Por que o crédito do agro não chega ao pequeno e médio produtor?

É um cenário que parece contraditório, mas é a realidade de muitos pequenos e médios produtores rurais brasileiros: a oferta de crédito para o agronegócio nunca foi tão grande, mas o acesso a esses recursos continua sendo um desafio. Enquanto grandes players do setor conseguem levantar bilhões no mercado de capitais, o produtor que é a base da economia do país ainda enfrenta barreiras para financiar sua safra ou seus investimentos.

Afinal, se há tanto dinheiro disponível, por que ele não chega na ponta da cadeia produtiva?

A resposta para essa pergunta está em dois pontos essenciais, que se cruzam e criam um paradoxo: de um lado, a forma como o mercado financeiro enxerga e analisa o agro; de outro, a necessidade crescente de profissionalização na gestão e governança por parte dos produtores.

1. O Cenário Atual: Por que a maior parte do crédito estruturado via mercado de capitais flui para grandes produtores do agronegócios?

Por muito tempo, o financiamento do agronegócio foi dominado pelo crédito rural subsidiado, principalmente via Plano Safra. Esse modelo de "crédito de balcão" se baseia em uma relação direta entre o produtor e a instituição financeira, com regras e prazos específicos.

No entanto, com a escassez de recursos públicos e a ascensão do mercado de capitais como fonte de financiamento, a lógica do jogo mudou. O mercado passou a ser a principal fonte de recursos para o agronegócio, mas ele opera com uma mentalidade diferente da do crédito rural tradicional.

A análise de risco de uma empresa de serviços, por exemplo, não se aplica à realidade de uma fazenda. O ano fiscal que termina em 31 de dezembro não reflete o ciclo da safra, que se estende por mais meses. Além disso, a cultura de alta alavancagem, onde o produtor reinveste cada centavo na fazenda, é vista com cautela por analistas que não entendem a rentabilidade e o modelo de negócio único do setor.

Esse "desalinhamento" entre a forma como o mercado financeiro opera e a realidade do campo faz com que a maior parte dos recursos flua para grandes corporações do agronegócio, que já possuem a estrutura e os relatórios financeiros que o mercado de capitais exige.

2. O Desafio para o Pequeno e Médio Produtor: Quais são os principais obstáculos que impedem o P&M produtor de acessar esse tipo de crédito?

É aqui que entra o grande desafio do pequeno e médio produtor. A questão não é sobre a competência em produzir, mas em gerir o negócio com a mesma eficiência que se tem na lavoura. O mercado de capitais não olha o produtor, ele olha o negócio.

Para o produtor que está acostumado com a dinâmica do Plano Safra, o mercado de capitais pode parecer um universo distante e complexo. Os instrumentos de financiamento, como o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) e o FIAGRO (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas do Agronegócio), exigem um nível de organização e transparência que muitos produtores ainda não possuem.

A Cédula de Produto Rural (CPR), por exemplo, é um instrumento de crédito que o produtor já conhece. Ele basicamente antecipa a venda da sua produção para ter dinheiro em caixa. É um acordo entre poucas partes — o produtor, o comprador (que pode ser uma trading, por exemplo) e, muitas vezes, um banco. A relação é direta e baseada na confiança e na produção futura.

Já os instrumentos do mercado de capitais, como o CRA e o FIAGRO, operam em uma lógica diferente. Eles não são uma negociação entre poucas partes, mas sim um "pacote" de títulos de dívida que é vendido para uma grande quantidade de investidores. Para convencer esses investidores, que muitas vezes não têm familiaridade com o dia a dia do campo, o produtor precisa mostrar uma estrutura de governança e gestão financeira que garanta a segurança do investimento. Isso exige dados auditados, relatórios transparentes e a separação clara das finanças do negócio da vida pessoal. É uma mudança de escala e de mentalidade: de um acordo de confiança para uma operação de mercado com a chancela da transparência e da governança.

3. As Soluções: Que caminhos podem ser explorados para superar essas barreiras e profissionalizar a gestão financeira no campo?

A boa notícia é que o caminho para superar essas barreiras não é complexo, mas exige uma mudança de mentalidade. O produtor precisa assumir o papel de gestor e se cercar das ferramentas e do conhecimento necessário para essa jornada. E, nesse processo, a figura do assessor de investimentos especializado no agronegócio emerge como um parceiro fundamental.

O assessor não é apenas um "vendedor de produtos financeiros", mas um consultor que entende tanto a dinâmica do campo quanto a linguagem do mercado. Sua função é desmistificar o mundo do CRA e do FIAGRO e, principalmente, preparar o produtor para acessá-lo.

Ele atua como um vetor de profissionalização, ajudando o produtor a:

• Organizar a gestão financeira: Separar as contas da fazenda das contas pessoais e começar a enxergar o fluxo de caixa com a mesma atenção que se dá à lavoura.
• Estruturar dados e informações: Traduzir a realidade da fazenda em relatórios e documentos que o mercado financeiro exige, como balanços patrimoniais e projeções de safra.
• Gerenciar riscos: Elaborar estratégias para mitigar riscos inerentes à atividade, como flutuações de preços e eventos climáticos, tornando o negócio mais atraente para o investidor.

Essa parceria representa o primeiro passo para que o pequeno e médio produtor passe de tomador de crédito tradicional para um player estratégico no mercado de capitais.

Conclusão

O agronegócio brasileiro é a força motriz da nossa economia, e a profissionalização do pequeno e médio produtor é a chave para destravar seu potencial máximo. Ao adotar a governança e a gestão financeira como pilares de seu negócio, o produtor não apenas se habilita para as novas fontes de crédito, mas também ganha em eficiência, rentabilidade e segurança para o seu negócio e para sua família. O acesso ao mercado de capitais é o reconhecimento de que, mais do que produtores, eles são empresários do campo, e seu sucesso é o sucesso do Brasil.

Quem entende o agro, entende o futuro.

Bons investimentos.