Muito se tem falado que 2016 já é quase passado e que o foco, ainda com alguma contestação, é 2017 para que a economia brasileira possa iniciar sinais de planejamento de desenvolvimento, isto se a deterioração da atividade econômica for atenuada e não ocorrer reflexos maiores negativos no cenário de fluxos de recursos estrangeiros para o país.
A crise econômica que envolve o Brasil ainda tem muito a evoluir negativamente, pois encerramos 2015 sem vislumbrar perspectiva que sugira a solução do complexo caos em que foi envolvida toda atividade do país, e mais, com a forte convicção de que em 2016 o PIB será negativo novamente, na mesma linha de perda de dinamismo da atividade industrial, e com agravantes consequentes como aumento do desemprego, perda de renda e capacidade de consumo.
A inflação continua voraz, forte e além da forte contribuição dos ajustes magnânimos dos preços administrados, os preços livres vêm sendo reajustados levados pela tendência e impactando forte na população, que se vê na contingência de reduzir consumo, antes mesmo que perder o emprego de forma mais expressiva como deve acontecer em 2016, e ainda sem sensibilizar os fornecedores.
As projeções atuais do Boletim Focus parecem mais indutoras a conter a visão negativa que se projeta com fundamentos para o ano de 2016, do que contributivas ao planejamento por parte de toda a sociedade.
Neste ano de 2015 devemos ter inflação pelo IPCA de quase 11%, então quando se observa projeção de 6,70% para 2016 cabe certamente a ilação de que a recessão/estagnação da atividade econômica será muito intensa, pois reduzir 1/3 da inflação de um ano para o outro quando já se pratica juro SELIC de 14,25% clamando por nova alta, é algo bastante fora do contexto. Nada sugere ainda que 2016 não repita 2015, com um quadro de crise social mais acentuado.
Da mesma forma, temos uma projeção para o preço do dólar em 2015 em torno de R$ 4,00 que é efetivo e coerente com o “status quo” do país. Contudo, projetá-lo em R$ 4,20 para 2016 é ignorar o risco iminente de o país sofrer um “downgrade” por parte das agências de rating, passando imune após o déficit fiscal de R$ 120,0 bilhões em 2015, que obrigaria a saída de recursos relevantes do país e, na margem, ainda há o risco de elevação do juro americano agora no próximo dia 16 ou logo ao início de 2016, sem contar com a já instalada baixa atratividade do país frente a investidores estrangeiros.
Preço razoável do dólar para 2016, considerando as perspectivas atuais e a continuidade dos baixos investimentos por parte do setor produtivo e a persistência da baixa atratividade do país, sugere ser R$ 5,00, até mesmo que ocorra significativa queda, decorrente da inanição da atividade econômica, do déficit em transações correntes, que tende a ficar um pouco acima dos quase US$ 40,0 Bi projetados para 2016.
Projeções negativas para o PIB e para a produção industrial estão em linha com a tendência, embora seus números possam ser agravados.
O crescimento da projeção para a Dívida Liquida do Setor Público de 35,56% em 2015 para 40,00% em 2016, deixa evidente que a Dívida Bruta, já em parâmetros preocupantes, deve se elevar e ser um dado a mais negativo a ser considerado pelos investidores estrangeiros.
O Boletim Focus, embora não tenha compromisso ou responsabilidade pelo acerto, ao aglutinar as projeções e gerar as medianas demonstra que os participantes têm opiniões diferentes quando perguntados a parte da enquete, e desta forma, perde força contributiva para a formulação das diretrizes de gestão das empresas em 2016.
Afinal, com um contexto em perspectiva bastante desfavorável no contexto de fatos e eventos possíveis de impacto negativo nos fluxos cambiais, além das perspectivas existentes sobre o desempenho da economia brasileira em 2016, projetar o dólar ao final daquele ano em R$ 4,20 está notoriamente fora do ponto.
Entendemos que a complexidade do estado deletério da economia brasileira, suas poucas alternativas de solução no curto prazo e os inúmeros riscos de agravamento de conceito no mercado internacional, não sugerem projeções confiáveis, mas buscar otimizá-las sem acostá-las a fundamentos, até porque inexistem, é um erro grave e então, o informe perde utilidade como fonte.