O BC saiu do silêncio ante a escalada do preço do dólar no nosso mercado de câmbio.
Inicialmente o Diretor Aldo Mendes promoveu uma manifestação contestando o comportamento do mercado, buscando dar uma “operada verbal” para atenuar o ímpeto de depreciação da moeda nacional ante a moeda americana, mas esta atitude causa efeito psicológico não duradouro quando há fundamentos críveis impondo a escalada altista e as expectativas.
Posteriormente, o BC anunciou o aumento da oferta de rolagem de swaps cambiais para rolagem total da posição vincenda no 1º dia útil de setembro próximo, algo como 11.000 contratos diariamente.
Não nos parece que esta seja a demanda atualmente presente no mercado de câmbio, tudo indica que, desta vez, a demanda é por moeda americana disponível, consequente da intensificação de saídas de recursos do país, fato que deve se potencializar gradualmente e esta expectativa impacta na depreciação da moeda nacional.
O Brasil perdeu algo como US$ 21,0 Bi no último trimestre pelo segmento financeiro liquidamente, dos quais US$ 8,0 Bi no mês de julho recém encerrado. Evidentemente, que é de supor que, em tese, ocorreu uma queda na demanda por swaps cambiais com a saída destes recursos.
A sinalização deixada é que ocorre um deslocamento da demanda por proteção (hedge) a que se prestam os swaps cambiais e passa a pontificar a demanda por moeda estrangeira efetiva.
Aponta-se que o BC ainda detém no mercado algo como US$ 103,0 Bi em contratos de swaps cambiais, o que deixa transparecer que o estoque não foi reduzido na intensidade das saídas liquida, podendo haver um valor excedente que está simplesmente sendo mantido para especular na perspectiva fundamentada de depreciação da moeda nacional.
Portanto, a escalada de alta da moeda americana não tende a ser contida, de forma sustentável, com o aumento da oferta de contratos de swaps cambiais, o que vinha sendo evitado pelo BC, que certamente deve ter esta percepção.
Mas a autoridade precisava sair da inércia e o fez por palavras e por aumento da oferta de swaps, sendo que ambas podem não surtir efeito sobre a tendência.
No primeiro momento, um pouco por razões meramente psicológicas e muito por razões técnicas focadas em aumentar margem de ganho nas operações por parte dos adquirentes, o preço da moeda americana deve ceder, afinal no mercado de câmbio há poucos inocentes.
Os agentes são muito ágeis e rápidos focando a otimização dos ganhos. Afinal, recuar momentaneamente o preço da moeda americana amplia a possibilidade de ganho da variação cambial num ambiente de forte tendência sustentável de apreciação da moeda americana.
O Brasil tem no momento reservas cambiais no montante de US$ 370,0 Bi e os bancos, que estão gerando liquidez no mercado à vista, com posições vendidas em torno de US$ 21,0 Bi, o que tecnicamente reduz as reservas para US$ 349,0 Bi e a tendência atual é de intensificação de saída de recursos.
O fluxo cambial financeiro já está no ano negativo US$ 7,0 Bi no segmento financeiro, enquanto o comercial ainda registra saldo positivo de US$ 14,0 Bi, mas devemos considerar que ocorreram contratações de exportações “a embarcar” de US$ 13,0 Bi e há um estoque de importações à liquidar “com câmbio a contratar” de volume em torno de US$ 17,0 Bi.
Todos indicativos sugerem que o fluxo cambial evolui para a consolidação da intensificação do negativo, em especial no segmento financeiro, tendo em vista que o país está num momento de considerável deterioração da economia e fiscal, para a qual não se vislumbra reversão antes de 2018 e está entre os emergentes mais fragilizados, não despertando atratividade aos investidores estrangeiros.
Até mesmo os investidores estrangeiros especuladores tendem a ficar relutantes, pois a despeito do juro elevado focam também o conceito de risco que se agrava em relação ao Brasil e que deixa subjacente o risco de forte variação cambial. Portanto, o risco de perda é latente.
O mundo financeiro global já avalia o risco gebrasileiro como de um país sem o grau de investimento, atualmente o CDS (Credit Default Swap) do Brasil supera os 300 pontos, enquanto, em regra, os emergentes se situam em torno de 200 pontos.
O fato das agências de ratings não ter rebaixado (downgrade) o Brasil não impede a percepção de que o país já reúne as condições que o deixam à beira da ocorrência, com baixíssimas possibilidades de reversão efetiva desta perspectiva, pois a situação fiscal não sugere recuperação confortável e pode até se tornar deficitária.
Este quadro pode levar os fundos de recursos estrangeiros alocados no Brasil, sujeitos à restrição de aplicações em países detentores de grau de investimento, a antecipar a retirada do Brasil, e mesmo os demais fundos não obrigados a esta situação podem seguir o mesmo rumo dado o agravamento conceitual de risco do país.
Afinal, não é necessário que esperem acontecer para, então, retirarem os seus recursos.
Na margem, o país convive com os receios de alta do juro no mercado americano, visto que poderá motivar o deslocamento dos recursos em países emergentes para os Estados Unidos, e o Brasil encabeça a lista dos primeiros a sofrer esta debandada.
Então, o que se vê é a forte propensão à retração de ingressos e a intensificação das saídas, exigindo moeda estrangeira efetiva e não proteção de preço na forma de hedge.
O BC reluta em preservar as reservas cambiais, ultimo bastião de sua defesa de argumentação, tendo utilizado sistematicamente os bancos com posições vendidas (ancoradas ou não em linhas de financiamentos concedidas pela própria autoridade, de preferência não para não transparecer que estão substituindo o BC no papel de suprir a liquidez à vista), mas que devem ser consideradas redutoras das reservas cambiais que, em ultima instância, as garantem num ambiente em que os fluxos positivos tendem a rarear.
O Brasil, em nossa perspectiva, tende a ter acentuado o movimento de saída de recursos face ao seu contexto absolutamente desfavorável, e que certamente, direta ou indiretamente, atingirão suas reservas cambiais as reduzindo efetivamente.
O viés do preço da moeda americana é de valorização no nosso mercado e a intensidade dependerá da forma que os fatos se sucederem, cumulativamente ou isoladamente de forma gradual, devendo o BC agir para que não se instale movimentos especulativos, tendo em vista que, para a alta decorrente de intensificação de demanda, só restará dar suporte ao mercado a vista para que tenha liquidez e oferta de swaps cambiais terá baixa repercussão, salvo se houver demanda por parte dos investidores no Brasil para proteger seus ativos fixos.
É compreensível a postura do Diretor do BC, Aldo Mendes, e até o aumento da oferta de contratos de swaps cambiais para rolagem, afinal a autoridade deve agir buscando contrapor-se ao ambiente negativo, contudo, não acreditamos que obtenha resultado sustentável de contenção das pressões de elevação da apreciação da moeda americana no nosso mercado, salvo como salientamos, movimentos técnicos no preço da moeda pelos agentes de mercado com foco a maximização do ganho de variação cambial nas operações de swaps cambiais.
O contexto agora é outro, a busca deve se acentuar na demanda por moeda efetiva e não por proteção de preço, ou seja, a formação do preço da moeda americana, tradicionalmente no Brasil formada a partir do mercado futuro migrará para o mercado à vista.