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Pílula Azul ou Vermelha?

Publicado 19.06.2018, 12:19
Atualizado 14.05.2017, 07:45

“She comes in colors ev’rywhere”
Keith Richards/Mick Jagger

Quando Morpheus faz a pergunta título deste texto, Neo tem de escolher entre voltar para sua vida de aparências, ilusões e tédio a partir da pílula azul ou encontrar o mundo efetivamente real – embora desconhecido – ao ingerir a vermelha. O protagonista decide conhecer a Matrix, um poderoso sistema de computadores capaz de escravizar os humanos a partir de seu controle intelectual.

Pode até parecer aventura hollywoodiana, mas é uma metáfora da própria condição humana, com analogias filosóficas bem claras. Há uma referência a “Alice no País das Maravilhas”, quando a personagem principal deve escolher entre beber o líquido azul ou o vermelho. Também se conecta com o “Mito da Caverna” de Platão, em que o homem pode viver dentro de um buraco, sem acesso à luz e à realidade das coisas. Além disso, os próprios irmãos Wachowski, idealizadores do filme, apontaram grande influência do filósofo Jean Baudrillard e de seu “Simulacros e Simulação” para a realização da trilogia.

Hoje começa a reunião do Copom. A autoridade monetária tem de escolher entre a pílula azul e a vermelha.

Alguns traders, notadamente aqueles mais com cabeça de tesoureiro, têm cobrado uma subida da taxa básica de juro pelo Banco Central. Isso seria supostamente necessário para inibir o “carry” negativo contra o real (aposta no diferencial de juros entre outros países emergentes e o Brasil) – com rendimentos mais atraentes lá fora, seria muito fácil apostar contra o real e os juros brasileiros, de tal sorte que, diante do fluxo infinito dos arbitradores internacionais, seria inexorável uma destacada desvalorização adicional do câmbio. Tudo aconteceria ainda antes das eleições presidenciais e de uma subida ainda maior dos juros no exterior. Somando as coisas todas, o efeito na taxa de câmbio seria simplesmente explosivo. Os tais 5,30 ventilados pela SPX como um cenário de estresse virariam base. Na hora do pânico, os movimentos são sempre maiores do que conseguimos conceber a priori.

Do outro lado, estão os economistas, consensualmente esperando manutenção da taxa Selic na reunião iniciada nesta terça-feira. Apoiam-se na literatura acadêmica clássica e nas declarações do próprio Banco Central, que sistematicamente tem procurado separar a política monetária da cambial. De acordo com o livro-texto ortodoxo, a autoridade monetária deve utilizar do instrumento “taxa de juro” para combater os efeitos secundários de uma depreciação cambial. Ou seja, quando o repasse do câmbio mais desvalorizado começa a se difundir por toda a economia, afetando as metas de inflação.

Como neste momento nem mesmo os efeitos primários estão claros e, pragmaticamente, o dólar não está tão mais alto na comparação com a última reunião do BC (mesmo sob influência da pesada medicação dos swaps), os economistas projetam manutenção da Selic. Com efeito, a hipótese de elevação do juro básico, antes consensual entre os traders, tem diminuído nas últimas sessões – o mercado chegou a embutir um incremento de 0,40 ponto percentual nas cotações dos juros futuros, e agora a curva indica uma probabilidade de 60% para manutenção da Selic.

Bom, dado que o Banco Central tem enfaticamente sinalizado sua intenção de manter a Selic neste momento, podemos esperar um aumento de juro amanhã. Nosso BC se comunica com a habilidade de um canarinho novo. Como diria o baixinho Romário, calados são poetas.

Brincadeiras à parte, parece mais provável a manutenção da Selic, o que indica haver certo prêmio na parte mais curta da curva de juros e justifica um posicionamento em prefixados neste momento. Mas, sinceramente, não estou aqui para fazer previsões sobre a decisão do Banco Central.

Vejo bons argumentos para os dois lados. Embora queiram dar à decisão de política monetária um contorno absolutamente científico, como se houvesse um caminho ótimo e perfeito a ser seguido, o fato é que se trata apenas de uma escolha, tomada num ambiente de incerteza e de informação imperfeita.

Como diria o prêmio Nobel de Economia Chorão: “Cada escolha, uma renúncia, isso é a vida”. Não há o certo. A vida de um banqueiro central não é diferente da minha ou da sua. Toma-se um caminho apenas achando ser o mais apropriado, ganham-se algumas coisas, perdem-se outras. Vai saber o que era certo mesmo?

Aqui, trata-se apenas de qual postura o Banco Central quer adotar, sendo que o sucesso depende de fatores exógenos e alguns deles totalmente aleatórios.

Se ele conseguir conter a pressão sobre o câmbio sem colocar um estoque tão grande de swaps e sem precisar queimar muitas reservas, então ótimo. A questão é que ninguém sabe disso neste momento. Essa dinâmica depende muito mais do abrandamento da crise sobre os mercados emergentes do que propriamente dos esforços do BC.

Ou seja, se a tensão externa for meramente transitória, provavelmente ele conseguirá impedir uma disparada do câmbio sem precisar de um choque no juro. Já se a pressão sobre emergentes continuar, então precisaremos subir a Selic.

O que, no meu entendimento, ele não pode fazer de jeito nenhum neste momento?

Dar um pequeno aumento na Selic. Se for para mexer, precisa de um choque de 1,5 a 2 pontos percentuais. Se ele subir 25 ou 50 pontos, não vai resolver em definitivo o problema do “carry” e o mercado vai pedir mais, confundido pela comunicação novamente truncada. É capaz, inclusive, que intensifique a desvalorização cambial se assim agir.

Note que um choque grande na Selic neste momento mergulharia a economia em definitivo, provavelmente levando-nos a um cenário de “double dip”, que é talvez a maior preocupação neste momento. Isso é mais um reforço em prol da manutenção da Selic.

Seja como for, parece haver uma espécie de âncora brasileira, o tal 1% ao mês sem tanto risco. O investidor pode procurar por aí que encontra opções de renda fixa que voltam a pagar essa atrocidade – cobertas pelo FGC, parece fazer bastante sentido.

Mercados iniciam a terça-feira sob elevada aversão a risco. Preocupam-se com recrudescimento da batalha comercial entre EUA e China, após Donald Trump ameaçar taxar em 10% mais 200 bilhões de dólares em produtos chineses. Commodities recuam com vigor, em especial minério de ferro, levando mineradoras a destaque de baixa na Europa.

Agenda doméstica traz, além do início da reunião do Copom, dois indicadores de inflação. Prévia do IGP-M apurou alta de 1,75%, um pouco acima do esperado, enquanto IPC-Fipe avançou com alimentos e transportes. Nos EUA, temos dados de moradias. Toda a atenção, porém, está no temor com a guerra comercial.

Ibovespa Futuro cai 1,7%, juros futuros avançam e dólar sobe contra o real, em dia de aversão a risco generalizada.

Para levantar os mercados brasileiros, parece que precisaremos recorrer à pílula azulzinha.

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