BPAN4: Banco Pan salta +20% após proposto do BTG; este modelo antecipou movimento
Você já se perguntou por que algumas negociações parecem fluir naturalmente, enquanto outras travam mesmo quando os números fazem sentido? Ou por que as emoções tantas vezes sabotam decisões racionais no mercado de investimentos? A resposta pode estar além das planilhas: no modo como pensamos, sentimos e nos comunicamos.
Já escrevi neste espaço sobre valuation, estratégias de portfólio e tendências em M&A, mas hoje gostaria de compartilhar algo diferente: a Programação Neurolinguística (PNL). Recentemente, participei de um curso de Practitioner com a Tami Lopez, da Vertta Desenvolvimento Humano. A experiência me fez refletir sobre como padrões mentais e de linguagem impactam não apenas resultados de negócios, mas também o bem-estar e a clareza de quem toma decisões sob pressão.
A PNL surgiu nos anos 1970, com Richard Bandler e John Grinder, e reúne técnicas práticas para observar como estruturamos pensamentos, emoções e linguagem. A partir dessa observação, busca oferecer maneiras de modificar crenças limitantes, ampliar habilidades de comunicação e tomar decisões mais conscientes.
É importante destacar: a PNL não é uma ciência exata nem um atalho para o sucesso. Não substitui auditorias, análise de múltiplos ou experiência prática. Seu valor está em ser um complemento — um conjunto de ferramentas para lidar com aspectos humanos que, muitas vezes, decidem o rumo de um negócio ou de um investimento.
Nosso setor costuma colocar os números no centro: fluxos de caixa, taxas de desconto, margens de EBITDA. Esses elementos são cruciais, mas não suficientes. Quem já participou de uma negociação de venda de empresa ou de uma rodada de captação sabe que o fator humano pesa tanto quanto a matemática.
Um fundador pode recusar uma proposta financeiramente justa por não sentir confiança no comprador. Um investidor pode se desfazer de uma posição rentável por pânico diante da volatilidade. Uma integração pós-fusão pode falhar por desalinhamento cultural, mesmo com teses estratégicas sólidas.
É nesse espaço, entre o racional e o emocional, que a PNL pode trazer contribuições práticas.
Exemplos práticos em investimentos
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Gestão emocional em crises de mercado
Imagine um investidor assistindo a uma queda abrupta do mercado em meio a turbulências políticas. O impulso natural é vender rápido. Técnicas de ancoragem — associar estados emocionais positivos a gatilhos específicos — ajudam a resgatar calma e disciplina, reduzindo decisões precipitadas. -
Reformulação de metas financeiras
Muitos investidores pensam em termos negativos (“não quero perder dinheiro este ano”). A PNL sugere mudar o foco para o que se quer (“quero superar o CDI com risco controlado”). Essa simples mudança de linguagem altera a postura mental e fortalece o compromisso com a estratégia. -
Ressignificação de perdas
Perder dinheiro em um ativo costuma gerar frustração ou paralisia. A PNL propõe ressignificar: em vez de “fracassei”, pensar “paguei por um aprendizado que me deixa mais preparado”. Essa abordagem ajuda a seguir em frente sem carregar culpa excessiva. -
Comunicação de teses de investimento
Quando um gestor apresenta uma tese a sócios ou clientes, adaptar a linguagem ao perfil predominante de quem ouve pode ser decisivo. Uns são mais visuais (preferem gráficos e imagens), outros auditivos (se conectam com explicações verbais) e outros cinestésicos (valorizam exemplos concretos). Ajustar a narrativa aumenta a clareza e o engajamento.
Exemplos práticos em M&A
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Rapport em reuniões iniciais
Nos primeiros encontros com os fundadores, a confiança é construída rapidamente — ou não. Técnicas de espelhamento de linguagem corporal e ritmo de fala (rapport) criam sintonia e reduzem resistências. -
Reframing em disputas de valuation
É comum ouvir: “Meu negócio vale 10x EBITDA porque me dediquei 20 anos a ele.” O comprador enxerga risco e oferece 6x. O reframing ajuda a transformar a discussão de “quem tem razão” em “como criamos uma estrutura que reconheça esforço e mitigue riscos”. -
Leitura de sinais não verbais
Negociações não se resumem ao que é dito. Silêncios, tom de voz ou microexpressões podem sinalizar dúvidas ou desconforto. Reconhecer esses sinais permite ajustar a abordagem em tempo real e evitar rupturas. -
Gestão emocional em processos de negociação
Em fusões, equipes vivem incertezas. A PNL ajuda líderes a comunicar-se de forma mais clara e empática, a acolher preocupações e manter a produtividade. Muitas vezes, não é o “plano estratégico” que falha, mas o modo como ele é transmitido.
A PNL não é exclusiva de grandes executivos. Investidores individuais podem se beneficiar em várias situações:
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Evitar o efeito manada: quando todos falam de cripto em grupos de WhatsApp, técnicas de dissociação (se colocar em terceira pessoa e avaliar como observador externo) ajudam a não agir por impulso.
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Planejamento de aposentadoria: visualizar-se no futuro colhendo os frutos de aportes consistentes reforça a motivação para manter disciplina em momentos de tentação de consumo imediato.
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Negociações pessoais: comprar um imóvel, discutir taxas de financiamento ou até negociar honorários com um prestador são situações em que aplicar rapport e comunicação clara pode melhorar resultados.
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Alinhamento financeiro em família: casais muitas vezes divergem em prioridades. O uso de técnicas de outcomes bem-formados ajuda a estruturar conversas e alinhar objetivos comuns.
PNL como complemento, não como solução
É essencial reconhecer os limites. A PNL não substitui auditorias, relatórios financeiros ou due diligence. Tampouco garante sucesso em negociações. O que pode oferecer é um apoio prático para lidar melhor com o fator humano: clareza sob pressão, comunicação mais empática, leitura mais precisa do outro.
Muitos negócios deixam de acontecer não por falta de fundamentos, mas por ruídos de comunicação, expectativas desalinhadas ou falta de confiança. Se a PNL ajuda a reduzir essas barreiras, já cumpre um papel valioso.
Como advisors de M&A, vivemos diariamente o equilíbrio entre o rigor técnico das análises e a subjetividade das pessoas envolvidas. O contato com a PNL me trouxe a consciência de que, em última instância, negócios são feitos por pessoas, e compreender melhor pessoas é compreender melhor os negócios. Não escrevo este artigo como quem encontrou uma resposta definitiva, mas como alguém em constante aprendizado. Para mim, a PNL não é “a solução”, e sim mais uma lente para observar a complexidade dos mercados. Uma lente que, se usada com responsabilidade, pode ajudar investidores e executivos a tomar decisões mais conscientes, humanas e eficazes.