O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana mais firme, alcançando 24 pontos de alta em relação à sexta-feira anterior, cravando 20.30 centavos de dólar por libra-peso no vencimento março/22, agora o primeiro mês de negociação da bolsa.
A recuperação durante a sessão de sexta-feira deveu-se à notícia do aumento da gasolina por parte da Petrobras (SA:PETR4), elevando o preço do combustível em R$ 0,1900 por litro na refinaria. O mercado percebeu que a estatal brasileira do petróleo deve continuar com a política de preços seguindo o mercado internacional, apesar das reclamações dos políticos demagogos que acham que a empresa deveria vender gasolina com base no seu custo de produção. Como se sabe, o Brasil tem muitos parlamentares com sérios problemas cognitivos.
O real se desvalorizou em quase 3.5% na semana, reproduzindo o cenário político conturbado e a perspectiva sombria de dias difíceis para a economia (inflação, crescimento do PIB, taxa de juros) em 2022. Com esse real desvalorizado (5,5150), a semana encerrou com os valores médios dos fechamentos dos contratos futuros de açúcar convertidos em reais por tonelada pela taxa oferecida pelas instituições financeiras via operações de NDF (Non-Deliverable Forward), alcançando R$ 2,580 para a 22/23 e R$ 2,429 para a 23/24. Preços altamente remuneradores.
O cenário macro também melhorou com o petróleo Brent subindo até 83.43 dólares por barril dando sustentação adicional ao etanol internamente após o reajuste da Petrobras. Vale lembrar que apesar da correção nos preços, que coloca a gasolina na refinaria (antes dos impostos) em R$ 2,9892 por litro, o valor justo tendo como base o mercado internacional de sexta-feira aponta para R$ 3,4800. Isso quer dizer que o preço tem espaço para subir 16%.
Temos argumentado nesse espaço que o petróleo no mercado internacional tem um viés de alta para o próximo ano, em especial quando se aproximar o verão no hemisfério norte, o primeiro após as restrições de distanciamento e a proibição de viagens e, contando que grande parte da população esteja vacinada. O turismo vai explodir com a retomada das viagens domésticas e internacionais. Adicione a isso o possível quadro de volatilidade da moeda brasileira por conta das eleições presidenciais de 2022. Esse quadro nos leva a acreditar que o etanol poderá ter melhor rentabilidade no início da safra do ano que vem (que vai começar mais tarde) do que o açúcar.
Cada vez mais executivos da área agrícola das usinas acreditam que a próxima safra de cana no Centro-Sul não deve ultrapassar os 550 milhões de toneladas. Previsões com tamanha antecedência costumam ser o caminho mais curto para a completa perda de credibilidade por conta de quem as faz. No entanto, o histórico e as agruras passadas este ano por conta da seca, incêndios, geadas e sabe-se mais lá o que, parecem fazer com que essas previsões sejam factíveis.
Por outro lado, o consumo de combustível continua se recuperando. Os números publicados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) mostram que o consumo de gasolina equivalente acumulado nos últimos doze meses (de setembro de 2020 até agosto de 2021) cresceu 3.88%, praticamente a mesma taxa anual que crescia antes da pandemia da covid-19.
Agora, veja: nossa estimativa preliminar de consumo de etanol para a safra 22/23 é de 32.3 bilhões de litros, dos quais temos que descontar 3.3 bilhões de litros do etanol de milho, assim vamos precisar de 29 bilhões de litros para o mercado interno mais 2.5 bilhões de litros destinados à exportação. Esse total de etanol vai demandar uma quantidade de cana estimada em 371 milhões de toneladas. Se o Brasil (Centro-Sul e Nordeste) produzir 590 milhões de toneladas, vão sobrar apenas 219 milhões de toneladas para a produção de açúcar.
Ora, considerando a ATR média dos últimos anos, a produção de açúcar no Brasil para o próximo ano seria de – no máximo – 30.7 milhões de toneladas, volume insuficiente para atender o consumo interno e as exportações que, pelo nosso cálculo preliminar, somam 35 milhões de toneladas.
Ainda bem que a Índia exportou 7.2 milhões de toneladas de açúcar na safra 20/21 que acabou de encerrar no final de setembro. O mundo não vai ficar sem açúcar para consumir. E também, acreditamos, que a Índia não vai se limitar ao teto de 6 milhões de toneladas de açúcar para a exportação nessa safra 21/22 que se iniciou agora em outubro. Vai continuar aproveitando os preços remuneradores que assistiu nos últimos meses em NY e que incentivaram as empresas a fazer algo que nunca haviam feito antes: fixar preços de açúcar antes mesmo de produzi-lo.
Em contrapartida, a explosão nos preços do gás natural vai afetar o custo de produção de açúcar de beterraba e a competitividade do açúcar europeu. Ou seja, existem vários pontos positivos e negativos ligados aos fundamentos do açúcar que nos parecem se neutralizarem, mas estão longe de ser baixistas.
A associação de todos esses elementos e fatores colocam um nível psicológico de suporte nesse mercado. Se nós vimos, logo após a pandemia, o mercado futuro de açúcar em NY derretendo para inacreditáveis 9.05 centavos de dólar por libra-peso, acreditamos que o suporte hoje deve ser o custo médio de produção do Brasil que está ao redor de 13 centavos de dólar por libra-peso.
Mas – e sempre tem que haver um “mas” – nunca podemos esquecer que é exatamente quando estamos confortáveis com as coisas, que aparece algum evento imprevisível e nos leva de roldão fendo-nos remoer e concluir: “por que eu não pensei nisso antes?”.