O mercado financeiro em especial convive com a desconfortante sensação de que falta convicção por parte do governo para anunciar a nova equipe econômica do governo, ou mesmo, que possa estar se ressentindo de falta de apoio para fazê-lo de parte da sua base de apoio político.
Este quadro retardatário acentua o sentimento de que o governo ainda não detém um programa para o próximo mandato, com ênfase especial para revitalização da combalida economia e política fiscal amplamente deteriorada com que encerra o primeiro mandato.
Números ruins de todas as fontes ocupam o cotidiano e expõe o quanto desafiador é o quadro macroeconômico decrépito atual para sua superação.
Encerrando o primeiro mandato com crescimento em torno de zero e com política fiscal amplamente deteriorada e tendo performance negativa na balança comercial mesmo com o agregado de exportações de plataformas de petróleo da Petrobrás que nem saíram do país e prestes a consolidar um déficit em transações correntes da ordem de US$ 85,0 Bi ao final do ano, algo em torno de 3,75% do PIB, com a atividade industrial em retração e já dando sinais de desemprego e consequente queda na geração de renda, urge que o governo atual reeleito para novo mandato tivesse pronto um novo plano de governo forte o suficiente para reverter as expectativas e nomes pré-selecionados para os cargos no governo.
Os fluxos cambiais ocorridos ao longo do ano de grande monta evitaram até certo ponto a percepção da expressividade das saídas, restando muito pouco para contribuir para o financiamento do expressivo déficit em transações correntes.
Precisamos além de inúmeras ações de rigor absoluto que podem desagradar setores da economia, mudar a dinâmica da política cambial que precisa, após alguns anos, atribuir preço da moeda americana mais livremente deixando de ser apreciada por forte indução para, como coadjuvante do juro, conter as pressões inflacionárias advindas da política expansionista de má qualidade praticada pelo governo num ambiente de baixo crescimento.
O câmbio e a adequada cotação para o preço da moeda americana combinada com uma política fiscal de rigor é o recurso mais imediato que o governo reeleito terá para impulsionar a economia.
O câmbio não artificializado por indução do governo, posto a serviço da atividade econômica e não do controle inflacionário será a peça fundamental para mudar os ânimos dos investidores no parque industrial brasileiro, que poderá elevar a competitividade do produto nacional interna e externamente, na medida em que impulsionará a capacidade exportadora e inibirá a importação dos produtos concorrentes estrangeiros que invadiram o mercado nacional no processo de desindustrialização a que foi submetido o país de forma errática.
A economia brasileira precisa de medida cuja relação causa-efeito seja imediata e esta será possível via adequação realista do câmbio.
Acreditamos que com um programa forte de correções focando o realinhamento da economia brasileira, com ênfase na política fiscal, o país possa em dois anos recuperar credibilidade e atratividade.
O país têm enormes oportunidades para investimentos na infraestrutura, mas precisa ser mais ágil na idealização e execução em bases justas, focando atrair os investidores de qualidade, pois é temerário depender de capitais especulativos para financiar seu déficit em transações correntes, que deve procurar reduzir.
O câmbio com preço equilibrado posto a serviço do crescimento econômico e uma política fiscal absolutamente rigorosa poderão evitar que o país corra o risco de perda do grau de investimentos e assegurar o inicio da reversão das expectativas em relação ao país.
O Brasil registrou em outubro expressivo déficit em transações correntes de US$ 8,1 Bi, maior rombo para este mês na série histórica. A previsão do BC era de US$ 6,6 Bi. Importante destacar que houve redução nos gastos de turismo, a qual se atribuiu causa a alta do preço da moeda, mas nos parece incontestável que a intensificação da fiscalização do BC sobre as operações nesta rubrica teve peso nesta redução e terá doravante maiores reflexos.
Este contexto que é a nossa convicção sobre a perspectiva imediata de ação do governo não justifica a reação ocorrida na sexta-feira de apreciar o real, já parcialmente corrigida ontem, pois no nosso entendimento o preço da moeda americana em torno de R$ 2,60 veio para ficar e não se revela excessivo.
Dirão muitos que tudo isto está condicionado à disposição de fazer e permissão da Presidenta Dilma, mas o “status quo” é impositivo da necessidade de fazer política diferente.