Num curto período de tempo tivemos duas manifestações importantes no mandato do presidente Bolsonaro. A primeira delas contra os cortes de verbas na educação, especialmente a carga feita contra universidades federais. O presidente Bolsonaro deu declarações improváveis versando sobre “idiotas úteis” usados como massa de manobra. Mais recentemente reformulou dizendo ter cometido erro, quando na verdade queria falar “inocentes úteis”.
No domingo, 26 de maio, tivemos o segundo movimento importante de rua. Agora em favor do presidente e das reformas. Mas sendo usado ainda para contestar posturas do “Centrão” e do grande propagandista da reforma da Previdência (Rodrigo Maia). Houve críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e pedidos para uma operação “Lava Toga”.
A avaliação da última manifestação que Bolsonaro classificou como espontânea (nem tanto porque foi apoiada por seguidores próximos) e ordeira, acabou provocando outro deslize do presidente. Bolsonaro voltou a falar da velha política, quebrando um pouco a tranquilidade da semana anterior quando a paz esteve selada entre os três poderes.
Tudo ocorre numa semana capital para seguimento do país. As manifestações foram grandes o suficiente e espalhada para que não passe despercebida pelos três poderes. Não foi suficiente para colocar Legislativo e Judiciário “contra a parede”, no que tange ao curso das reformas, especialmente a reforma da Previdência, seguida da reforma Tributária.
Tentando colocar estritamente na perspectiva da economia, diríamos que o país atravessa fase de estagnação. Viemos de dois anos de recessão profunda. Depois passamos por mais dois anos de crescimento absolutamente pífio de pouquinho mais de 1,0% do PIB. E agora engatamos em mais um ano de crescimento semelhante aos de 2017 e 2018, ou até menos se a reforma da Previdência demorar a sair e/ou vier insuficiente.
Na nossa visão, uma economia fiscal abaixo de R$ 800 bilhões seria gastar muito capital político para pouco, e exigiria novas abordagens do pleno em curto espaço de tempo. Aparentemente, pelo que se ouve falar, essa economia estaria na ordem de R$ 600 bilhões. Se pegarmos então a renda per capita do cidadão brasileiros, ainda estaríamos cerca de 8% abaixo do pico, com o governo mais endividado, e sem potencial de investir. Aliás, os investimentos de governo estão caindo forte e essa tendência não será revertida nos próximos anos. Políticas contracíclicas pode esquecer, pois não existe margem de manobra para tal com o déficit fiscal do tamanho que está.
Então não há saída sem a reforma da Previdência, seguida de uma reforma de vulto na área tributária. Acessoriamente temos que abordar agressivo projeto de privatização de empresas, mas para que ocorra de forma bem positiva, parece ser condição imperiosa que a reforma da Previdência seja aprovada bem perto dos números que a equipe de Paulo Guedes desejaria, algo da ordem de R$ 1,2 trilhão em dez anos. Se falamos de estagnação da economia e perda de tração, temos que observar que os investidores estão em compasso de esperar do sucesso do governo em emplacar as reformas, para somente então estudar opções de investimentos.
Assim, o país não cresce e vai perdendo tração, os investimentos não correm, o desemprego permanece elevado (e até aumenta), a produção não expande, as vendas não crescem, etc. Não há outra solução que não a do governo fazer algumas concessões, trocar alguns ministros beneficiando apadrinhados do Centrão e tentar formar base de apoio mais sólida. Que fique claro o seguinte: não se trata de cooptar partidos ou entrar na velha política, mas simplesmente exercer a política que é a arte de negociar. Tudo em prol de ajustar o Brasil. Não será com enfrentamentos que conseguiremos levar avante todas as reformas necessárias para colocar a economia novamente no rumo correto e seduzir investidores locais e estrangeiros. Ações episódicas como liberar recursos do FGTS ou reavaliar patrimônios constantes de declarações e pagando impostos por isso, ajudam no curto prazo, mas mascaram os próximos anos.