Quem é o dono desta alta?
Ontem dediquei boa parte do M5M para explicar porque, na minha opinião, a trajetória positiva da Bolsa brasileira nos últimos dias está muito mais ligada a eventos externos do que às reais contribuições da nova configuração de governo (Lula/PMDB).
Interessante que as cinco altas acumuladas pelo Ibovespa coincidem com cinco altas seguidas do índice S&P, principal referência das ações norte-americanas.
Interessante também que o movimento positivo lá fora começou justamente com dados ruins do mercado de trabalho dos EUA (fundamento) e sua potencial consequência no atraso da retirada dos estímulos pelo Federal Reserve (fluxo).
Se caímos pelos fundamentos, vamos nos levantar com fluxo?
A enxurrada que está inundando os emergentes
Ainda sobre o debate acima, destaco aqui trabalho recente do FMI que aponta justamente como a enxurrada de dinheiro proveniente de um mundo de juros zerados atingiu os emergentes, explodindo o nível de endividamento das empresas desses países:
De acordo com o relatório do FMI, empresas utilizaram este fluxo de recursos relativamente “grátis” para assumir mais dívidas, em termos mais generosos. A dívida corporativa nos mercados emergentes aumentou cinco vezes em uma década até 2014, e agora está em US$ 18 trilhões, ou mais de 70% do PIB desses países.
Se teremos de lidar com um problema de US$ 12 trilhões no balanço dos Bancos Centrais globais pelos programas de injeção de estímulos, temos também um problema na explosão da dívida corporativa dos emergentes.
A diferença entre eles?
O segundo problema, corporativo, está pulverizado. Não representa, necessariamente, risco sistêmico, caso não haja uma questão mais plural de defaults em série.
Por óbvio, não podemos dizer o mesmo do problema dos BCs.
Quem quer ser um milionário?
Em um mundo (não Brasil) de dinheiro fácil e barato, pergunto-lhe...
O que é melhor, como investidor: ter muuuuito dinheiro ou pouco dinheiro para comprar ações?
Imagino a sua resposta. Mas talvez não concorde com ela...
Explico.
Estamos em um momento histórico para comprar a Bolsa brasileira.
Mesmo após cinco (seis?) altas seguidas, o Ibovespa em dólares ainda está mais barato do que o piso atingido na crise de 2008.
Porém, mesmo em ações de maior liquidez os grandes investidores dificilmente conseguem se apropriar na veia de um fundo ou topo como o atual....
... isso pois grandes montantes têm de pagar prêmio na entrada (compra) e desconto na saída (venda) das posições. Caso contrário, eles dificilmente conseguem montar posições relevantes em um mercado em geral pouco líquido, como o brasileiro.
“Aaa, mas ele pode comprar poucas ações, daí o efeito é o mesmo do que para um investidor pequeno...”
... tá, mas o efeito é desprezível em seu patrimônio como um todo.
Portanto, se você ainda for um pequeno investidor, ao invés de reclamar dessa situação, sugiro tirar vantagem.
O caixa é realmente rei?
E o que vale mais, controlar uma empresa rentável ou ter caixa aplicado no CDI?
Olhando os preços de muito ativos na bolsa hoje, a resposta é simples e direta: caixa.
Faz sentido?
Tudo bem que o CDI está em 14,25% ao ano, Mas existem muitas empresas que negociam a relações Preço/Lucro abaixo de 7x.
Ou seja: se os lucros ficarem estáveis, você tem um patamar equivalente ao CDI - grosso modo, precisaria do mesmo número de anos para “dobrar” o capital.
Exemplo prático
Itaú (SA:ITSA4) negocia a 7,4x Preço/Lucro.
Mas o banco rentabiliza seu capital acima de 20% ao ano e cresce mais de 15% a.a. Crescimento assim você não terá em seu fundo DI.
Quer dizer, mesmo com a economia em frangalhos e custos de energia e trabalhistas em alta alguns bravos gladiadores ainda lutam contra as probabilidades e produzem companhias ou modelos de negócio fantásticos.