Dificilmente alguém que investe em ações não conheça os clichês: “compre quando há sangue nas ruas”; “compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos”.
Mas a verdade é que dificilmente as pessoas colocam em prática as frases já manjadas.
O motivo?
Sempre que a bolsa está em uma alta de alguns meses, naturalmente o humor do mercado é de otimismo, e a dificuldade em vender reside na possibilidade de a alta se estender.
No início de 2021, quando a B3 (SA:B3SA3) atingia recordes seguidos de novos investidores, a taxa Selic estava no menor nível da história - 2% ao ano - e as ações batiam recorte de alta, tal como outros investimentos como as criptomoedas e captações em venture capital, parecia que o mundo só iria para frente e ninguém queria vender suas ações.
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Passados seis meses, o humor virou completamente.
Com a queda das bolsas, agora ninguém quer comprar ações.
Mas isso não faz muito sentido se considerarmos que as empresas são exatamente as mesmas de seis meses atrás. Só que agora mais baratas!
Ah, o cenário macro mudou, verdade, mas ele pode mudar novamente e as empresas continuarão sendo as mesmas. Algumas com histórias de mais de 30, 40 anos.
Imagine se as ações fossem anunciadas como as promoções do e-commerce: "Atenção! Compre a mesma empresa pela metade do preço!". Parece atraente não é mesmo?
Hoje podemos dizer que – literalmente – há sangue nas ruas e som de canhões, uma vez que a guerra na Ucrânia alastrou seus efeitos sobre todas as economias.
As sanções à Rússia fizeram explodir as já caras commodities e impulsionaram ainda mais a inflação – antes considerada efeito transitório pós covid - e obrigando países a elevarem juros a ponto de eventualmente entrarem em recessão, caso dos EUA atualmente.
O ponto é que o mercado já antecipou boa parte do risco de recessão. A bolsa americana (S&P 500) já entrou oficialmente em Bear Market – mercado do urso – com queda de mais de 20%.
Mas isso não é nada, ações de small cap promissoras com quedas superiores a 60% são fáceis de se encontrar tanto no Brasil como nos EUA.
Podemos dizer então que é um excelente momento de comprar, já que estamos ao som dos canhões.
O velho ditado diz que sim.
A prática nas ruas mostra, mais uma vez, a dificuldade de se aplicar as velhas lições.
É incrível a capacidade das pessoas de justificar altas adicionais quando a bolsa está cara e justificar pânico e queda infinitas quando a bolsa já está barata.
Quando aconselho clientes hoje, o que mais ouço é que “vai cair mais” e por isso não seria um bom momento de comprar.
Realmente é possível que tenhamos quedas adicionais no mercado, porém, meu conselho: Não tente acertar o fundo.
Tal como as ações caem antecipando cenários sombrios na economia, a retomada e a alta do mercado também acontece antes da melhora econômica, em antecipação, e aqueles que deixaram pra comprar depois normalmente perdem o bonde.
Meu conselho de hoje, após 17 anos de mercado e algumas crises é: Não ande com a manada, faça aportes regulares independentemente do ciclo e do barulho que vem das ruas.
No longo prazo, o único prazo correto para investir em ações, o mundo tende a dar certo.