*Com Allan Fonseca Beida
A caderneta de poupança ainda é o investimento mais comum entre os brasileiros. Segundo pesquisa realizada em 2023 pela ANBIMA, em parceria com o Datafolha, ela está presente em 68% das carteiras de investidores no país. Mesmo com os esforços da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e das corretoras para diversificar o perfil do investidor brasileiro, a poupança segue firme. Essa popularidade se deve, principalmente, à sua simplicidade, segurança e liquidez imediata. No entanto, sua rentabilidade real tem sido cada vez mais questionada, especialmente quando comparada a alternativas de renda fixa e variável.
Mas será que a poupança ainda é uma escolha que vale a pena? Para responder a essa pergunta, é importante entender como ela funciona, como é tributada e, por fim, analisar sua viabilidade estratégica.
A poupança é um tipo de investimento oferecido por instituições financeiras e regulamentado pelo Banco Central do Brasil. Seu funcionamento é simples: o investidor deposita valores em uma conta poupança e recebe rendimentos periódicos sobre esse montante. A rentabilidade da poupança varia conforme a taxa Selic. Quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, o rendimento é composto pela Taxa Referencial (TR) + 0,5% ao mês, o que equivale a cerca de 6,17% ao ano, atualmente. Já quando a Selic está igual ou abaixo de 8,5%, o rendimento passa a ser TR + 70% da Selic.
A TR, criada em 1991, serve como referência para correções em contratos financeiros e influencia diretamente a rentabilidade da poupança, do FGTS e de financiamentos imobiliários. Contudo, ela tem se mantido próxima de zero nos últimos anos, impactando pouco os rendimentos finais. Os juros da poupança são creditados mensalmente, sempre na mesma data do depósito. Se o resgate for feito antes dessa data, o valor aplicado não rende.
Um dos grandes atrativos da poupança é a segurança. Os depósitos contam com a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que cobre até R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira. Além disso, para pessoas físicas residentes no Brasil, os rendimentos da poupança são isentos de Imposto de Renda (IR) e de IOF. Contudo, devem ser informados na declaração anual: os saldos vão na ficha "Bens e Direitos" e os rendimentos isentos, na ficha "Rendimentos Isentos e Não Tributáveis". Já para pessoas jurídicas e não residentes, a regra é diferente: os ganhos estão sujeitos à tributação.
Apesar da simplicidade e da segurança, a rentabilidade líquida da poupança costuma ser inferior à de outros investimentos conservadores, especialmente em períodos de juros elevados. Uma simulação ajuda a ilustrar isso: considerando um investimento de R$ 10.000,00 ao longo de dois anos, com base em dados de março de 2025, temos os seguintes resultados. Na poupança, com Selic acima de 8,5%, o rendimento seria de aproximadamente 6,17% ao ano, resultando em R$ 11.274,00 ao final do período. Um CDB que pague 100% do CDI, considerando a Selic em 14,25% e tributação regressiva de 15%, renderia cerca de 12,11% ao ano, totalizando R$ 12.566,00. Já o Tesouro Selic 2027, com rendimento bruto similar ao CDI e considerando o desconto de IR e taxa de custódia da B3 (BVMF:B3SA3) (0,2% ao ano), apresentaria um rendimento líquido de aproximadamente 11,91% ao ano, o que resultaria em R$ 12.520,00.
A diferença pode ultrapassar R$ 1.200,00 em dois anos — um rendimento até 25% inferior para quem permanece na poupança. Essa comparação evidencia que, embora a poupança ainda possa ser uma opção válida para quem valoriza liquidez, simplicidade e segurança institucional, ela não é a escolha mais eficiente para objetivos de médio e longo prazo.
A poupança continua exercendo um papel importante no mercado financeiro brasileiro, especialmente para quem está começando a investir ou busca baixo risco e praticidade. Sua isenção de tributos, liquidez diária e proteção pelo FGC são vantagens reais. Por outro lado, como vimos, sua rentabilidade deixa a desejar frente a alternativas conservadoras como o CDB ou o Tesouro Selic, principalmente em cenários de Selic elevada. Mesmo com a incidência de impostos, essas opções tendem a entregar melhores retornos no longo prazo. Por isso, conhecer o funcionamento da poupança e entender suas limitações é essencial para que o investidor tome decisões mais conscientes. Sempre que possível, vale considerar a migração de parte dos recursos para produtos com melhor retorno ajustado ao risco.
*Estudante de Administração do Ibmec Rio, membro da Liga de Mercado Financeiro do Ibmec Rio (Cemec) e Estagiário Financeiro do Grupo Cyrela (BVMF:CYRE3)