd.
Se a Arábia Saudita decidir aumentar sua produção para 11,6 mbpd, que é a atual produção dos EUA, adicionaria mais de 1 mbpd à oferta mundial.
A atual estimativa da EIA, agência de informações energéticas dos EUA, mostra que a oferta e a demanda mundiais de petróleo são basicamente equivalentes neste momento (cerca de 100 mbpd cada). Em vista desse equilíbrio, qualquer distúrbio no mercado, como as sanções ao petróleo russo, poderia provocar um aumento dos preços, porque não há mais oferta disponível para compensá-lo.
Como a produção russa foi impactada em mais de 1 mbpd, é pouco provável que um aumento de oferta de 1 ou 1,5 mbpd por parte da Arábia Saudita seja suficiente para reduzir os preços de forma significativa.
A geopolítica de toda a situação
O governo Biden tentou demonstrar, desde o início, um posicionamento rígido com monarquia saudita, em claro contraste com as relações estreitas que o governo Trump procurou manter com a liderança da Arábia Saudita na maior parte do tempo.
Agora, a Casa Branca está recorrendo a Riad aparentemente desesperada por ajuda. Na primeira vez em que se aventou a possibilidade de Biden viajar à Arábia Saudita, há algumas semanas, o governo a negou.
A expectativa é que os sauditas imponham condições duríssimas aos americanos. Caso a Arábia Saudita acabe concordando em aumentar a produção para ajudar Biden politicamente, certamente exigirá algo em troca.
Pode ser que esse “algo” não seja anunciado imediatamente, mas podemos ter certeza de que isso vai acontecer, caso um acordo seja fechado.
Há muitas razões para que os preços do petróleo continuem elevados, como as restrições nas refinarias norte-americanas, a hesitação dos EUA em apoiar a indústria de petróleo e gás e seus financiadores, além do sentimento negativo em torno da Rússia, da inflação e da pura especulação.
Dessa forma, é improvável que, mesmo que a Casa Branca sob Biden consiga fazer os sauditas produzirem mais em troca de algum favor, os consumidores vejam qualquer alívio em relação aos preços nas bombas de combustível.
A Arábia Saudita não é a resposta para os problemas políticos de Biden. Para isso, ele terá que olhar mais perto de casa.
Publicado originalmente em inglês em 16/06/2022